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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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Bonequinho é muito mais que uma banda alternativa

Super-herói do submundo

RICARDO TIBIU
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cada vez mais são raros os casos de bandas independentes brasileiras que insistem (ou seria persistem?) na batalha underground sem aspirar a cifras, a status e à fama. É incomum também o fato de elas terem o que falar.
E, há dez anos no submundo cultural do país, vive um andarilho oriundo de Bauru (SP) que atende pela alcunha de bonequinho. Você se pergunta: "Bonequinho é banda? É fanzine? É site?" e a resposta é positiva a todas as questões. É tudo isso e muito mais.
Como eles mesmos dizem, "é um coletivo multimídia que age com/ por meios alternativos, seja na forma de uma banda de garagem, seja com atividades que incluem zines, textos, colagens, sites e outras expressões livres".
Espere aí: eles? Sim, eles. O bonequinho tem uma formação variável, com alternâncias de instrumentos, ou seja, cada integrante tem o seu escolhido. Assim, além de tesoura, papel e cola, o coletivo usa wal (guitarra), am (baixo, vocais), ar (vocais, textos), ha (bateria/percussão) e dw (bateria). Os nomes são grafados assim para que a atenção se volte ao que eles produzem e não às pessoas.
A banda diz que o nome bonequinho é uma legenda para o bonequinho desenho de ponta-cabeça que eles usam, que significa queda livre, negação ou o eterno desmoronar do ideal humano. No momento, estão disponíveis dois discos, "PRE-POST", com 25 sons de 1993 até 2000, e "VINIL/NIHIL" com 32 gravados entre 1998 e 2002, ambos lançados por Platonic(a) Music(a).
O som e a postura deles é muito mais punk que os de 99% das bandas que se intitulam assim. "Pessoalmente, do punk livre e do punk rock tenho muita referência e influência. Principalmente pelos meios alternativos essenciais. Como uma experiência viva, o bonequinho está fora de qualquer rótulo definitivo. Gêneros são mortos e dissimulativos", esclarece ar.
As gravações são feitas ao vivo, cheias de improvisação e utilizando somente um canal. "PRE-POST" é mais "digerível", mais musical, com canções intensas que podem ir do punk rock, como "You're my Vice" e "She's Misunderstood", a viagens noise como "Dreams Won't Leave Me". Em alguns momentos, bonequinho soa como um cruzamento de Tom Zé com Dead Kennedys e, em outros, como um Nirvana mais niilista e tosco.
Na poderosa e visceral "Pagan Song", eles insinuam a destruição da trilogia máxima do rock (sexo, drogas e rock and roll). Nas ilustrações dos CDs, dos zines e dos sites, feitas com rabiscos e muita colagem, ecoa o espírito dadaísta. "Já o relacionaram com o dadaísmo, talvez pela estética. Abraçamos a iconoclastia e a ruptura, nada específico como o dadaísmo ou outra referência cultural", diz ar.
Assim, fica descartado também intitular como "antiarte" o que o grupo produz. "Talvez uma "contra-arte", algo paralelo, uma alternativa", diz ar. E bonequinho segue assim, livre de rótulos e a favor da liberdade, carregando excelentes textos e servindo de alternativa às bandas alternativas do cenário indie brasileiro.


jazzaster@bol.com.br
www.bonequinhologia.hpg.com.br
www.bonequinho.tk
Platonic(a) Music(a): Caixa Postal 279, CEP 17015-970, Bauru, SP

Para ouvir "You're My Vice", do bonequinho, ligue para 0/xx/11/3471-4000 e digite 4 - Música. O custo é só o da ligação.



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