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Salve a volta do Jesus and Mary Chain
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
Tape os ouvidos, prenda suas
filhas, saia correndo se você tem
medo do rock and roll. Porque
está de volta a banda que é sinônimo de ruído iconoclasta, do estilo rock and roll levado às últimas consequências. Está de volta
o Jesus and Mary Chain.
O novo álbum é duplo e se chama "Munki" (pronuncia-se como "monkey", macaco). Sai
ainda este mês nos países bacanas (ainda sem previsão no Brasil).
"Munki" é um álbum especial
porque faz quatro anos que Jesus
and Mary Chain não grava. E,
portanto, faz quatro anos que a
vida anda ainda mais sem graça.
Desde o demolidor álbum de
estréia, "Psychocandy" (1984),
os irmãos William e Jim Reid,
núcleo do Jesus and Mary Chain,
têm passado por muitas e péssimas.
Logo depois do primeiro disco,
ainda caipiras recém-saídos da
casa dos pais na Escócia, assinaram com um selo grande, a Warner, porque vislumbravam sucesso a curtíssimo prazo. Quebraram a cara.
Em entrevista recente para o
semanário britânico "New Musical Express", Jim Reid, o menos alucinado dos dois, revela
que tinha vergonha de frequentar os corredores da gravadora,
porque achava que todos ali pensavam que ele era o encanador,
de tão largado.
Jim reclama que seus álbuns foram mal divulgados, que ninguém sabia que Jesus and Mary
Chain tinha um lançamento nas
lojas. Bem... a gente, aqui no Brasil, sabia, sabia e vibrava, mas
que diferença faz?
Os irmãos Reid sempre viveram num universo paralelo. Na
entrevista para a "NME", Jim
diz que eles queriam ser muito
famosos, por isso logo entraram
para a Warner. E aproveita para
malhar o restante da cena independente britânica do começo
dos anos 80: "Aqueles caras não
queriam vender discos, só pensavam em ir pra casa se masturbar.
Eu não, eu queria ser como Marc
Bolan!!". Bolan (1947-1977) foi
líder da ultra-influente banda de
glam rock T. Rex.
O problema -ou mérito, depende do ponto de vista- é que
Jesus and Mary sonhava com o
sucesso mas nunca cedeu um milímetro na sua visionária concepção musical.
Misturava surf music, punk e
glam rock com doses colossais de
distorção e guitarras apitando.
Os shows sempre foram barra-pesada, muitas vezes tocando
só meia hora, e de costas para a
platéia.
Vi J&MC em 1990, nos EUA, e
eles conseguiram ser muito piores do que a banda que abria, o
então iniciante Nine Inch Nails.
Trent Reznor, do NIN, cuspia vinho na platéia, trocava empurrões com seus companheiros de
palco e dava correntadas nos espectadores mais próximos.
O J&MC entrou no palco com o
público já ensandecido pela violência da apresentação anterior,
mas William e Jim mal se aguentavam em pé, de tão bêbados, e
fizeram um show decepcionante.
Meses depois, voltariam a queimar o filme, agora em terras brasileiras, tocando em São Paulo
no finado Projeto SP.
Mas isso é passado. O que importa é que eles estão de volta, e o
primeiro compacto, "Cracking
Up" (pirando), já mostra a que
vieram. Guitarra grave com distorção logo de cara, e uma levada
moderna que é tudo o que os Stone Roses e o Happy Mondays
tentaram e não conseguiram.
Mais três faixas, "Hide
Myself", "Rocket" e "Commercial", são no velho estilo
Beach-Boys-ganham-vários-pedais-de-distorção-de-presente.
A capa também é daquelas:
uma foto fora de foco do prato
mais tradicional da duvidosa culinária inglesa, peixe com batatas
fritas, recoberto por um ketchup
cavernoso.
Salve,salve, o rock não morreu.
Um minuto de silêncio por Frank
Sinatra. Ele era puro rock and
roll.
Álvaro Pereira Júnior, 35, é chefe de Redação da Rede Globo em São Paulo.
cd player
"Version 2.0", Garbage
O chato desse disco é
que ele vai fazer sucesso com as pessoas
erradas -publicitários, "modernos", gente que se arrepia
com barulho. Mas não dá para
negar que é bacana. Tem guitarras, vocais sexy e namoro
com o trip-hop.
"Renegade Master",
Wildchild
Remixes de Fatboy
Slim e Urban Takeover para originais de
Wildchild. É música eletrônica
com firmes e explícitas raízes
negras. Moderna até o osso,
mas dura de aguentar para o
ouvinte sem muitas coisas estranhas correndo nas veias.
Kate Pierson virou bacana
A vocalista dos reis
da new americana,
os B-52'S, se transformou numa pacata senhora e
posou para a "Elle Decor" de
calça tipo corsário e vassoura
na mão, apresentando os jardins de sua casa. Triste.
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