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NOVOS BATUTAS
Fora das rádios, estilos como o chorinho e o jazz têm sua graça redescoberta pelos jovens
Música sem palavras
ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Começa a dar as caras uma galera que
não está nem ai para o que as FMs elegem como "top ten" e prefere dar atenção à enorme variedade de composições
instrumentais, que passam por ritmos
como samba, choro, bossa e jazz.
O clima despretensioso das rodas de
chorinho, por exemplo, acabou tornando o estilo pop. Principalmente no Rio,
onde as animadas rodas de músicos espalham-se de Copacabana à Lapa.
Enquanto acompanhava seu namorado "chorão", Clarice Magalhães, 23, circulou por quase todos os encontros da
cidade. "Comecei a gostar e continuei
frequentando mesmo com o fim do namoro. Hoje eu vivo disso", explica. Ela
aprendeu a tocar pandeiro e se apresenta
com seu grupo aos sábados, em uma feira na r. General Glicério, em Laranjeiras.
O paulistano Lucas Negreiros Gurgel,
17, também esbarrou no choro por
acaso. Há três anos, ele decidiu aprender a tocar violão e pediu dicas ao tio, que é flautista. Além de algumas lições, Gurgel
acompanhou o "professor" ao encontro
de choro que o luthier Manuel de Andrade faz semanalmente em sua oficina, na
zona norte de São Paulo, e virou frequentador. "Antes eu gostava de rock. Agora,
prefiro ouvir a flauta no lugar da voz",
diz ele.
E Gurgel não é exceção. Como ele, há
outros ouvintes desatentos às letras, mas
que não perdem um lance de improvisação. Henrique Lara Eisenmann, 14, por
exemplo, encantou-se com a possibilidade de improvisar. Ele trocou a rigidez
dos estudos de música clássica pelo jazz,
que conheceu nas aulas do Clam, escola
criada por integrantes do grupo Zimbo
Trio. "Consigo distinguir o que o cara está sentindo, seus altos e baixos", explica
ele, que é fã dos pianistas Bill Evans e
Herbie Hancock.
Outro que sente arrepios ouvindo jazz
é Gabriel Mares, 18, que também estuda
no Clam. O inusitado é que Mares é vocalista e guitarrista de uma banda de
hardcore, som que ele só ouve quando
vai aos shows dos amigos. "Acho Chick
Corea, David Brubeck, Mike Stern e Paul
Desmond a maior pauleira", conta.
Inevitavelmente, os que precocemente
deixam de ser apenas ouvintes e estréiam
sua própria produção instrumental vêm
de famílias de músicos. Mesmo sendo filha da cavaquinista Luciana Rabello e sobrinha do violonista Raphael Rabello,
Ana Rabello Pinheiro, 17, aprendeu pandeiro sozinha, só para poder participar
das rodas de choro que frequenta desde
criança. "No início, eu tocava baixinho
com medo de errar", lembra a garota que
agora também é cavaquinista.
Há quase um ano, Ana montou o grupo Regional Carioca com outro "herdeiro", o bandolinista Tiago Souza, 21, filho
de Ronaldo do Bandolim, do histórico
conjunto Época de Ouro.
O garçom Roberto Lima, 22, largou a
faculdade de publicidade porque quer
seguir a carreira do pai. "Ele tocou samba na noite durante 20 e poucos anos,
mas se desiludiu. Mesmo assim decidi
estudar música", diz Lima, que se dedica
a formar um repertório de choro.
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