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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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MÚSICA

Pacote mostra os vários caminhos da revolução de 1977

Punk como le gusta

DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de 25 anos depois de o punk ter posto a indústria da música de pernas para o ar-com a explosiva mistura de raiva juvenil, anticomercialismo e três acordes em busca de autenticidade-, o império teve tempo para contra-atacar e pacificar boa parte dos bárbaros que faziam tudo por si mesmos.
Não é à toa que a maioria das bandas punk que estouraram nos anos 90 não conseguiu produzir mais do que uma tosqueira pop, tão embalada para o consumo voraz quanto um Big Mac.
Mas a facada libertária, que fez nascer grupos tão diferentes do ponto de vista musical como Clash e Ramones, nunca cicatrizou. Nos anos 80, dominou os subterrâneos em diferentes mutações. E, mesmo nos 90, para cada bobagem à la Blink-182, havia dezenas de grupos inoculando a originalidade punk.
Um curioso mapa desses subterrâneos é um pacote lançado pela Sum, que reúne bandas dos selos Epitaph e Vagrant. São oito discos que percorrem a teia que abrange do "emo" ao punk pop.
De longe, o melhor é o álbum de estréia dos ingleses do Ikara Colt, "Chat and Business". Herdeiros tanto de Sonic Youth como de The Fall, a banda faz um som urgente. Baixo e bateria seguram o peso do mundo enquanto as guitarras cortam cada faixa com riffs inspirados e os vocais, quase falados, vão destilando paranóia e desespero.
Se o Ikara Colt bebe nos anos 80, um legítimo representante da década, Paul Westerberg (ex-Replacements) lança o outro destaque: "Stereo". Gravado em casa, é um álbum menos roqueiro, cheio de violões e de ótimas letras. A edição brasileira inclui "Mono", disco em que Westerberg deixa o rock rolar.
Uma declaração de amor ao punk dos anos 70 é feita pelo trio Face to Face em "How to Ruin Everything". São 15 faixas diretas, que transpiram honestidade.
Como nenhum pacote sobreviveria hoje sem um representante do "emo", o regular "On a Wire", do Get Up Kids, dá uma amostra de como nossos tempos serão dominados por canções melódicas, flertando com o acústico e despejando letras "sinceras".
Mais força têm "Caution", do Hot Water Music, e "Living Targets", dos alemães do Beatsteaks. "Caution" apresenta um hardcore melódico maduro, com boas letras, bons vocais e ótima dinâmica entre os instrumentos. Já "Living Targets" acerta ao alternar faixas lentas com porradas aceleradas.
O disco mais curioso é "Live on St. Patrick's Day", do Dropkick Murphys. Gravado ao vivo, consegue unir o hardcore a instrumentos como gaita de foles e bandolim.
A decepção é "Gusto", do Guttermouth, um disco que atira para todo lado e traz aquelas letras chulas que inundam os filmes teens de Hollywood. (GUILHERME WERNECK)


Para ouvir trechos de músicas de Ikara Colt, Paul Westerberg, Face to Face, Get Up Kids, Hot Water Music, The Beatsteaks, Dropkick Murphys e Guttermouth ligue para 0/xx/11/3471-4000 e digite 4 - Música. Custo só o da ligação.


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