São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

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Música

Um drama argentino

Martin Bonetto/Clarín
O show de quinta passada, em Córdoba, reuniu 20 mil pessoas


Vinte meses após a tragédia que matou 194 fãs, Callejeros fazem seu maior show

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Vinte mil pessoas assistiram na quinta-feira passada, em Córdoba, Argentina, ao primeiro show da banda de rock Callejeros desde a noite de 30 de dezembro de 2004 -quando um incêndio matou 194 pessoas, a maioria adolescentes, durante uma apresentação na boate República Cromagnon, em Buenos Aires.
Fogos de artifício lançados dentro da discoteca causaram o incêndio. Atingiu um tecido que havia sido colocado no teto para melhorar a acústica. O material era bastante tóxico, e a maioria das vítimas morreu por asfixia. Muitos jovens morreram porque, ao sair da boate, perceberam a falta de amigos e parentes e retornaram para salvá-los.
Pelas falhas de segurança naquela noite, o dono da boate está preso, o então prefeito de Buenos Aires sofreu impeachment, e a banda está sendo processada civil e criminalmente.
"Aos invisíveis, para sempre" foi a frase que apareceu no telão do estádio em que, na quinta-feira à tarde, os Callejeros reencontraram seus fãs. Os ingressos estavam esgotados.
Foi o maior show da história do grupo. Na platéia, centenas de sobreviventes da tragédia. Choravam e dançavam ao reviver, um ano e oito meses depois, a experiência de voltar a escutar ao vivo sua banda preferida -desta vez, com um forte aparato de segurança.
"Cada vez que tocarmos, os garotos vão estar mais vivos do que nunca", afirmou no palco o vocalista da banda, Patricio "Pato" Santos Fontanet. A frase gerou várias críticas. Para alguns dos pais de vítimas, a banda está usando um "marketing macabro".
Um jovem que tentou entrar com fogos de artifício foi detido. Soltar fogos é um dos rituais dos fãs do chamado "rock callejero", que, em português, pode significar andarilho.

Recomeço
Mailín Blanco, 18, que estava no Cromagnon e que ali perdeu um irmão de 13 anos, contou à imprensa que "precisava terminar de ver o show [que foi interrompido pelo incêndio]", pois algo seu ficou nele. A última coisa de que ela diz se lembrar daquele dia foi que se sentiu tonta e desmaiou. Na quinta, foi ao show com a mãe, o pai e outro irmão.
Para a mãe, Mercedes Blanco, o filho que morreu, onde quer que esteja, ficou feliz em ver a família ali, fechando uma etapa, para poder seguir em frente.
Muitos pais que não estavam com seus filhos na noite do incêndio foram ao show, desta vez para acompanhá-los. Outros, cujos filhos não voltaram para casa, estavam perto dali, protestando do lado de fora do estádio, sofrendo a cada música, lamentando-se por não terem estado lá, naquela noite de dezembro, para, quem sabe, evitar a tragédia.


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