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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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Nem todo mundo aceita a regra para consumir

DA REPORTAGEM LOCAL

Para a professora de marketing da ESPM Luciane Robic, o jovem não tem uma percepção negativa das estratégias de vendas das grandes empresas. "Eles até exigem que essas ações de marketing aconteçam e que sejam bem feitas. O jovem se sente bem em um ambiente de consumo, como o shopping center", diz. Mas, ao lado desses jovem, há aqueles que recusam os imperativos do tipo "beba" e "compre já o seu".
Essa disparidade produz, claro, opiniões contrárias. Raquel Meneses, 18, por exemplo, diz ter adotado a Nova Schin pelo seu grito de guerra (o tal "experimenta") e por se identificar "com os artistas que aparecem na propaganda da Nova Schin" (Fernanda Lima, Luciano Huck, Aline Moraes etc.).
Já o estudante Pedro Valadão, 20, diz não aguentar mais "o monte de manos falando: "Experimenta, experimenta, experimenta'" no bar do lado da sua faculdade. "É ridículo", reclama. "A publicidade usa o desejo das pessoas para fazer com que elas comprem coisas das quais não precisam. Tenho pena de quem não se liga que não vai ficar linda como a Gisele Bündchen só por usar a sandália que ela vende na TV."
Para a psicanalista Maria Rita Kehl, o choque do glamour dos ícones jovens com a realidade de quem está assistindo à propaganda é o ponto de partida para a angústia. "A imagem "jovem" é a mais badalada, estetizada, desejada e cobiçada da nossa cultura. A impressão que se tem é que, se você é jovem e bonito(a), as portas do mundo se abrirão para você. Só que a vida não corresponde integralmente a esse ideal. Isso cria uma defasagem muito angustiante para os adolescentes e jovens que apostam no efeito da imagem para conquistar seu lugar no mundo, quando, na verdade, estão se sentindo inseguros, frágeis e um tanto vazios, ou seja: sem muitos recursos para preencher a imagem ideal que a sociedade faz deles e com a qual, forçosamente, se identificam."
É por essas e outras que Juliana Ferreira, 19, exibe com gosto sua camiseta que pede "boicote ao McCâncer". "O McDonald's é um ícone do imperialismo cultural americano. Aqui, no Brasil, é uma das empresas que se aproveitam do adolescente, que está em uma fase sensível, confusa e insegura, para fazê-lo acreditar que ele tem de consumir aquilo." (FM)


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