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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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Sem as pernas, triatleta diz que correr é como andar nas nuvens

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, 21, sempre foi o Pauê, típico garoto de praia, cabelo parafinado, conhecido por todos na rua. Duas vezes por semana, pedala de 40 km a 60 km e nada todos os dias mais de 3 km. Até aí, normal, não fosse o fato de não ter as duas pernas.
Foi como num filme. Em junho de 2000, aos 18 anos, a caminho da academia, uma locomotiva que passava indevidamente por uma linha desativada, próxima à sua casa, em São Vicente (litoral de SP), atingiu-o em cheio, arrastando seu corpo por alguns metros. As duas pernas, que ficaram para fora dos trilhos, foram amputadas na hora.
"A única coisa em que eu pensava era viver. Não fiquei pensando nos males que tinham acontecido. Já sabia que tinha perdido as pernas e só via a minha vida a partir dali. Não pensava em cair, mas em subir."
No hospital, após conseguir sair da UTI, foi surpreendido por um choque anafilático que lhe causou três paradas cardíacas e viu seu estado clínico piorar novamente. "A sensação é a de estar pendurado, podendo cair a qualquer momento. Mas, mesmo com tudo indo mal, algo me dizia para prosseguir."
Certamente foi essa força e a vontade de estar vivo que fizeram com que Pauê, em quatro meses, já estivesse utilizando próteses e andando. Então, começou a se aventurar no esporte. "Competir foi e é a principal alavanca da minha reabilitação, foi o que me deu essa autoconfiança e me mostrou que eu posso."
Pauê voltou a surfar e, em 2002, foi campeão mundial de triatlo entre usuários de próteses, e o único a competir com duas próteses. "Gosto de tê-las. Elas me dão força para fazer as coisas com mais afinco."
A curiosidade não impede de perguntar como é correr sem sentir os pés no chão. Pauê olha orgulhoso para suas próteses e, bem-humorado, responde: "Para mim, não ter as pernas é como andar sobre as nuvens". (CF)


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