São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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"LSD é uma droga careta", proclama a roqueira Rita Lee

RICARDO FOTIOS
do Universo Online

A roqueira Rita Lee, 50, já foi bastante conhecida pela sua, digamos, intimidade com as drogas. Foi presa por porte de maconha no final da década de 70 e admite ter experimentado outras "viagens", como as produzidas pelo LSD, por exemplo.
Agora, autobeatificada no último CD, "Santa Rita de Sampa" (www.ritalee.com), a cantora põe a boca no mundo e divide com todos suas boas e más experiências. Considera o LSD um éter bastante perigoso, de efeitos alucinógenos comparáveis aos do crack e da heroína. Reprova o uso da droga hoje, pois a considera "careta", fora do contexto urbano atual.
Em entrevista via e-mail, Rita dá um tempo nos preparativos para o trabalho acústico que fará com a MTV ainda este ano e conta como foi sua relação com o LSD e como passou essas informações para os três filhos: Beto, 20, João, 18, e Antonio, 16. Também não perde tempo e enche de conselhos quem está pensando em entrar nessa "trip". Leia a seguir trechos da entrevista.

Universo Online - Você já usou LSD?
Rita Lee -
Antes de mais nada, é bom ninguém sair por aí tomando essas bobagens. Já vou avisando que primeiro não se faz mais LSDs como antigamente; segundo, estamos em 1998, e não está com nada "replay" os anos 60, e, terceiro, está querendo chamar atenção de quem? Sim, já tomei LSD e nunca experimentei uma "bad trip", porque sempre tive uma base espiritual bastante forte para não dançar feio.
UOL - O que achou da experiência?
Rita -
É uma droga pesadíssima. Se você está infeliz, reprimido, revoltado e outras baixarias, nem chegue perto, porque é um convite a uma "bad trip" e vai dar trabalho para quem estiver por perto! No meu tempo, tomava-se no meio do mato para evitar que sua alma fosse para um lado e você para outro. Não é todo mundo que tem estrutura para permanecer tranquilo quando perde qualquer identificação com a personalidade e passa a "viajar" no éter, sem lenço, sem documento. Portanto "Stay Away from This Fucking Shit!!".
UOL - Hoje, como você vê a droga?
Rita -
Não quero nem saber de ver nada. Apesar de nunca ter acontecido nenhum desastre comigo, infelizmente presenciei vários companheiros que se perderam por aí ou até morreram por falta de tal estrutura espiritual. Sei que hoje os LSDs são pura anfetamina e nem sequer dão a ilusão da paz e do amor dos 60. É com certeza uma droga careta, porque não se encaixa nos tempos de hoje, aliás, nenhuma droga nunca se encaixou em nenhum tempo. Ao contrário, você só perde tempo. Repare como as drogas servem sempre como canos de escape e becos sem saída. Pois é, parece que eu tive de passar por todas para não querer mais nenhuma. Espero que a garotada de hoje seja mais espertinha.
UOL - Como você compararia o LSD com as demais drogas?
Rita -
Estamos falando em drogas químicas e, como tal, o LSD é uma das mais perigosas. Colocaria na lista juntamente com cocaína, heroína, crack, bebidas alcoólicas, antidepressivos e outras dezenas de lixos, permitidos ou não. Como vocês sabem -ou se não sabem fiquem sabendo-, não costumo fazer nenhum discursinho moralista contra nada, acredito que Deus nos deu o livre arbítrio para decidirmos nossas escolhas e suas consequências. Mas, hoje em dia, não será por causa de uma ditadura castradora, e muito menos por falta de informações, que neguinho vai entrar de gaiato nesse navio. Por mim, liberava geral e tudo, e quem quiser se empapuçar que se empapuce. Vai perder uma grande oportunidade de ficar de boca fechada e só aprender isso na próxima encarnação ou na jaula.
UOL - Você conversa com seus filhos sobre isso?
Rita -
Tive a sorte de ser um exemplo vivo tão desagradável, que eles optaram pela caretice como rebeldia.
UOL - E o que você passa dessa vivência a eles?
Rita -
A curiosidade deles foi satisfeita por meio de minhas experiências. A informação foi apresentada claramente a eles como sendo, e era mesmo, uma "trip" solitária, que tinha a ver só comigo, com minhas escolhas, minha vida, meus medos e desejos, minhas curiosidades..., e parece que consegui um grande feito, que foi provar que na vida a gente não deve bancar o zumbi e seguir na cola de ninguém. Quer um baratinho? Respire e medite, você vai viajar consciente, o que é muito mais genial. E lembre: não sou Madalena arrependida, sou "Santa Rita de Sampa".



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