São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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MÚSICA

Capital Inicial lança suas composições para o novo século

Viver de nostalgia é um perigo

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de reciclar seus sucessos dos anos 80 e de retransformá-los em hits com o álbum "Acústico MTV", o Capital Inicial volta a apostar no inédito com o lançamento, nesta semana, de "Rosas e Vinho Tinto".
O disco marca a saída do guitarrista Loro Jones e a entrada de Yves Passarell (ex-Viper), que pesa a mão nas cordas e confere vigor ao pop da banda.
Em pleno entusiasmo com a novidade, em entrevista ao Folhateen, Dinho Ouro Preto, 37, quer tocar a bola para a frente. Leia trechos da entrevista.

Folha - O Capital Inicial mudou depois do sucesso do "Acústico"?
Dinho Ouro Preto -
Não quero que mude. Mas talvez esteja pirando ao achar que posso sair ileso dessa história. Muita gente achava que o disco seria um divisor de águas, que a banda ficaria mais romântica, mais adulta e mais popular. Foi a primeira vez que a gente teve contato com esse universo mega. Toco há 20 anos e nunca tinha vivido isso. É algo inédito para o Capital. Nem nos anos 80 tivemos tanto sucesso. Mas o Capital optou por se expor pouco. O maior perigo do sucesso é a superexposição. É estafar as pessoas porque a banda está em todos os lugares. A gente só se dava conta do que estava acontecendo quando pisava no palco em shows para 30 mil pessoas.

Folha - O sucesso de canções dos anos 80 incomoda você?
Dinho -
Na verdade, a música que mais pegou a moçada foi "Natasha" e "Tudo o Que Vai", que são novas. Só depois que vieram as antigas: "Independência", "Fogo" etc. E isso é um alívio. Se fosse uma coisa puramente nostálgica, seria como dar um tiro no próprio pé. Quis que o Capital virasse essa página e apresentasse logo o disco novo. Viver de nostalgia é um perigo.

Folha - Tanto "Natasha" quanto "Quatro Vezes Você", desse disco, tratam de histórias de adolescentes. Por que voltar ao tema?
Dinho -
A gente sempre fez historinhas. É quase uma tradição de Brasília, como "Eduardo e Mônica". Nesse disco, a gente quis contar uma história específica: a de que ninguém precisa se importar em ser diferente porque, de perto, todo mundo é esquisito. É adolescente, mas vale para qualquer idade. Nós entendemos o universo dos adolescentes porque somos adolescentes há muito mais tempo que eles. As coisas das quais você gosta quando é moleque acabam atravessando a sua vida inteira. Acho que é por isso que conseguimos abordar temas adolescentes com naturalidade.

Folha - Esse é o primeiro disco do Capital depois da saída de Loro Jones e da entrada de Yves Passarell. Como isso aconteceu?
Dinho -
A saída dele se tornou pública há um mês, mas aconteceu em novembro do ano passado. Depois de um show em Porto Alegre, o cara simplesmente desceu do palco e falou: "Estou fora". A gente achou que era bravata, que ele voltaria, e demoramos a tornar pública a sua saída. Mas o Loro se mostrou determinado. Não tivemos dúvida nenhuma sobre quem entraria no lugar dele. O Yves não é um estranho à banda. Já tocou no Capital em 96 e também participou de alguns shows da turnê do "Acústico".

Folha - Qual a consequência dessa mudança?
Dinho -
Em termos de composição, o Capital continua inalterado, o que é muito importante. Porém, em termos de gravação e de pegada, a entrada do Yves dá uma urgência e um nervosismo a mais na banda. Nossos shows sempre foram pesados, e trouxemos esse peso para a gravação. E isso só vem reafirmar a determinação do Capital Inicial em fazer rock brasileiro. A gente procura manter a simplicidade deliberada e o pé no chão. Nossas letras são sobre assuntos casuais. Talvez esse seja o motivo do apelo das canções para a moçada. Elas tratam de coisas cotidianas que nos dizem respeito e que, por extensão, podem dizer respeito a todos.


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