UOL


São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

02 NEURÔNIO

Idas e voltas do mundo da moda

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO

COLUNISTAS DA FOLHA

Há um tempo, éramos fanáticas por agasalhos Adidas. Ou falsos Adidas. Ou qualquer casaco colorido com listras. Já pensamos em trocar de roupa com passantes só para conseguir um raro, aquele marrom.
Certa vez, uma de nós descobriu uma loja de materiais esportivos em Copacabana, no Rio, que estava liquidando toda sua sobra de estoque dos anos 70. Na famosa "queima total", compramos a loja inteira. Até sainhas para a prática de tênis e agasalhos do Niki Lauda! (Se você não é tão velha quanto a gente, pesquise!)
Em outra ocasião, uma de nós comprou um casaco incrível em um brechó. Compareceu com o agasalho azul a um jantar de família e ouviu da prima mais nova: "O que você está fazendo com o casaco do meu uniforme de colégio?". Sofreu preconceito da família.
Até que um dia nós nos cansamos dos nossos abrigos. E, mais que isso, fomos perdendo todos os incríveis que tínhamos pelo caminho. Em baladas, em casas de amigos, em carros de pretês. E o que aconteceu, agora que estamos desprovidas dos nossos casaquinhos? E que não podemos comprar vários tênis gringos por causa do dólar? Os estilistas descobriram que a moda esportiva voltou! É sério. Abrigos, coisas com capuz, tudo aquilo que tínhamos e não temos mais.
Outra tendência, dizem por aí, são as camisas de protesto, com coisas escritas. OK. Ainda gostamos desse tipo de camiseta. Mas a verdade é que fazíamos e usávamos camisetas assim no tempo em que éramos punks de butique! Também não vamos dizer em que ano foi isso porque vamos dar pinta. Mas foi depois do punk-77 e antes do punk tipo Greenday. Eram camisetas dos Ramones e aquelas onde estava escrito: "Viva Rápido, Morra Jovem". Ou: "Pela Paz em Todo o Mundo". Se ainda tivéssemos essas camisetas, elas seriam tuuuudo de bom. Mas o que aconteceu com elas??? Nossas mães provavelmente as jogaram fora em um surto antimovimento punk de classe média. Anti-suas filhas vestidas de preto. Anti-a perdição da juventude provocada pelo The Cure. Ou as emprestamos a algum pretê que dormiu na nossa casa. E ele nunca devolveu. A culpa é dele!
E o look uniforme? Um amigo nosso diz que também voltou. Nessa hora, é importante lembrar do casaco-de-guerra-do-soldado-argentino. Esse era um luxo. Diz a lenda que era de um soldado, e a gente acreditava na lorota. Ele era de um amigo nosso que ganhou de uma amiga que comprou num saldão da Cruz Vermelha. O casaco -largo, feio e furado- era disputado a tapas. Até que, um dia, desapareceu. Também deve ter sido jogado no lixo por alguma mãe em surto participando do movimento "anti-filhas usando roupas rasgadas". Ou a gente doou a alguém, num momento "preciso arrumar minha gaveta!".
Sim, tínhamos essas coisas. Elas se foram. Somos adeptas da teoria do desapego e, provavelmente, vamos comprar de novo coisas esportivas. Talvez porque sejamos um pouco vítimas da moda. Aliás, se você ficou com um de nossos casaquinhos Adidas ou achou um casaco velho e furado com cara de que pertenceu a um soldado argentino... encaminhe para a Redação!


Texto Anterior: Científicas
Próximo Texto: Game on
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.