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02 NEURÔNIO
Idas e voltas do mundo da moda
JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO
COLUNISTAS DA FOLHA
Há um tempo, éramos fanáticas por agasalhos Adidas.
Ou falsos Adidas. Ou qualquer casaco colorido com listras. Já pensamos em trocar
de roupa com passantes só
para conseguir um raro,
aquele marrom.
Certa vez, uma de nós descobriu uma loja de materiais
esportivos em Copacabana,
no Rio, que estava liquidando toda sua sobra de estoque dos anos 70. Na famosa
"queima total", compramos a loja inteira.
Até sainhas para a prática de tênis e agasalhos do Niki Lauda! (Se você não é tão velha
quanto a gente, pesquise!)
Em outra ocasião, uma de nós comprou
um casaco incrível em um brechó. Compareceu com o agasalho azul a um jantar de família e ouviu da prima mais nova: "O que
você está fazendo com o casaco do meu uniforme de colégio?". Sofreu preconceito da
família.
Até que um dia nós nos cansamos dos
nossos abrigos. E, mais que isso, fomos perdendo todos os incríveis que tínhamos pelo
caminho. Em baladas, em casas de amigos,
em carros de pretês. E o que aconteceu, agora que estamos desprovidas
dos nossos casaquinhos? E que
não podemos comprar vários
tênis gringos por causa do dólar? Os estilistas descobriram
que a moda esportiva voltou! É
sério. Abrigos, coisas com capuz, tudo aquilo que tínhamos
e não temos mais.
Outra tendência, dizem por
aí, são as camisas de protesto,
com coisas escritas. OK. Ainda gostamos
desse tipo de camiseta. Mas a verdade é que
fazíamos e usávamos camisetas assim no
tempo em que éramos punks de butique!
Também não vamos dizer em que ano foi
isso porque vamos dar pinta. Mas foi depois
do punk-77 e antes do punk tipo Greenday.
Eram camisetas dos Ramones e aquelas onde estava escrito: "Viva Rápido, Morra Jovem". Ou: "Pela Paz em Todo o Mundo". Se
ainda tivéssemos essas camisetas, elas seriam tuuuudo de bom. Mas o que aconteceu
com elas??? Nossas mães provavelmente as
jogaram fora em um surto antimovimento
punk de classe média. Anti-suas filhas vestidas de preto. Anti-a perdição da juventude
provocada pelo The Cure. Ou as emprestamos a algum pretê que dormiu na nossa casa. E ele nunca devolveu. A culpa é dele!
E o look uniforme? Um amigo nosso diz
que também voltou. Nessa hora, é importante lembrar do casaco-de-guerra-do-soldado-argentino. Esse era um luxo. Diz a lenda que era de um soldado, e a gente acreditava na lorota. Ele era de um amigo nosso
que ganhou de uma amiga que comprou
num saldão da Cruz Vermelha. O casaco
-largo, feio e furado- era disputado a tapas. Até que, um dia, desapareceu. Também
deve ter sido jogado no lixo por alguma mãe
em surto participando do movimento "anti-filhas usando roupas rasgadas". Ou a
gente doou a alguém, num momento "preciso arrumar minha gaveta!".
Sim, tínhamos essas coisas. Elas se foram.
Somos adeptas da teoria do desapego e,
provavelmente, vamos comprar de novo
coisas esportivas. Talvez porque sejamos
um pouco vítimas da moda. Aliás, se você
ficou com um de nossos casaquinhos Adidas ou achou um casaco velho e furado com
cara de que pertenceu a um soldado argentino... encaminhe para a Redação!
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