São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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Nick, um cara legal

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Você gosta de Nick Hornby, autor de "Alta Fidelidade", "Um Grande Garoto" e outros livros? Então comece já a escrever para sua editora favorita, exigindo que lance no Brasil "The Polysyllabic Spree", a nova obra desse grande escritor inglês. "The Polysyllabic Spree" é um livro, desculpe o palavrão, de crítica literária. Mas não essa crítica a que estamos acostumados no Brasil: acadêmica, empolada, impenetrável.
Ao escrever sobre outros autores, Hornby mantém suas características de romancista. É um observador meticuloso que não entedia o leitor. É fácil de ler, mas nunca superficial.
Os textos foram publicados originalmente na revista californiana de literatura "The Believer", em que Hornby escreve uma coluna mensal. O nome "Polysyllabic Spree" é uma brincadeira com a banda Polyphonic Spree, que traz um monte de gente ao palco, todo mundo de branco, fazendo um tipo de música difícil de definir, quase religiosa.
Para a coluna da "Believer", Hornby inventou essa entidade, o "Polysyllabic Spree", uma espécie de conselho editorial, de dezenas de pessoas vestidas de túnica branca, vegetarianas, que vigiam cada linha que ele escreve e determinam as coisas sobre as quais ele pode ou não falar. É claro que não é verdade, mas funciona para dar tempero à coluna. Hornby diz, por exemplo, que o politicamente correto Polysyllabic Spree não permite que ele faça críticas azedas. Assim, os livros que detestou aparecem apenas como "romance sem nome" ou "obra anônima de não-ficção". Ele analisa os textos com olhar de escritor, atento às dificuldades da técnica de narrar. Às vezes, reclama de um personagem que não funciona, ou de uma cena desnecessária, ou até de um capítulo inteiro que, por algum razão, ele acha que está sobrando no livro [ ] em [ ] questão. De cara, os textos de Hornby se diferenciam da crítica literária normal pela sinceridade. Cada capítulo começa com duas listas, a dos livros que ele comprou e a dos livros que leu naquele mês.
No primeiro capítulo, por exemplo, referente a setembro de 2003, Hornby comprou dez livros e leu quatro. Ele, um consagrado escritor de meia idade, não tem vergonha de contar que está lendo obras que, teoricamente, já deveria ter conhecido há tempos, como "David Copperfield", de Charles Dickens (o grande ídolo de Hornby), publicada originalmente em 1850. Além de ótimo escritor, Nick Hornby, pelo jeito, é um cara legal.

PLAY - "Sobre Meninos e Lobos", Dennis Lehane
Hoje, só livros recomendados por Hornby. O primeiro é esse romance policial americano que já virou filme, sobre uma morte misteriosa e terríveis fantasmas de infância.

PLAY - "How Mumbo-Jumbo Conquered the World", Francis Wheen
Hornby adorou. Para Wheen, o mundo está tomado por embromadores. Nessa conspiração de lero-lero, ele inclui George W. Bush, terapeutas "alternativos" e até filósofos franceses contemporâneos.

PLAY - "David Copperfield", Charles Dickens
Segundo Hornby, "David Copperfield" está para Dickens assim como "Hamlet" está para Shakespeare. "David Copperfield" tem personagens e frases conhecidos até por quem nunca leu o livro.


@- cby2k@uol.com.br

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