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Sem as pernas, triatleta diz que correr é como andar nas nuvens
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, 21,
sempre foi o Pauê, típico garoto de
praia, cabelo parafinado, conhecido por
todos na rua. Duas vezes por semana,
pedala de 40 km a 60 km e nada todos os
dias mais de 3 km. Até aí, normal, não
fosse o fato de não ter as duas pernas.
Foi como num filme. Em junho de
2000, aos 18 anos, a caminho da academia, uma locomotiva que passava indevidamente por uma linha desativada,
próxima à sua casa, em São Vicente (litoral de SP), atingiu-o em cheio, arrastando seu corpo por alguns metros. As
duas pernas, que ficaram para fora dos
trilhos, foram amputadas na hora.
"A única coisa em que eu pensava era
viver. Não fiquei pensando nos males
que tinham acontecido. Já sabia que tinha perdido as pernas e só via a minha
vida a partir dali. Não pensava em cair,
mas em subir."
No hospital, após conseguir sair da
UTI, foi surpreendido por um choque
anafilático que lhe causou três paradas
cardíacas e viu seu estado clínico piorar
novamente. "A sensação é a de estar
pendurado, podendo cair a qualquer
momento. Mas, mesmo com tudo indo
mal, algo me dizia para prosseguir."
Certamente foi essa força e a vontade
de estar vivo que fizeram com que Pauê,
em quatro meses, já estivesse utilizando
próteses e andando. Então, começou a
se aventurar no esporte. "Competir foi
e é a principal alavanca da minha reabilitação, foi o que me deu essa autoconfiança e me mostrou que eu posso."
Pauê voltou a surfar e, em 2002, foi
campeão mundial de triatlo entre
usuários de próteses, e o único a competir com duas próteses. "Gosto de tê-las. Elas me dão força para fazer as coisas com mais afinco."
A curiosidade não impede de perguntar como é correr sem sentir os pés
no chão. Pauê olha orgulhoso para
suas próteses e, bem-humorado, responde: "Para mim, não ter as pernas é
como andar sobre as nuvens".
(CF)
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