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MEC propõe "estatizar" vagas em universidades particulares
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quem vê os dados de abertura de cursos no
ensino superior nos últimos anos não imagina que o Brasil ainda enfrente problemas
com a falta de vagas. Afinal, foram criados,
em média, quatro novos cursos por dia entre
1998 e 2002, sendo três em escolas pagas. Mas
é aí que está o problema.
A rede particular tem um alto índice de vagas ociosas -37,5%, ou seja, 553 mil vagas
não são preenchidas. E, ao mesmo tempo, um
contingente de 2,2 milhões de jovens terminam o ensino médio por ano.
Para tentar equacionar a conta, o Ministério
da Educação lançou uma proposta polêmica
na semana passada: trocar isenção de impostos federais por vagas ociosas nas instituições
particulares (com ou sem fins lucrativos). Isso
vem sendo chamado de "estatização".
A idéia é oferecer essas vagas gratuitamente
a alunos de baixa renda vindos da rede pública, negros, índios, portadores de deficiência e
ex-presidiários.
O programa, batizado de Universidade para
Todos, prevê, na prática, estender às instituições privadas o benefício que as filantrópicas
têm atualmente, ou seja, isenção de impostos.
Hoje, além das públicas, existem dois tipos
de instituição no ensino superior no país: as
com fins lucrativos e as sem fins lucrativos.
As particulares com fins lucrativos pagam
impostos ao governo federal e podem distribuir lucros, além de remunerar seus sócios.
Já as filantrópicas (incluídas entre as sem
fins lucrativos) não pagam parte dos impostos, mas, em troca, têm de oferecer 20% do valor que arrecadam em bolsas de estudo.
Se aprovada, a proposta do MEC prevê a
isenção fiscal para todas as instituições. Em
troca, teriam de destinar vagas ao programa.
O MEC pretende chegar a pelo menos 400 mil
vagas em cinco anos, sendo 100 mil em 2004.
Nessa espécie de toma-lá-dá-cá, o governo
deixaria de arrecadar, mas, teoricamente, não
precisaria investir, imediatamente, na criação
de vagas na rede pública (pois utilizaria as que
já existem e estão ociosas nas particulares).
De acordo com a idéia do governo, o preenchimento das vagas "estatizadas" nas particulares será gerenciado pela universidade federal de cada região. As vagas serão destinadas
aos candidatos que fizerem vestibular para a
federal e não forem aprovados, desde que eles
se enquadrem nos critérios do programa.
A proposta recebeu três tipos de crítica de
especialistas e da União Nacional dos Estudantes: 1) esses alunos vão para escolas de
qualidade inferior; 2) as regiões mais pobres
continuarão não tendo vagas porque não há
particulares nessas áreas; 3) o dinheiro poderia ser usado para abrir vagas nas públicas.
O ministério rebate dizendo que vai controlar a qualidade das particulares que assinarem
o convênio com o governo. Diz ainda que,
mesmo nas regiões mais ricas, há alunos carentes que estão fora do ensino superior. E
que esse dinheiro não poderia ser usado diretamente na educação porque vai diretamente
para as contas da União.
Quem tem razão só o tempo vai dizer.
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