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Na Estrada
Mayra Dias Gomes - mayradiasgomes@uol.com.br
Quase um "Poltergeist"
Sempre acreditei em espíritos. Desde criança procuro a prova de que eles existem, com medo de encontrá-la. Não gosto de dormir sozinha no escuro,
tenho medo de barulhos inesperados e nunca deixo meu
pé pendurado na cama. Morro de medo, mas sinto-me
atraída. Tudo que é sobrenatural me fascina.
Quando meu cachorro começou a latir desesperadamente no domingo de Páscoa, olhando para a parede,
perguntei ao meu marido se ele achava que estávamos
na presença de um espírito. Ele riu, eu me acalmei. De
repente, algo fora do normal aconteceu.
A mesa de jantar escorregou para o meio da sala como
no filme "Poltergeist". Eu soltei um berro, achei que o
momento havia finalmente chegado. Minha cabeça começou a doer e senti vontade de desmaiar. Olhei para a
janela e, sem mais nem menos, minha realidade mudou.
Percebi que o apartamento inteiro estava se movendo
de um lado para o outro. Não parecia real. Um quadro
caiu da parede.
Nós sempre brincamos que fantasmas moram no nosso prédio, que pertencia ao Charlie Chaplin, e foi construído para abrigar atores de filmes silenciosos em 1917.
O ator Fatty Arbuckle, acusado (e inocentado) de estuprar e matar a atriz Virginia Rappe, em 1921, morava
aqui. Os corredores, apesar de muito bem iluminados,
parecem os de "O Iluminado".
"É um terremoto", meu marido disse calmamente,
tentando colocar um ponto final na minha loucura. Não
tinha "Poltergeist" algum nos assombrando. O apartamento estava balançando porque Los Angeles estava
sentindo o forte terremoto de 7,2 pontos na escala Richter que atingiu o Estado mexicano de Baja California, no
noroeste do país, no dia quatro. O tremor durou por volta de 45 segundos. No México, duas pessoas morreram e
centenas ficaram feridas.
Eu nunca havia passado por um terremoto, e a experiência mexeu comigo. Senti vertigens por mais de 24
horas e dormi como se estivesse em um barco. Pelo menos, havia uma explicação. Eu não seria mais a mesma
se a mesa tivesse andado sozinha.
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