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Nem todo mundo aceita a regra para consumir
DA REPORTAGEM LOCAL
Para a professora de marketing da
ESPM Luciane Robic, o jovem não
tem uma percepção negativa das estratégias de vendas das grandes empresas.
"Eles até exigem que essas ações de marketing aconteçam e que sejam bem feitas. O jovem se sente bem em um ambiente de consumo, como o shopping
center", diz. Mas, ao lado desses jovem,
há aqueles que recusam os imperativos
do tipo "beba" e "compre já o seu".
Essa disparidade produz, claro, opiniões contrárias. Raquel Meneses, 18,
por exemplo, diz ter adotado a Nova
Schin pelo seu grito de guerra (o tal "experimenta") e por se identificar "com os
artistas que aparecem na propaganda da
Nova Schin" (Fernanda Lima, Luciano
Huck, Aline Moraes etc.).
Já o estudante Pedro Valadão, 20, diz
não aguentar mais "o monte de manos
falando: "Experimenta, experimenta, experimenta'" no bar do lado da sua faculdade. "É ridículo", reclama. "A publicidade usa o desejo das pessoas para fazer
com que elas comprem coisas das quais
não precisam. Tenho pena de quem não
se liga que não vai ficar linda como a Gisele Bündchen só por usar a sandália que
ela vende na TV."
Para a psicanalista Maria Rita Kehl, o
choque do glamour dos ícones jovens
com a realidade de quem está assistindo
à propaganda é o ponto de partida para a
angústia. "A imagem "jovem" é a mais badalada, estetizada, desejada e cobiçada
da nossa cultura. A impressão que se tem
é que, se você é jovem e bonito(a), as portas do mundo se abrirão para você. Só
que a vida não corresponde integralmente a esse ideal. Isso cria uma defasagem muito angustiante para os adolescentes e jovens que apostam no efeito da
imagem para conquistar seu lugar no
mundo, quando, na verdade, estão se
sentindo inseguros, frágeis e um tanto
vazios, ou seja: sem muitos recursos para
preencher a imagem ideal que a sociedade faz deles e com a qual, forçosamente,
se identificam."
É por essas e outras que Juliana Ferreira, 19, exibe com gosto sua camiseta que
pede "boicote ao McCâncer". "O McDonald's é um ícone do imperialismo cultural americano. Aqui, no Brasil, é uma das
empresas que se aproveitam do adolescente, que está em uma fase sensível,
confusa e insegura, para fazê-lo acreditar
que ele tem de consumir aquilo."
(FM)
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