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MÚSICA
As bandas juram por Jah que não, mas descobrimos que o reggae raiz jamaicano feito nos anos 70 ainda domina o estilo no Brasil
Vamos fugir
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
O reggae é um estilo único. Além da
sonoridade peculiar (som marcado
de trombone, trompete e sax tenor
no fundo, baixo elétrico proeminente na
batida de marcação, guitarra pontuando a
cadência e vocais com grande destaque), o
gênero ultrapassa os limites sonoros.
Afinal, é um tipo de estilo que tem cores
(verde, vermelha e amarela), penteado (cabelos com dreadlocks) e a preferência por
temas específicos (letras que fazem protesto contra diferenças sociais, que celebram
elementos da natureza e que defendem o
consumo da "ganja" -maconha- como
um dos princípios da religião rastafári).
Essas características típicas do reggae original jamaicano, conhecido como "reggae
roots" (raiz), mostram, por meio de indícios bem claros -todos presentes na enxurrada recente de lançamentos dessa música que agrada principalmente aos adolescentes-, que a Jamaica dos anos 70 nunca
vai deixar de estar na música de grupos
brasileiros que fazem reggae hoje.
Mas, como ninguém quer ser chamado
de enraizado, boa parte dos artistas tenta
de todo modo fugir do rótulo reggae raiz.
Por exemplo, que tipo de estilo segue
uma banda chamada "Planta e Raiz"? Não
precisa ser gênio para deduzir. Mas, segundo o vocalista, o paulistano Zeider, não é
bem assim. É mais ou menos assim.
"Hoje em dia a galera tem estereotipado
muito. Reggae é reggae, mas existem ramificações. A nossa é o reggae popular brasileiro, cuja principal influência é o raiz. Na
real, é o reggae raiz, mas como a gente não é
jamaicano e tem outras influências musicais, acaba fazendo um raiz brasileiro, que
não é igualzinho ao que faziam há 30 anos.
É um "roots" contemporâneo", explica Zeider, que acaba de lançar um DVD ao vivo.
"O nosso principal público tem entre 13 e
25 anos e curte o reggae por ser um som de
jovem para jovem. Eu curto reggae desde
os 12 anos: Bob Marley, Alpha Blond, Aswad e Steel Pulse", conta o vocalista, citando exemplos de clássicos do "roots".
Ele considera a música que faz mais que
um simples estilo musical. "O reggae é mais
que música. Para muitos, é até religião. Para mim, é um veículo de mensagens espirituais, mas não chega a ser religião. Para os
rastafáris, o reggae é um tipo de louvor."
O guitarrista Ras André Sampaio, da
banda carioca Ponto de Equilíbrio, é rastafári e portanto o reggae é religião. O grupo
acaba de lançar o disco "Reggae a Vida com
Amor" (título mais "roots" impossível),
mas, segundo ele, a banda faz mais que raiz.
"Nos dias de hoje, participamos de um
movimento que busca elementos das raízes
culturais, tanto brasileiras quanto as que
formaram o reggae jamaicano. Fazemos
uma mistura com elementos da nossa cultura, como o samba e a capoeira angola, e
ritmos que deram origem ao reggae."
Ele acha que a juventude precisa de estímulo, de letras positivas. "Nossas músicas
são inspiradas na natureza. Precisamos de
momentos com a natureza. Toda banda de
reggae tem alguma letra que fale disso."
André afirma que o Ponto de Equilíbrio
não se propõe a fazer um reggae roots jamaicano, como tudo leva a crer.
"Há bandas que tendem a botar essa roupagem jamaicana. Mas soa mais autêntico
tentar fazer uma coisa nossa. Se o que fazemos é parecido com o raiz? É, mas você
percebe que tem elementos não só dele."
O guitarrista vê que hoje há uma certa banalização do reggae: basta um artista gritar
"Jah" que o público logo responde "rastafári". "Cada um faz uso das palavras como
quer. Para gente é muito sério", diz André,
que evita falar de maconha nas letras.
"A gente não faz nenhum tipo de apologia. Alguns integrantes usam de forma religiosa. Mas é tão sério que a gente nem comenta. Há muita gente que vai ao show só
para fumar "unzinho", e aí acaba que a maconha vira mais uma droga. Se falamos de
"ganja" nas letras, é de modo sagrado."
Ficar enraizado pode até levar à prisão,
como aconteceu com o Planet Hemp, em
1997, acusado de fazer apologia à droga.
"Há muita banda de reggae que não prega
o consumo da maconha nas letras e até evita o assunto", explica Prata, guitarrista da
veterana Maskavo (antiga Maskavo Roots).
"Ao mesmo tempo que essa apologia ajuda a atrair público, também espanta. Muita
banda de raiz não consegue tocar em casas
de shows, pois os organizadores ficam com
medo de atrair um público que fuma maconha. Muita banda não decola por isso."
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