São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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Imagem do guerrilheiro tem diferentes significados

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Liberdade, luta, vitória, igualdade social, revolução, garra, união, esperança, resistência, amor, solidariedade, independência, vontade de vencer na vida. Para cada jovem entrevistado pelo Folhateen, o mito Che Guevara tem um significado diferente. Esse é o resultado direto da transformação da imagem do guerrilheiro, que, em 1959, ajudou a fazer a Revolução Cubana e a instituir um dos únicos regimes comunistas do mundo ainda em vigor, em ícone pop.
A famosa foto de Che, estampada em camisetas e pendurada nas paredes dos quartos de adolescentes do mundo todo há pelo menos 40 anos, já virou até mascote de torcida de futebol. Desde 1995, o guerrilheiro divide o lugar nas camisetas e bandeiras da torcida Independente, do São Paulo, com o Bombadão (um são Paulo cheio de músculos). "As camisetas do Che vendem tão bem quanto as do Bombadão", diz Leandro Amendola, 18, funcionário da lojinha da torcida.
Para Ronaldo Sousa, 23, diretor-geral da Independente, um dos objetivos do uso da imagem do guerrilheiro em enormes bandeiras nos estádios é mostrar para os jogadores que é preciso ter garra, "que o jogo não acabou". Mas nem todo mundo que carrega as bandeiras da torcida sabe muito bem quem foi ele.
Não é o caso de um grupo de 12 alunos do colégio Pentágono, de São Paulo, que estiveram em Cuba no ano passado e conheceram de perto o regime que Che ajudou a implantar. Ricardo Alonso Martins, 15, é um deles. Mesmo antes de a viagem começar a ser organizada, ele sempre quis conhecer Cuba.
"Lá, o nível das pessoas é muito diferente, qualquer um sabe conversar sobre política. Mas, mesmo assim, são todos muito pobres. O ideal seria um regime socialista em que as pessoas também pudessem consumir coisas melhores", diz.
Para ele, a camiseta com o rosto de Che que trouxe de Cuba tem muito mais valor do que as compradas em qualquer lugar. "Eu queria uma coisa que fosse verdadeira", diz. A maioria do grupo trouxe uma camiseta do Che na bagagem.
Para a assistente de estilo Carolina Pereira Damasceno, 21, que está lendo a biografia de Che Guevara, é importante conhecer a história dele. "Como eu ia vestir uma camiseta sem saber quem ele foi? Agora quero comprar uma. Também estou procurando um pôster para colocar na porta do meu quarto."
Hoje ele é um dos seus ídolos. "Em primeiro lugar está a minha mãe. Também admiro muito o Amir Lama [dono da Rosa Chá, grife de biquínis]", diz.
Há muitas pessoas que se sentem influenciadas pelo guerrilheiro, como o estudante de pedagogia Leandro Silva Andrade, 22, de Montes Claros (MG). "A história dele me incentivou a participar do movimento estudantil", conta.
"Hoje vemos muitas camisetas com a foto do Che, todas coloridas e cheias de "firulas", usadas por pessoas que nem sabem o ideal que ele tinha. Acho que ele não ficaria feliz sabendo que sua imagem está sendo vinculada à moda e servindo ao capitalismo", acredita o estudante.


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