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Bonequinho é muito mais que uma banda alternativa
Super-herói do submundo
RICARDO TIBIU
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Cada vez mais são raros os
casos de bandas independentes brasileiras que insistem (ou seria persistem?) na
batalha underground sem aspirar a cifras, a status e à fama.
É incomum também o fato de
elas terem o que falar.
E, há dez anos no submundo cultural do país, vive um andarilho oriundo de Bauru (SP) que atende pela alcunha de bonequinho.
Você se pergunta: "Bonequinho é
banda? É fanzine? É site?" e a resposta é positiva a todas as questões.
É tudo isso e muito mais.
Como eles mesmos dizem, "é um
coletivo multimídia que age com/
por meios alternativos, seja na forma de uma banda de garagem, seja
com atividades que incluem zines,
textos, colagens, sites e outras expressões livres".
Espere aí: eles? Sim, eles. O bonequinho tem uma formação variável,
com alternâncias de instrumentos,
ou seja, cada integrante tem o seu
escolhido. Assim, além de tesoura,
papel e cola, o coletivo usa wal (guitarra), am (baixo, vocais), ar (vocais, textos), ha (bateria/percussão)
e dw (bateria). Os nomes são grafados assim para que a atenção se volte ao que eles produzem e não às
pessoas.
A banda diz que o nome bonequinho é uma legenda para o bonequinho desenho de ponta-cabeça que
eles usam, que significa queda livre,
negação ou o eterno desmoronar do
ideal humano. No momento, estão
disponíveis dois discos, "PRE-POST", com 25 sons de 1993 até
2000, e "VINIL/NIHIL" com 32 gravados entre 1998 e 2002, ambos lançados por Platonic(a) Music(a).
O som e a postura deles é muito
mais punk que os de 99% das bandas que se intitulam assim. "Pessoalmente, do punk livre e do punk
rock tenho muita referência e influência. Principalmente pelos
meios alternativos essenciais. Como
uma experiência viva, o bonequinho está fora de qualquer rótulo definitivo. Gêneros são mortos e dissimulativos", esclarece ar.
As gravações são feitas ao vivo,
cheias de improvisação e utilizando
somente um canal. "PRE-POST" é
mais "digerível", mais musical, com
canções intensas que podem ir do
punk rock, como "You're my Vice"
e "She's Misunderstood", a
viagens noise como "Dreams
Won't Leave Me". Em alguns
momentos, bonequinho soa
como um cruzamento de
Tom Zé com Dead Kennedys
e, em outros, como um Nirvana mais niilista e tosco.
Na poderosa e visceral "Pagan Song", eles insinuam a
destruição da trilogia máxima
do rock (sexo, drogas e rock
and roll). Nas ilustrações dos CDs,
dos zines e dos sites, feitas com rabiscos e muita colagem, ecoa o espírito dadaísta. "Já o relacionaram
com o dadaísmo, talvez pela estética. Abraçamos a iconoclastia e a
ruptura, nada específico como o dadaísmo ou outra referência cultural", diz ar.
Assim, fica descartado também
intitular como "antiarte" o que o
grupo produz. "Talvez uma "contra-arte", algo paralelo, uma alternativa", diz ar. E bonequinho segue assim, livre de rótulos e a favor da liberdade, carregando excelentes textos e servindo de alternativa às bandas alternativas do cenário indie
brasileiro.
jazzaster@bol.com.br
www.bonequinhologia.hpg.com.br
www.bonequinho.tk
Platonic(a) Music(a): Caixa Postal 279, CEP
17015-970, Bauru, SP
Para ouvir "You're My Vice", do bonequinho, ligue para 0/xx/11/3471-4000 e digite
4 - Música. O custo é só o da ligação.
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