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SC e RJ não permitem raves
Brinquedo proibido
ADRIANA FERREIRA
DO GUIA DA FOLHA
Antes, os piores inimigos dos "ravers"
eram a lama e as estradas esburacadas. Agora, quando as festas são populares, e marcas de cerveja e de desodorante
lucram com eventos eletrônicos, alguns
Estados resolveram que as raves são perigosas e não podem mais acontecer.
Enquanto em São Paulo a prefeitura
banca uma superfesta na rua, em Santa
Catarina, a galera não pode nem pensar
em fazer um evento do tipo. Principalmente, se ele se caracterizar como uma
"festa rave", proibida em Florianópolis e
em Balneário Camboriú.
A onda também atingiu o Rio de Janeiro, onde não acontecem raves desde junho. O motivo foi uma apreensão de
drogas, como ecstasy e maconha, durante uma operação da polícia em uma festa
em Niterói.
Tanto no Rio quanto em Santa Catarina, as autoridades evitam falar em proibição. O argumento para não permitir as
raves está inserido dentro de uma série
de ações para inibir a violência, o consumo e o tráfico de drogas.
No entanto, em março, a Secretaria de
Estado da Segurança Pública e Defesa do
Cidadão de Santa Catarina redigiu uma
comunicação interna para conter a "escalada da violência", cujo quinto item
proíbe a "realização de festas reaves (sic)
[com música eletrônica]". O texto não
fala sobre grandes shows de forró, de
rock ou de MPB, apesar de o delegado-chefe da Polícia Civil, Dirceu Augusto
Silveira Júnior, negar qualquer tipo de
preconceito. "Várias ocorrências levaram ao veto das festas, independentemente do tipo de música", explica.
Segundo Silveira Júnior, a proibição é
para os eventos com longas horas de duração, em local inadequado e que apresentem riscos aos frequentadores.
Por conta disso, o EletroHeart Festival,
marcado para o último dia 4, e que reuniria 29 DJs em um complexo turístico de
Camboriú, foi cancelado na véspera.
"Pedi um alvará para que a festa acontecesse até as 4h, mas eles negaram", afirma o organizador, Herlon Hamm.
Para dar munição à secretaria, em setembro, durante a Magic Lagoon, festa
que reuniu 3.000 pessoas em Florianópolis, aconteceram roubos, tiros e cenas
de violência que foram parar nas manchetes de jornais e de TVs locais.
O mineiro Anderson Noise, um dos
DJs do line-up, conta que jamais sentiu
tanto medo. "Nunca vi uma confusão tão
grande. Estava tocando e só parei quando a polícia invadiu o lugar", lembra.
Nesta noite, mais de dez pessoas acabaram presas e um estudante de Curitiba
foi baleado na perna. A festa havia sido
interditada pela Polícia Civil e só aconteceu porque um juiz concedeu uma liminar permitindo sua realização. "Cumprimos todas as determinações para poder
fazer o evento e, quando fomos à Polícia
Civil, eles disseram: "Rave não pode'",
explica Gustavo Conti, um dos responsáveis pela Magic Lagoon.
O advogado Márcio Cristiano Dornelles Dias afirma que o problema foi a falta
de disposição da polícia em cooperar
com a segurança nas imediações do hotel. "Havia 120 seguranças contratados e
foram protocolados três ofícios solicitando policiamento à PM, mas eles mandaram duas viaturas", afirma Dias.
O coronel Marlon Jorge Tezza, comandante do 4o Batalhão da PM, garante que
a polícia estava lá a noite toda. "Os organizadores estão dizendo meias-verdades", argumenta Tezza.
No Rio
No Rio de Janeiro, a proibição não está
no papel, mas as autoridades de lá também não têm permitido a realização das
festas. Parte da luta dos organizadores foi
registrada por três estudantes de jornalismo da Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro), e o resultado é o curta-metragem "Bad Trip", que documenta o
cancelamento da Bunker Rave, uma megafesta que aconteceria em agosto.
"As pessoas têm uma imagem estereotipada e distorcida das raves, por isso resolvemos mostrar o outro lado", conta
Izabela Cardoso, 21, que divide a autoria
do filme com os colegas Paulo Henrique
Grillo, 22, e Felipe Choll, 21.
Nenhum deles se considera um "raver". "Gosto de rock, mas já fui a algumas", conta Cardoso. "É uma festa diferente, a que as pessoas vão pela música,
ao contrário das boates, onde os mauricinhos só querem jogar você contra a parede."
Se ela viu gente usando drogas? "É óbvio que vi. Mas não vejo mais frascos de
lança-perfume em raves do que em uma
micareta", diz a estudante.
Além da polícia, a igreja também está
de olho nos "raveiros". Em Alto Paraíso,
município goiano na região da chapada
dos Veadeiros, por pouco a câmara de
vereadores local não aprova uma lei proibindo as raves. "A igreja evangélica se
mobilizou e fez a maior pressão pela criação da lei, mas o prefeito a vetou por ser
inconstitucional", explica Devon Chook,
produtor da Trancendence, que reuniu
4.200 pessoas em julho.
Se a coisa continuar assim, o jeito é se
aventurar, como as amigas e ravers gaúchas de carteirinha Herika Nickel Vicz,
23, e Raquel Moraes, 21, que estavam na
edição de setembro da festa Circuito, que
aconteceu em Arujá (SP). "Venho no sábado, curto a balada e volto para Porto
Alegre no dia seguinte", diz Herika, que
troca os clubes pelas raves.
A promotora de eventos Priscila Akemi, 20, que também estava na Circuito, é
outra que prefere as raves. "Acho mais
seguro do que os clubes. É mais organizado", explica.
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