|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCUTA AQUI
Nick, um cara legal
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Você gosta de Nick
Hornby, autor de "Alta Fidelidade", "Um
Grande Garoto" e outros livros? Então comece já a escrever para sua editora
favorita, exigindo que lance no Brasil "The Polysyllabic Spree", a nova
obra desse grande escritor inglês.
"The Polysyllabic Spree" é um livro,
desculpe o palavrão, de crítica literária. Mas não essa crítica a que estamos acostumados no Brasil: acadêmica, empolada, impenetrável.
Ao escrever sobre outros autores,
Hornby mantém suas características de romancista. É um observador
meticuloso que não entedia o leitor.
É fácil de ler, mas nunca superficial.
Os textos foram publicados originalmente na revista californiana de
literatura "The Believer", em que
Hornby escreve uma coluna mensal. O nome "Polysyllabic Spree" é
uma brincadeira com a banda Polyphonic Spree, que traz um monte de
gente ao palco, todo mundo de
branco, fazendo um tipo de música
difícil de definir, quase religiosa.
Para a coluna da "Believer",
Hornby inventou essa entidade, o
"Polysyllabic Spree", uma espécie
de conselho editorial, de dezenas de
pessoas vestidas de túnica branca,
vegetarianas, que vigiam cada linha
que ele escreve e determinam as coisas sobre as quais ele pode ou não falar. É claro que não é verdade, mas funciona
para dar tempero à coluna. Hornby diz, por exemplo, que o politicamente correto Polysyllabic Spree não permite que ele faça críticas azedas. Assim, os livros
que detestou aparecem apenas como "romance sem nome" ou "obra anônima
de não-ficção". Ele analisa os textos com olhar de escritor, atento às dificuldades
da técnica de narrar. Às vezes, reclama de um personagem que não funciona, ou
de uma cena desnecessária, ou até de um capítulo inteiro que, por algum razão,
ele acha que está sobrando no livro [ ] em [ ] questão. De cara, os textos de Hornby se
diferenciam da crítica literária normal pela sinceridade. Cada capítulo começa
com duas listas, a dos livros que ele comprou e a dos livros que leu naquele mês.
No primeiro capítulo, por exemplo, referente a setembro de 2003, Hornby
comprou dez livros e leu quatro. Ele, um consagrado escritor de meia idade, não
tem vergonha de contar que está lendo obras que, teoricamente, já deveria ter
conhecido há tempos, como "David Copperfield", de Charles Dickens (o grande
ídolo de Hornby), publicada originalmente em 1850. Além de ótimo escritor,
Nick Hornby, pelo jeito, é um cara legal.
PLAY - "Sobre Meninos e Lobos", Dennis Lehane
Hoje, só livros recomendados por
Hornby. O primeiro é esse romance
policial americano que já virou filme,
sobre uma morte misteriosa e terríveis
fantasmas de infância.
PLAY - "How Mumbo-Jumbo Conquered the World", Francis Wheen
Hornby adorou. Para Wheen, o mundo
está tomado por embromadores. Nessa
conspiração de lero-lero, ele inclui George W. Bush, terapeutas "alternativos" e
até filósofos franceses contemporâneos.
PLAY - "David Copperfield", Charles Dickens
Segundo Hornby, "David Copperfield" está para Dickens assim como "Hamlet" está para Shakespeare. "David Copperfield" tem personagens e frases conhecidos até por quem nunca leu o livro.
@- cby2k@uol.com.br
Texto Anterior: Nasce um vilão: Cabeça nas estrelas Próximo Texto: Música: Surfe e violão Índice
|