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Eminem desafia o domínio negro do rap no filme que conta uma história que se confunde com a do popstar
Os duelos de sábado à noite
Divulgação
![](../images/t1703200301.jpg) |
Eminem na pele de "B-Rabbit", durante um dos duelos do filme |
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
O hip hop frequenta as produções de
Hollywood há um bom tempo, mas só
agora ganhou o seu filme família. "8 Mile
- Rua das Ilusões", de Curtis Hanson
("Garotos Incríveis"), que estréia na próxima sexta (21/3) nos cinemas, descartou
a associação simplista do estilo com gangues e armas e criou um filme fácil de assistir mesmo por quem não é fã de rap.
Para agradar ao maior número possível de pessoas, o filme é construído sobre
dois pilares. O primeiro é o carisma do
desbocado rapper Eminem, uma das galinhas dos ovos de ouro da indústria da
música nos EUA. O segundo é uma fórmula testada e aprovada por Hollywood:
o personagem principal começa atolado
em problemas, cercado por um ambiente hostil, e consegue vencer por causa de
sua perseverança.
Em sua estréia no cinema, Eminem pegou de cara um papel que, em muitos aspectos, se confunde com a sua própria
biografia. Ele interpreta o rapper Jimmy
"B-Rabbit", um branquelo fissurado pelo hip hop, que tenta encontrar espaço
num meio dominado pelos negros.
A forma de abrir caminho para os seus
versos afiados são os desafios de "free-style", em que dois rappers rimam de
improviso sobre uma base criada na hora pelo DJ, trocando o maior número
possível de insultos para conquistar o
público, que decide o vencedor.
A história se passa em 1995, numa decadente Detroit -não por acaso o berço
de Eminem. A referência do título é a estrada 8 Mile, um divisor entre o centro e
a periferia da cidade. Jimmy, claro, está
do lado periférico, morando com a mãe
alcoólatra (Kim Basinger) e uma irmã
pequena num trailer caindo aos pedaços.
Dividindo o seu tempo entre o trabalho numa fábrica e as baladas com seus
amigos -que só têm rap na cabeça-,
ele é um aspirante a rapper, que tem de
superar uma "posse" rival, Free World.
Para os brasileiros, o filme guarda uma
curiosidade. "Quando fui convidado para dirigir "8 Mile", eu tinha acabado de
chegar do Brasil. Lá, mergulhei numa reflexão sobre como a arte pode canalizar a
humilhação, a cólera e a raiva para outros fins. Estive cinco vezes no Rio, fui às
favelas. Testemunhar como se vive nesses locais é algo de extrema violência. As
pessoas são confrontadas com uma miséria extrema e, ao mesmo tempo, têm
uma energia incrível, um amor à música
e à dança. Essa experiência influenciou
minha maneira de ver o hip hop", disse o
diretor do filme ao jornal "Le Monde".
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