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MÚSICA
Pacote mostra os vários caminhos da revolução de 1977
Punk como le gusta
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de 25 anos depois de o punk
ter posto a indústria da música
de pernas para o ar-com a explosiva mistura de raiva juvenil, anticomercialismo e três acordes em
busca de autenticidade-, o império teve tempo para contra-atacar e
pacificar boa parte dos bárbaros
que faziam tudo por si mesmos.
Não é à toa que a maioria das
bandas punk que estouraram nos
anos 90 não conseguiu produzir
mais do que uma tosqueira pop,
tão embalada para o consumo voraz quanto um Big Mac.
Mas a facada libertária, que fez
nascer grupos tão diferentes do
ponto de vista musical como Clash
e Ramones, nunca cicatrizou. Nos
anos 80, dominou os subterrâneos
em diferentes mutações. E, mesmo
nos 90, para cada bobagem à la
Blink-182, havia dezenas de grupos
inoculando a originalidade punk.
Um curioso mapa desses subterrâneos é um pacote lançado pela
Sum, que reúne bandas dos selos
Epitaph e Vagrant. São oito discos
que percorrem a teia que abrange
do "emo" ao punk pop.
De longe, o melhor é o álbum de
estréia dos ingleses do Ikara Colt,
"Chat and Business". Herdeiros
tanto de Sonic Youth como de The
Fall, a banda faz um som urgente.
Baixo e bateria seguram o peso do
mundo enquanto as guitarras cortam cada faixa com riffs inspirados
e os vocais, quase falados, vão destilando paranóia e desespero.
Se o Ikara Colt bebe nos anos 80,
um legítimo representante da década, Paul Westerberg (ex-Replacements) lança o outro destaque:
"Stereo". Gravado em casa, é um
álbum menos roqueiro, cheio de
violões e de ótimas letras. A edição
brasileira inclui "Mono", disco em
que Westerberg deixa o rock rolar.
Uma declaração de amor ao
punk dos anos 70 é feita pelo trio
Face to Face em "How to Ruin
Everything". São 15 faixas diretas,
que transpiram honestidade.
Como nenhum pacote sobreviveria hoje sem um representante
do "emo", o regular "On a Wire",
do Get Up Kids, dá uma amostra
de como nossos tempos serão dominados por canções melódicas,
flertando com o acústico e despejando letras "sinceras".
Mais força têm "Caution", do
Hot Water Music, e "Living Targets", dos alemães do Beatsteaks.
"Caution" apresenta um hardcore
melódico maduro, com boas letras,
bons vocais e ótima dinâmica entre
os instrumentos. Já "Living Targets" acerta ao alternar faixas lentas com porradas aceleradas.
O disco mais curioso é "Live on
St. Patrick's Day", do Dropkick
Murphys. Gravado ao vivo, consegue unir o hardcore a instrumentos como gaita de foles e bandolim.
A decepção é "Gusto", do Guttermouth, um disco que atira para todo lado e traz aquelas letras chulas
que inundam os filmes teens de
Hollywood.
(GUILHERME WERNECK)
Para ouvir trechos de músicas de Ikara
Colt, Paul Westerberg, Face to Face, Get Up
Kids, Hot Water Music, The Beatsteaks,
Dropkick Murphys e Guttermouth ligue
para 0/xx/11/3471-4000 e digite 4 - Música. Custo só o da ligação.
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