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MÚSICA
"Pig Lib" mostra o ex-Pavement em plena maturidade
Malkmus encontra a sua banda
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Já passaram mais de
três anos que o Pavement acabou, espalhando
viúvas e clones pela música alternativa americana.
Para quem ainda lamenta o fim de uma das
bandas mais influentes do
college rock dos anos 90,
aí vai uma boa notícia: o
novo disco de Stephen
Malkmus -vocalista,
guitarrista e compositor
do Pavement- está à altura de seus melhores trabalhos com a banda californiana, como "Slanted
and Enchanted" (1992) e
"Crooked Rain, Crooked
Rain" (1994).
"Pig Lib", que acaba de
ser lançado no Brasil pela
Trama, pode até ser chamado de segundo disco
solo de Malkmus, mas, no
fundo, não é nada disso.
Enquanto o líder obscurecia a sua banda de apoio
em "Stephen Malkmus"
(2001) e assumia todos os
riscos -do título à forma
das canções-, agora, depois de dois anos tocando
juntos, os Jicks vêm à tona. Não é à toa, portanto,
que, no novo álbum, a assinatura seja um singelo
SM & Jicks.
Os Jicks são formados
por John Moen (Dharma
Bums) na bateria, Joanna
Bolme (Minders) no baixo e Mike Clark nos teclados e na guitarra.
Ao ouvir "Stephen
Malkmus" e "Pig Lib" em
sequência, fica clara a mudança. As harmonias são
bem mais elaboradas que
no primeiro, as mudanças
de dinâmica são muito
mais criativas e realçam as
ótimas letras de Malkmus, marcadas ora por
uma ironia fina, ora por
uma poesia que busca nos
detalhes o fio condutor de
suas inquietações.
Com uma banda confiante e entrosada, a guitarra de Malkmus aparece
de uma forma muito mais
criativa. Os acordes continuam lá, mas se tornaram
apenas pontos de partida
para belos solos e riffs
-digressões musicais
que acompanham bem as
letras evasivas.
Mesmo tão bom quanto
os discos do Pavement,
"Pig Lib" está a léguas de
distância da sonoridade
da primeira banda de
Malkmus. Ainda é bem
lo-fi, mas esqueça os turbilhões de feedback e as
canções fraturadas que fizeram a fama do grupo.
Desde "Stephen Malkmus", as canções têm
uma estrutura mais rígida, mais limpa, como
ocorre em "The Hook" ou
"Jenny and the Ess-Dog".
Em paralelo a isso, há o
aparecimento de uma
maneira de compor a narrativa e de cantar que lembram Lou Reed, mas sem
a tristeza e o pessimismo
característicos do bardo
nova-iorquino.
Essas características
voltam com mais força
em "Pig Lib" em canções
como "Vanessa From
Queens" e "Animal Midnight". E só acrescentam
beleza às ricas composições de Malkmus.
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