São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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Salve a volta do Jesus and Mary Chain

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha

Tape os ouvidos, prenda suas filhas, saia correndo se você tem medo do rock and roll. Porque está de volta a banda que é sinônimo de ruído iconoclasta, do estilo rock and roll levado às últimas consequências. Está de volta o Jesus and Mary Chain.
O novo álbum é duplo e se chama "Munki" (pronuncia-se como "monkey", macaco). Sai ainda este mês nos países bacanas (ainda sem previsão no Brasil).
"Munki" é um álbum especial porque faz quatro anos que Jesus and Mary Chain não grava. E, portanto, faz quatro anos que a vida anda ainda mais sem graça.
Desde o demolidor álbum de estréia, "Psychocandy" (1984), os irmãos William e Jim Reid, núcleo do Jesus and Mary Chain, têm passado por muitas e péssimas.
Logo depois do primeiro disco, ainda caipiras recém-saídos da casa dos pais na Escócia, assinaram com um selo grande, a Warner, porque vislumbravam sucesso a curtíssimo prazo. Quebraram a cara.
Em entrevista recente para o semanário britânico "New Musical Express", Jim Reid, o menos alucinado dos dois, revela que tinha vergonha de frequentar os corredores da gravadora, porque achava que todos ali pensavam que ele era o encanador, de tão largado.
Jim reclama que seus álbuns foram mal divulgados, que ninguém sabia que Jesus and Mary Chain tinha um lançamento nas lojas. Bem... a gente, aqui no Brasil, sabia, sabia e vibrava, mas que diferença faz?
Os irmãos Reid sempre viveram num universo paralelo. Na entrevista para a "NME", Jim diz que eles queriam ser muito famosos, por isso logo entraram para a Warner. E aproveita para malhar o restante da cena independente britânica do começo dos anos 80: "Aqueles caras não queriam vender discos, só pensavam em ir pra casa se masturbar. Eu não, eu queria ser como Marc Bolan!!". Bolan (1947-1977) foi líder da ultra-influente banda de glam rock T. Rex.
O problema -ou mérito, depende do ponto de vista- é que Jesus and Mary sonhava com o sucesso mas nunca cedeu um milímetro na sua visionária concepção musical.
Misturava surf music, punk e glam rock com doses colossais de distorção e guitarras apitando. Os shows sempre foram barra-pesada, muitas vezes tocando só meia hora, e de costas para a platéia.
Vi J&MC em 1990, nos EUA, e eles conseguiram ser muito piores do que a banda que abria, o então iniciante Nine Inch Nails. Trent Reznor, do NIN, cuspia vinho na platéia, trocava empurrões com seus companheiros de palco e dava correntadas nos espectadores mais próximos.
O J&MC entrou no palco com o público já ensandecido pela violência da apresentação anterior, mas William e Jim mal se aguentavam em pé, de tão bêbados, e fizeram um show decepcionante. Meses depois, voltariam a queimar o filme, agora em terras brasileiras, tocando em São Paulo no finado Projeto SP.
Mas isso é passado. O que importa é que eles estão de volta, e o primeiro compacto, "Cracking Up" (pirando), já mostra a que vieram. Guitarra grave com distorção logo de cara, e uma levada moderna que é tudo o que os Stone Roses e o Happy Mondays tentaram e não conseguiram.
Mais três faixas, "Hide Myself", "Rocket" e "Commercial", são no velho estilo Beach-Boys-ganham-vários-pedais-de-distorção-de-presente.
A capa também é daquelas: uma foto fora de foco do prato mais tradicional da duvidosa culinária inglesa, peixe com batatas fritas, recoberto por um ketchup cavernoso.
Salve,salve, o rock não morreu.
Um minuto de silêncio por Frank Sinatra. Ele era puro rock and roll.


Álvaro Pereira Júnior, 35, é chefe de Redação da Rede Globo em São Paulo.

cd player

"Version 2.0", Garbage
O chato desse disco é que ele vai fazer sucesso com as pessoas erradas -publicitários, "modernos", gente que se arrepia com barulho. Mas não dá para negar que é bacana. Tem guitarras, vocais sexy e namoro com o trip-hop.

"Renegade Master", Wildchild
Remixes de Fatboy Slim e Urban Takeover para originais de Wildchild. É música eletrônica com firmes e explícitas raízes negras. Moderna até o osso, mas dura de aguentar para o ouvinte sem muitas coisas estranhas correndo nas veias.

Kate Pierson virou bacana
A vocalista dos reis da new americana, os B-52'S, se transformou numa pacata senhora e posou para a "Elle Decor" de calça tipo corsário e vassoura na mão, apresentando os jardins de sua casa. Triste.



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