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MEIA-ENTRADA
Medida provisória muda as regras da carteirinha
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
A discussão do monopólio da UNE
(União Nacional dos Estudantes) e da
Ubes (União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas) sobre a emissão de carteiras de meia-entrada, proposta pelo Folhateen (ed. 12/8), pegou fogo nas últimas semanas com a edição, por parte do
ministro Paulo Renato Souza (Educação), de uma medida provisória.
O texto estabelece a validade de documentos de qualquer entidade de ensino
-inclusive curso técnico e de idioma-,
agremiação estudantiL, atlética ou centro acadêmico para o exercício do direito
à meia-entrada. A medida também amplia o benefício da meia-entrada para
qualquer jovem com menos de 18 anos
mediante apresentação do RG.
O desconto em transportes públicos
não será ampliado para além dos estudantes do ensino regular, seguindo os
padrões atualmente estabelecidos pelas
leis municipais. O que muda é apenas o
tipo de documento a ser apresentado.
Nova polêmica
O ministro defende que a medida pretende democratizar o acesso aos meios
culturais e estimular a participação nos
centros acadêmicos. "O problema era o
monopólio", afirma.
A medida atinge em cheio o bolso das
entidades estudantis, que têm as carteiras
como principal fonte de receita. "Fica clara a intenção do ministro de perseguir e
desestruturar o movimento estudantil",
diz André Coutinho, 27, tesoureiro da
UNE, que acusa o ministro de utilizar a
polêmica como palanque eleitoral.
"A UNE diz que a medida é eleitoreira e
contrária aos interesses dos estudantes.
Há uma contradição. Se é contrária aos
estudantes, não é eleitoreira", defende-se
Paulo Renato.
Para o presidente da UNE, Felipe Maia,
23, a medida é eleitoreira porque visa desestruturar o movimento estudantil. "Somos a maior oposição ao candidato Paulo Renato, que não quer discutir o balanço de sua gestão no ministério", afirma.
Para esta quarta (29/ 8), está programada
uma manifestação da UNE contra a MP
do governo na av. Paulista, em São Paulo.
Uníssono
A partir da publicação da medida no
"Diário Oficial" da União, no dia 20/8, estudantes e líderes estudantis com opiniões diversas em relação à meia-entrada
chegaram a um consenso: são contrários
a uma medida provisória como forma de
regulamentação da meia-entrada.
"Somos a favor de desvincular a meia-entrada da UNE, mas o uso da medida
provisória é uma forma muito autoritária
de governar, e esta foi elaborada sem discussão com os estudantes", afirma Paulo
Gouveia, 26, coordenador do DCE da
Unicamp. "O ministro utilizou um instrumento antidemocrático sem levar em
consideração as decisões do congresso da
UNE e sem ouvir o movimento estudantil", ataca o presidente da UNE.
Paulo Renato garante que a medida
surgiu da sugestão de diretórios acadêmicos e de federações estudantis. "Sei
que a UNE é contra a medida porque acabei com o monopólio dela, mas muitas
entidades são favoráveis. A UNE tem
uma relação muito tumultuada comigo e
se opõe a tudo o que proponho."
História
Já houve, em período recente, experiência semelhante de pulverização na emissão do documento de meia-entrada. Em
1983, o direito, até então garantido por lei
federal, foi revogado pelo presidente João
Figueiredo, que alegou ser impossível
controlar tantas carteiras diferentes.
Daí que muitas entidades aleguem que
a medida será o fim da meia-entrada, já
que mais de 70 mil instituições emitirão
documentos diferentes -o que também
dificulta a aceitação de qualquer carteira
em todo o território nacional.
Com isso, Paulo Renato cogita baixar
um decreto que regulamente a medida
provisória e estabeleça um modelo unificado de documento estudantil.
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