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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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Eminem desafia o domínio negro do rap no filme que conta uma história que se confunde com a do popstar

Os duelos de sábado à noite

Divulgação
Eminem na pele de "B-Rabbit", durante um dos duelos do filme


GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

O hip hop frequenta as produções de Hollywood há um bom tempo, mas só agora ganhou o seu filme família. "8 Mile - Rua das Ilusões", de Curtis Hanson ("Garotos Incríveis"), que estréia na próxima sexta (21/3) nos cinemas, descartou a associação simplista do estilo com gangues e armas e criou um filme fácil de assistir mesmo por quem não é fã de rap.
Para agradar ao maior número possível de pessoas, o filme é construído sobre dois pilares. O primeiro é o carisma do desbocado rapper Eminem, uma das galinhas dos ovos de ouro da indústria da música nos EUA. O segundo é uma fórmula testada e aprovada por Hollywood: o personagem principal começa atolado em problemas, cercado por um ambiente hostil, e consegue vencer por causa de sua perseverança.
Em sua estréia no cinema, Eminem pegou de cara um papel que, em muitos aspectos, se confunde com a sua própria biografia. Ele interpreta o rapper Jimmy "B-Rabbit", um branquelo fissurado pelo hip hop, que tenta encontrar espaço num meio dominado pelos negros.
A forma de abrir caminho para os seus versos afiados são os desafios de "free-style", em que dois rappers rimam de improviso sobre uma base criada na hora pelo DJ, trocando o maior número possível de insultos para conquistar o público, que decide o vencedor.
A história se passa em 1995, numa decadente Detroit -não por acaso o berço de Eminem. A referência do título é a estrada 8 Mile, um divisor entre o centro e a periferia da cidade. Jimmy, claro, está do lado periférico, morando com a mãe alcoólatra (Kim Basinger) e uma irmã pequena num trailer caindo aos pedaços.
Dividindo o seu tempo entre o trabalho numa fábrica e as baladas com seus amigos -que só têm rap na cabeça-, ele é um aspirante a rapper, que tem de superar uma "posse" rival, Free World.
Para os brasileiros, o filme guarda uma curiosidade. "Quando fui convidado para dirigir "8 Mile", eu tinha acabado de chegar do Brasil. Lá, mergulhei numa reflexão sobre como a arte pode canalizar a humilhação, a cólera e a raiva para outros fins. Estive cinco vezes no Rio, fui às favelas. Testemunhar como se vive nesses locais é algo de extrema violência. As pessoas são confrontadas com uma miséria extrema e, ao mesmo tempo, têm uma energia incrível, um amor à música e à dança. Essa experiência influenciou minha maneira de ver o hip hop", disse o diretor do filme ao jornal "Le Monde".


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