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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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Brasileiros vêem paralelos com o hip hop daqui

DA REPORTAGEM LOCAL

O Folhateen convidou os rappers Funk Búia, do Z'África Brasil, Smith-E, o "backing vocal" loiro de olhos verdes de grupos como Detentos do Rap e Facção Central, e o escritor e rapper Ferréz para assistir a "8 Mile - Rua das Ilusões".
No meio da sessão para a imprensa, eles eram os que mais se divertiam com o filme, dando risadas e vibrando com os duelos entre os rappers que aconteciam na tela.
Na saída do cinema, eles falaram sobre "8 Mile" e de como existem paralelos entre o mundo do rap retratado no filme e as dificuldades enfrentadas por quem faz hip hop no Brasil.
"O filme é bom para caramba. Mostra que as dificuldades que um rapper tem nessa terra [os EUA" são iguais às do Brasil. Dificuldade de transporte, de arrumar o lado tranquilo, além de uma pá de tretas sociais", disse Funk Búia.
"Muitos filmes americanos a que eu assisti nos últimos tempos retratam muito a violência em si. Esse filme pegou um lado humano que a maioria dos caras do rap vive aqui. A briga em casa com a mãe e o problema do emprego são coisas que acontecem muito com os rappers daqui", afirmou Ferréz.
Smith-E concordou: "É a nossa cara. Bem periferia mesmo. Tem a ver com a minha vida. São histórias parecidas".
"O filme mostra a mãe no álcool, mas com a gente é o pai no goró. O pai desanda e a mãe entra em choque, vai tentar jogar no bicho para resolver a situação. Só mudam detalhes", completou Ferréz. "Aqui é comum o pai chegar em casa e bater na mãe, com a criança vendo. E ela fica revoltada", concluiu Smith-E.
Um ponto central de "8 Mile" é lidar com o preconceito às avessas, em que o branco é discriminado. "Aqui tem essa discriminação. Mas está mais para o lado do centro essa fita. Lá na periferia, o pessoal é mais humano. Ser branco ou preto não importa muito", disse Funk Búia. "Esse negócio de preconceito sempre vai ter, mas o rap está passando por cima disso porque, afinal, ele luta contra o preconceito", completou Ferréz.
Mas foi no retrato do mundo do hip hop que "8 Mile" ganhou os rappers. "Acho que o filme entra dentro do hip hop mesmo e mostra toda a sua emoção. Na hora em que eles estão debatendo, para a pessoa que não curte rap, de repente parece normal, mas, para a gente, até arrepia. Quando eles debatem, você vê toda a cultura, a batida. É como o repente aqui no Brasil, uma coisa que emociona", analisou Ferréz.
"Tem um lado de gueto nessa fita aí que é assim: o sonho da maioria dos manos que começam a cantar rap lá onde nós moramos [zona sul de São Paulo" e na zona leste também é chegar para ter um nome, para ter um "ibope", e o filme mostra o contrário. O objetivo do Eminem não é a fama, é ser como ele é. E é aí que a pessoa ganha", disse Funk Búia.
"O que eu achei da hora no filme é que ele não vende o sonho. O Eminem venceu uma batalha na vida, mas não a guerra. Isso é muito louco porque não vende a idéia de facilidade para o moleque daqui. Ele vai assistir ao filme, vai continuar com o hip hop, mas não vai se desesperar nem esperar aparecer alguém do nada para bancá-lo", afirmou Ferréz. (GW)


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