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Góticos "radicais" cultivam hábitos do passado e se opõem aos "de hoje", que são fãs de Nightwish, Evanescence e de outras bandas de metal melódico; ida a cemitérios está em baixa
Góticos versão light
DENISE MOTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Gótico de ir ao cemitério já morreu." Quem joga a pá de cal é
uma adepta de coturnos, roupas escuras e crucifixos, que assegura ter
"todos os álbuns" do Nightwish e que prefere se definir como "metaleira".
A estudante Mirela Silva, 17, explica: "Gótico como era no passado não existe mais.
Conheço gente que vai ao cemitério, só que
chega às dez da noite e à meia-noite já está
em casa para dormir. Só vai mesmo é para
fazer pressão".
A popularidade de bandas como Nightwish ou Evanescence -que não são entendidas como góticas, para alguns integrantes da comunidade- vêm aumentando o
interesse por essa "filosofia de vida" que virou "modismo", na opinião de Fabio Arbartavicius, 26, criador do site GoticoSP,
lançado em 99 com o propósito de divulgar
os eventos ligados à essa cultura na noite
paulistana. "Hoje ser gótico é usar preto,
sim, mas porque você gosta, não porque
cultiva a morte. Não é porque você é gótico
que tem que ser depressivo. Os góticos hoje
vão a festas."
Para Juliano Backer, "a impressão é que
os góticos se proliferaram". Autor do blog
Coração Gótico, o técnico em informática e
músico de 24 anos relativiza a consistência
dessas novas adesões e avalia que "muitas
pessoas que ainda não se encontraram
acham bonito ser gótico, mas é triste". "Eu
sempre fui como sou, mais sensível, emotivo, e percebi que minha personalidade tinha muito a ver com essa cultura", afirma.
Fascinante para "radicais" ou integrantes
"de agora", como Arbartavicius classifica
os componentes das duas correntes do gótico atualmente, esse modo de ser atrai os
adolescentes por oferecer "o incomum",
segundo a psicóloga Cynthia Ladvocat. "É
uma forma de buscar a felicidade", diz.
"Andar em grupos é encontrar no outro algo parecido consigo mesmo. É a construção de uma nova família, além de um convite à curiosidade, já que ser gótico não é algo facilmente identificável. É participar de
um mistério que dá um quê especial à vida", analisa.
Mistério foi o que tragou Lilly MissDark,
21, para esse mundo: "Adoro o desconhecido". Na rotina da estudante de desenho industrial, gótica desde os 13 anos, sobra espaço para hábitos como a tradicional adoração ao isolamento, da escuridão, do vinho, dos escritos de autores como Lord
Byron (1788-1824) e Álvares de Azevedo
(1831-1852). "Ser gótico é, antes de tudo,
cultivar e preservar a solidão. Lamentamos
a existência por meio da inexistência de esperança", explica ela, que se considera
"muito diferente dos góticos de hoje" e que
partilha com eles apenas uma característica: "raramente" freqüenta cemitérios.
"Já se nasce gótico. Alguém que diz ser
gótico só por causa das festas e das bandas
que estão na mídia não sabe qual é a essência do gótico, não conhece a cultura", diz
MissDark, mais conhecida pelo nome de
Heartless entre a comunidade gótica e que
prefere ouvir grupos como Atrocity, Theatre of Tragedy, Flowing Tears e Cradle of
Filth.
"O gótico ficou muito banalizado", endossa a webdesigner Mariana Mello, 23, integrante do "goticismo", como a irmã, a estudante Noemi, 20. As duas foram a shows
do Nightwish no Brasil em 2002 e 2000, mas
não decidiram se vão neste ano.
Mariana e Noemi chegaram ao gótico por
meio do rock. "A Noemi tinha uns 16 anos
quando descobri que ela tinha parado de
ouvir Sandy & Junior para escutar meus
CDs", diverte-se Mariana. "Não, eu ouvia
muita coisa", protesta a irmã, que também
abandonou a prática de freqüentar a moradia dos mortos. Para ela, os cemitérios saíram da agenda gótica sobretudo pela falta
de segurança e pelo aumento da dificuldade de entrada à noite nesses lugares. "Rola
muito roubo lá dentro, e a vigilância está
muito forte", diz. "Eu não vou ao cemitério,
não acho interessante, acho que não tem
mais a ver", apóia Mariana.
"Para ser gótico, não precisa usar cruz,
preto. No Brasil, não dá para ficar usando
sobretudo, né? Você não vira gótico, você é
gótico. E isso é ser uma pessoa mais pensativa, alguém que gosta de um bom livro,
uma boa poesia, que gosta de beber um vinho", descreve Noemi.
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