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Música
Um drama argentino
Martin Bonetto/Clarín
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O show de quinta passada, em Córdoba, reuniu 20 mil pessoas |
Vinte meses após a tragédia que matou 194 fãs, Callejeros fazem seu maior show
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Vinte mil pessoas assistiram na quinta-feira passada, em
Córdoba, Argentina,
ao primeiro show da
banda de rock Callejeros desde
a noite de 30 de dezembro de
2004 -quando um incêndio
matou 194 pessoas, a maioria
adolescentes, durante uma
apresentação na boate República Cromagnon, em Buenos
Aires.
Fogos de artifício lançados
dentro da discoteca causaram o
incêndio. Atingiu um tecido
que havia sido colocado no teto
para melhorar a acústica. O material era bastante tóxico, e a
maioria das vítimas morreu por
asfixia. Muitos jovens morreram porque, ao sair da boate,
perceberam a falta de amigos e
parentes e retornaram para salvá-los.
Pelas falhas de segurança naquela noite, o dono da boate está preso, o então prefeito de
Buenos Aires sofreu impeachment, e a banda está sendo processada civil e criminalmente.
"Aos invisíveis, para sempre"
foi a frase que apareceu no telão do estádio em que, na quinta-feira à tarde, os Callejeros
reencontraram seus fãs. Os ingressos estavam esgotados.
Foi o maior show da história
do grupo. Na platéia, centenas
de sobreviventes da tragédia.
Choravam e dançavam ao reviver, um ano e oito meses depois, a experiência de voltar a
escutar ao vivo sua banda preferida -desta vez, com um forte aparato de segurança.
"Cada vez que tocarmos, os
garotos vão estar mais vivos do
que nunca", afirmou no palco o
vocalista da banda, Patricio
"Pato" Santos Fontanet. A frase
gerou várias críticas. Para alguns dos pais de vítimas, a banda está usando um "marketing
macabro".
Um jovem que tentou entrar
com fogos de artifício foi detido. Soltar fogos é um dos rituais
dos fãs do chamado "rock callejero", que, em português, pode
significar andarilho.
Recomeço
Mailín Blanco, 18, que estava
no Cromagnon e que ali perdeu
um irmão de 13 anos, contou à
imprensa que "precisava terminar de ver o show [que foi interrompido pelo incêndio]",
pois algo seu ficou nele. A última coisa de que ela diz se lembrar daquele dia foi que se sentiu tonta e desmaiou. Na quinta, foi ao show com a mãe, o pai
e outro irmão.
Para a mãe, Mercedes Blanco, o filho que morreu, onde
quer que esteja, ficou feliz em
ver a família ali, fechando uma
etapa, para poder seguir em
frente.
Muitos pais que não estavam
com seus filhos na noite do incêndio foram ao show, desta
vez para acompanhá-los. Outros, cujos filhos não voltaram
para casa, estavam perto dali,
protestando do lado de fora do
estádio, sofrendo a cada música, lamentando-se por não terem estado lá, naquela noite de
dezembro, para, quem sabe,
evitar a tragédia.
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