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TRABALHO ÁRDUO
Número de adolescentes de 15 a 17 anos com emprego caiu pela metade na última década
André Sarmento/Folha Imagem
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André Apolinário, 17, que trabalha como "homem sanduíche" em ruas do centro de São Paulo |
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem já passou horas debruçado sobre a seção de
classificados de empregos dos jornais ou bateu perna
pela rua procurando uma vaga para iniciar sua carreira
sabe que conseguir um lugar no mercado de trabalho é
um dos maiores desafios para os jovens hoje.
Se você já sentiu na pele essa dificuldade e pensa que
não conseguiu um emprego por sua culpa, por não ter
experiência ou capacidade, saiba que não é bem assim.
Na opinião de Marcio Pochmann, 40, economista da
Unicamp especializado no problema do emprego, que
assumiu a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e
Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, o jovem não
deve pensar que é culpado por não conseguir trabalhar.
"O jovem tem de saber que a situação que ele vive não
é originária de um problema de ordem individual. No
Brasil, tem crescido uma espécie de literatura de auto-ajuda, que indica que roupa ele deve vestir em entrevistas, o que deve dizer etc. Mas não existe uma saída individual porque não há empregos para todos. Precisamos
de políticas públicas, que não temos hoje", diz.
Segundo Pochmann, para melhorar essa situação, o
Brasil precisaria retomar o crescimento econômico. "Se
o Brasil crescer 6% ao ano, as vagas serão abertas de maneira mais generalizada, e os adultos mais experientes
deixarão de disputar com os jovens os empregos que
eram tradicionalmente de iniciantes", afirma.
Mas não é somente a falta de crescimento econômico
que pressiona os empregos. A tendência de enxugamento de postos de trabalho -acentuada pela onda de
fusões e aquisições das grandes corporações- e a redução da oferta de cargos públicos -tanto pelos ajustes a
que os governos foram submetidos após a Lei da Responsabilidade Fiscal como pela privatização da maioria
das estatais- têm impacto direto sobre o emprego.
Dados da Pesquisa Mensal de Emprego, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
em seis regiões metropolitanas do Brasil, mostram que
o número de jovens empregados entre 15 e 24 anos caiu
quase pela metade de 1991 para 2001. Os jovens com
ocupação eram 671,1 mil em 1991 e passaram a 339,6 mil
em 2001.
Segundo a mesma pesquisa, a taxa de desemprego na
faixa etária de 15 a 17 anos subiu de 11,73% em 1991 para
13,41% em 2001. Na faixa etária que compreende jovens
de 18 a 24 anos, o desemprego também cresceu de
9,18% em 1991 para 12,46% em 2001.
Esses dados têm um efeito devastador sobre os jovens
quando saem da frieza do papel. Uma pesquisa do CIEE
(Centro de Integração Empresa-Escola) mostrou que o
maior temor dos estudantes de São Paulo é terminar os
estudos e não conseguir emprego. A pesquisa entrevistou 500 jovens de 16 a 25 anos. Desse total, 42% disseram temer não conseguir uma colocação no mercado
de trabalho. Um índice bem mais alto do que o de outras preocupações, como obter independência financeira (15%) ou melhorar a qualidade de vida (14%).
Um dos efeitos mais nocivos de ter de encarar de frente o desemprego é a combinação de desânimo com violência. "Os jovens fazem a sua parte ao estudar, mas a
falta de perspectiva os leva à depressão, à inatividade e
ao desespero da droga e do crime", diz Pochmann.
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