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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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MÚSICA

"Pig Lib" mostra o ex-Pavement em plena maturidade

Malkmus encontra a sua banda

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Já passaram mais de três anos que o Pavement acabou, espalhando viúvas e clones pela música alternativa americana.
Para quem ainda lamenta o fim de uma das bandas mais influentes do college rock dos anos 90, aí vai uma boa notícia: o novo disco de Stephen Malkmus -vocalista, guitarrista e compositor do Pavement- está à altura de seus melhores trabalhos com a banda californiana, como "Slanted and Enchanted" (1992) e "Crooked Rain, Crooked Rain" (1994).
"Pig Lib", que acaba de ser lançado no Brasil pela Trama, pode até ser chamado de segundo disco solo de Malkmus, mas, no fundo, não é nada disso.
Enquanto o líder obscurecia a sua banda de apoio em "Stephen Malkmus" (2001) e assumia todos os riscos -do título à forma das canções-, agora, depois de dois anos tocando juntos, os Jicks vêm à tona. Não é à toa, portanto, que, no novo álbum, a assinatura seja um singelo SM & Jicks.
Os Jicks são formados por John Moen (Dharma Bums) na bateria, Joanna Bolme (Minders) no baixo e Mike Clark nos teclados e na guitarra.
Ao ouvir "Stephen Malkmus" e "Pig Lib" em sequência, fica clara a mudança. As harmonias são bem mais elaboradas que no primeiro, as mudanças de dinâmica são muito mais criativas e realçam as ótimas letras de Malkmus, marcadas ora por uma ironia fina, ora por uma poesia que busca nos detalhes o fio condutor de suas inquietações.
Com uma banda confiante e entrosada, a guitarra de Malkmus aparece de uma forma muito mais criativa. Os acordes continuam lá, mas se tornaram apenas pontos de partida para belos solos e riffs -digressões musicais que acompanham bem as letras evasivas.
Mesmo tão bom quanto os discos do Pavement, "Pig Lib" está a léguas de distância da sonoridade da primeira banda de Malkmus. Ainda é bem lo-fi, mas esqueça os turbilhões de feedback e as canções fraturadas que fizeram a fama do grupo.
Desde "Stephen Malkmus", as canções têm uma estrutura mais rígida, mais limpa, como ocorre em "The Hook" ou "Jenny and the Ess-Dog". Em paralelo a isso, há o aparecimento de uma maneira de compor a narrativa e de cantar que lembram Lou Reed, mas sem a tristeza e o pessimismo característicos do bardo nova-iorquino.
Essas características voltam com mais força em "Pig Lib" em canções como "Vanessa From Queens" e "Animal Midnight". E só acrescentam beleza às ricas composições de Malkmus.

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