São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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Gravadoras independentes não param de surgir e de criar condições para a renovação da música brasileira

Amplificando os sons

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem não reclama muito da repetição da música brasileira, da preguiça das gravadoras multinacionais, das estações de rádio que tocam sempre a mesma coisa cem vezes por dia? Por outro lado, procurando um pouco, é fácil reparar que a maioria dos artistas legais está fazendo ótimos discos por gravadoras independentes.
E note que as independentes não são só aquelas bravas e românticas gravadoras microscópicas capazes de lançar o disco que você sempre sonhou e nunca achou que existisse. Hoje, no Brasil, as grandes gravadoras independentes -como a Trama e a Abril Music- já possuem estruturas quase tão completas e complexas quanto as das gigantes da indústria de discos, as famosas "majors".
Quem acompanha de perto o mercado de discos sabe que os selos independentes existem desde sempre e caminham em paralelo com as "majors". Mas também sabe que, com os avanços tecnológicos que facilitaram a gravação de um disco, houve um crescimento das pequenas gravadoras independentes, principalmente das que se dedicam a lançar discos de rock e de música eletrônica.
É justamente esse crescimento que dá a impressão de que o mercado independente vem crescendo bastante desde meados da década de 90.
Segundo Sílvio Pellacani Jr., 28, dono da Tratore, uma distribuidora criada para atender apenas ao mercado independente, "60% dos discos fabricados no Brasil hoje são independentes". Nenhum dos outros entrevistados pelo Folhateen confirmou esse número. André Szajman, 30, presidente da Trama, estima que os independentes representem apenas 5% do mercado. Um número bem menor do que o de mercados como o inglês e o norte-americano, cuja participação dos indies gira em torno de 25%.
Só saberemos quem está certo em relação aos números no futuro, pois nem as duas associações que reúnem gravadoras - a ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos) e a recém-criada ABMI (Associação Brasileira da Música Independente)- têm dados sobre esse mercado.
Mesmo que quantificar seja difícil, é fácil dizer que quem gosta de boa música ganha com o crescimento dos independentes. Há selos para quem é fã de MPB, de rock, de hip hop, de metal, de punk, de música experimental, de pop indie, de sertanejo, de música regional, enfim, pense num gênero ou num subgênero e logo terá inúmeros lançamentos entre os quais escolher.
Outro ponto positivo é que, em muitos casos, essas gravadoras ajudam a alimentar cenas locais, como acontece em Goiânia e em Vitória. Em Goiânia, a Monstro Discos agita a cena indie e punk. Em Vitória, a Lona Records distribui não só os seus discos como os de outros selos -o que também é feito por um sem-número de outras indies.
O que realmente precisa de um gás é a distribuição -o jeito como essa música chega até você. Mas existem perspectivas de melhora. A criação da Tratore e o fato de a Trama querer distribuir discos de outras gravadoras independentes são bons sinais. "A distribuição é o problema de todos, mas os independentes são mais ágeis para procurar alternativas. Estão o tempo todo experimentando novos caminhos como a venda em bancas e pela internet", diz Pena Schmidt, 52, presidente da ABMI.



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