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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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NOVOS BATUTAS

Fora das rádios, estilos como o chorinho e o jazz têm sua graça redescoberta pelos jovens

Música sem palavras

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa a dar as caras uma galera que não está nem ai para o que as FMs elegem como "top ten" e prefere dar atenção à enorme variedade de composições instrumentais, que passam por ritmos como samba, choro, bossa e jazz.
O clima despretensioso das rodas de chorinho, por exemplo, acabou tornando o estilo pop. Principalmente no Rio, onde as animadas rodas de músicos espalham-se de Copacabana à Lapa.
Enquanto acompanhava seu namorado "chorão", Clarice Magalhães, 23, circulou por quase todos os encontros da cidade. "Comecei a gostar e continuei frequentando mesmo com o fim do namoro. Hoje eu vivo disso", explica. Ela aprendeu a tocar pandeiro e se apresenta com seu grupo aos sábados, em uma feira na r. General Glicério, em Laranjeiras.
O paulistano Lucas Negreiros Gurgel, 17, também esbarrou no choro por acaso. Há três anos, ele decidiu aprender a tocar violão e pediu dicas ao tio, que é flautista. Além de algumas lições, Gurgel acompanhou o "professor" ao encontro de choro que o luthier Manuel de Andrade faz semanalmente em sua oficina, na zona norte de São Paulo, e virou frequentador. "Antes eu gostava de rock. Agora, prefiro ouvir a flauta no lugar da voz", diz ele.
E Gurgel não é exceção. Como ele, há outros ouvintes desatentos às letras, mas que não perdem um lance de improvisação. Henrique Lara Eisenmann, 14, por exemplo, encantou-se com a possibilidade de improvisar. Ele trocou a rigidez dos estudos de música clássica pelo jazz, que conheceu nas aulas do Clam, escola criada por integrantes do grupo Zimbo Trio. "Consigo distinguir o que o cara está sentindo, seus altos e baixos", explica ele, que é fã dos pianistas Bill Evans e Herbie Hancock.
Outro que sente arrepios ouvindo jazz é Gabriel Mares, 18, que também estuda no Clam. O inusitado é que Mares é vocalista e guitarrista de uma banda de hardcore, som que ele só ouve quando vai aos shows dos amigos. "Acho Chick Corea, David Brubeck, Mike Stern e Paul Desmond a maior pauleira", conta.
Inevitavelmente, os que precocemente deixam de ser apenas ouvintes e estréiam sua própria produção instrumental vêm de famílias de músicos. Mesmo sendo filha da cavaquinista Luciana Rabello e sobrinha do violonista Raphael Rabello, Ana Rabello Pinheiro, 17, aprendeu pandeiro sozinha, só para poder participar das rodas de choro que frequenta desde criança. "No início, eu tocava baixinho com medo de errar", lembra a garota que agora também é cavaquinista.
Há quase um ano, Ana montou o grupo Regional Carioca com outro "herdeiro", o bandolinista Tiago Souza, 21, filho de Ronaldo do Bandolim, do histórico conjunto Época de Ouro.
O garçom Roberto Lima, 22, largou a faculdade de publicidade porque quer seguir a carreira do pai. "Ele tocou samba na noite durante 20 e poucos anos, mas se desiludiu. Mesmo assim decidi estudar música", diz Lima, que se dedica a formar um repertório de choro.



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