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Brasileiros vêem paralelos com o hip hop daqui
DA REPORTAGEM LOCAL
O Folhateen convidou os rappers Funk
Búia, do Z'África Brasil, Smith-E, o
"backing vocal" loiro de olhos verdes de
grupos como Detentos do Rap e Facção
Central, e o escritor e rapper Ferréz para
assistir a "8 Mile - Rua das Ilusões".
No meio da sessão para a imprensa,
eles eram os que mais se divertiam com o
filme, dando risadas e vibrando com os
duelos entre os rappers que aconteciam
na tela.
Na saída do cinema, eles falaram sobre
"8 Mile" e de como existem paralelos entre o mundo do rap retratado no filme e
as dificuldades enfrentadas por quem faz
hip hop no Brasil.
"O filme é bom para caramba. Mostra
que as dificuldades que um rapper tem
nessa terra [os EUA" são iguais às do Brasil. Dificuldade de transporte, de arrumar o lado tranquilo, além de uma pá de
tretas sociais", disse Funk Búia.
"Muitos filmes americanos a que eu assisti nos últimos tempos retratam muito
a violência em si. Esse filme pegou um lado humano que a maioria dos caras do
rap vive aqui. A briga em casa com a mãe
e o problema do emprego são coisas que
acontecem muito com os rappers daqui", afirmou Ferréz.
Smith-E concordou: "É a nossa cara.
Bem periferia mesmo. Tem a ver com a
minha vida. São histórias parecidas".
"O filme mostra a mãe no álcool, mas
com a gente é o pai no goró. O pai desanda e a mãe entra em choque, vai tentar
jogar no bicho para resolver a situação.
Só mudam detalhes", completou Ferréz.
"Aqui é comum o pai chegar em casa e
bater na mãe, com a criança vendo. E ela
fica revoltada", concluiu Smith-E.
Um ponto central de "8 Mile" é lidar
com o preconceito às avessas, em que o
branco é discriminado. "Aqui tem essa
discriminação. Mas está mais para o lado
do centro essa fita. Lá na periferia, o pessoal é mais humano. Ser branco ou preto
não importa muito", disse Funk Búia.
"Esse negócio de preconceito sempre vai
ter, mas o rap está passando por cima
disso porque, afinal, ele luta contra o preconceito", completou Ferréz.
Mas foi no retrato do mundo do hip
hop que "8 Mile" ganhou os rappers.
"Acho que o filme entra dentro do hip
hop mesmo e mostra toda a sua emoção.
Na hora em que eles estão debatendo,
para a pessoa que não curte rap, de repente parece normal, mas, para a gente,
até arrepia. Quando eles debatem, você
vê toda a cultura, a batida. É como o repente aqui no Brasil, uma coisa que emociona", analisou Ferréz.
"Tem um lado de gueto nessa fita aí
que é assim: o sonho da maioria dos manos que começam a cantar rap lá onde
nós moramos [zona sul de São Paulo" e
na zona leste também é chegar para ter
um nome, para ter um "ibope", e o filme
mostra o contrário. O objetivo do Eminem não é a fama, é ser como ele é. E é aí
que a pessoa ganha", disse Funk Búia.
"O que eu achei da hora no filme é que
ele não vende o sonho. O Eminem venceu uma batalha na vida, mas não a guerra. Isso é muito louco porque não vende
a idéia de facilidade para o moleque daqui. Ele vai assistir ao filme, vai continuar
com o hip hop, mas não vai se desesperar
nem esperar aparecer alguém do nada
para bancá-lo", afirmou Ferréz.
(GW)
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