São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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moda

Os infiltrados

Agências recrutam estudantes jovens e bem relacionados para captarem informações dos próprios colegas

RODRIGO GERHARDT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles estão por aí, talvez infiltrados na sua turma, observando seu comportamento, querendo saber o que você anda comprando e muitas vezes sugerindo suas escolhas sobre o que usar, o que beber, o que vestir.
Ganham produtos para divulgar entre os amigos, brindes, convites para festas, desfiles e outros eventos, além de viagens e desconto para vários tipos de coisas. E, como é comum nos agentes secretos, são pessoas simpáticas, antenadas e muito bem relacionadas.
Vários jovens estão atuando como "trendsetters", agentes ou embaixadores de marca, como são alguns dos nomes definidos pelas agências de marketing que os contratam, atentas ao poder de influência que eles têm nos seus grupos.
Mais do que promotores distribuindo amostras grátis, eles lidam com informação -captam tendências, agem como olheiros, dão opinião e, principalmente, são agentes de relacionamento das marcas dos mais diversos segmentos com o seu público-alvo.
Com mais de 330 amigos, fotos de viagens e comunidades de festas e de música no Orkut, o estudante de publicidade Renato Zago Silveira, 21, foi contatado pelo site de relacionamento -um dos meios mais freqüentes para avaliar o perfil dos indicados- para atuar como um dos 95 agentes espalhados no país de uma grande marca de roupas. "Entre as missões semanais, passava relatórios de pesquisa de mercado que fazia com os amigos -o que gostavam, aonde iam, qual a opinião deles sobre concorrentes da marca; avaliava a loja e alguns produtos", diz Renato.
Tudo foi feito com discrição, já que não era possível revelar a grife. "O difícil era aplicar questionários sem dizer exatamente para quem", diz o estudante. Em troca, ele recebia brindes a cada tarefa cumprida - chegou a poder escolher dez peças sem restrição de preço para vestir no seu circuito.
Selecionadas quando ainda estavam no colegial, as estudantes Maereen Mariana Aki Otami, 17, e Gabriela Cassemiro dos Santos, 20, ajudaram a reformular toda a linha teen de uma conhecida marca de cosméticos a partir das opiniões coletadas entre as amigas e as suas próprias também.
Entre as tarefas, além de entrevistas (também sem revelar os propósitos), de fotografar coisas em casa e de avaliar produtos, elas participaram de eventos voltados ao público jovem para observar comportamentos e também serem observadas. Com as idéias e informações das garotas, a empresa criou um gloss na forma de pin de celular, que foi um sucesso, e reformulou produtos.
"Sou apaixonada por maquiagem, e ganhamos toda a linha nova, brindes em um desfile na Daslu, e pude conhecer muita gente legal em vários eventos", conta Gabriela.
"Sabia que as empresas ligavam para o desejo do consumidor, mas não sabia que iam tão fundo assim", completa Maereen, cuja experiência a ajudou a definir melhor a escolha profissional pela área de moda.

O alvo
"Conhecer os jovens é mais difícil porque, dependendo da região, a forma de eles pensarem é muito diferente. Nessas ações, eles mesmos nos ajudam a descobrir coisas que estão em constante mudança e são importantes para que as marcas se aproximem e falem realmente a língua do nosso público-alvo", diz Rodrigo Clemente, diretor da Decidindo, uma das primeiras agências de marketing jovem a realizar essas ações no Brasil e que conta atualmente com 242 agentes pelo país.


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