São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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Garotas eram aliciadas em cidades da Paraíba e do Rio Grande do Norte

A rota da prostituição de menores descoberta no Nordeste

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, a partir de denúncias, foi revelada uma nova rota de prostituição de menores que inclui as cidades de Patos, Campina Grande e João Pessoa, na Paraíba, e Natal, no Rio Grande do Norte.
Em agosto do ano passado, começaram a surgir os primeiros indícios de que, nos últimos anos, a exploração sexual de menores se profissionalizou na Paraíba, especialmente no eixo Patos-Campina Grande.
A adolescente Ane (nome fictício), 16, aliciada aos 11 anos em Campina Grande (a 139 km de João Pessoa), revelou o esquema de uma mulher, citada como Joseísa, que agenciava menores para trabalhar em um bar em Recife.
As meninas eram levadas em vans, que tinham como ponto de partida o centro da cidade de Campina Grande. Ane contou que, de Recife, meninas foram enviadas para a Europa para trabalhar como prostitutas.
Além do esquema, Ane relatou que havia uma rede de aliciadores encarregada de arrumar meninas entre 12 e 15 anos para o que chamou de "figurões": políticos, empresários e juízes.
Quase todas as meninas, ouvidas na Câmara Municipal de Patos, informaram ter feito programa com dois vereadores da cidade.
Um dos entraves às investigações é justamente o suposto envolvimento de autoridades com garotas de até 14 anos.
Para aprovar o relatório da CPI da Prostituição realizada em 1997, o relator, o deputado estadual Luiz Couto (PT), foi obrigado a suprimir 33 das 99 páginas originais. O material eliminado identificava nomes de políticos, empresários e juízes que teriam praticado sexo com adolescentes.
As informações da CPI provocaram um inquérito policial que acabou arquivado após o depoimento das garotas, quando elas identificaram os seus clientes.
O deputado estadual ainda responde a sete processos judiciais por calúnia e difamação em razão de ter divulgado na íntegra o relatório na internet.
O governo federal tem programas de combate ao turismo sexual, que envolve crianças e adolescentes em Recife (PE) e Fortaleza (CE). A recém-descoberta "rota de Patos" comprova suspeitas levantadas em 1997, quando foram feitas as primeiras denúncias de prostituição infantil no Estado da Paraíba.
A diferença é que, há cinco anos, os casos de exploração sexual de adolescentes -que foram alvo de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) estadual- ocorriam de forma isolada em Patos, Campina Grande, Boqueirão, João Pessoa e cidades próximas.


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