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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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POLÍTICA

PC do B mantém comando da maior entidade estudantil do país

Eleições sem oposição

CAIO MAIA
DA REDAÇÃO

E o vencedor é... o PC do B. Mais uma vez e sem suspense, o partido que comanda a UNE (União Nacional dos Estudantes) desde 91, quando reconquistou o poder, então em mãos do PT, foi o vitorioso no 48º congresso da entidade, que aconteceu de 18/6 a 22/6 em Goiânia. Foi a sétima vitória consecutiva dos comunistas. O novo presidente é Gustavo Petta, aluno de jornalismo da PUC de Campinas.
Apesar dos protestos e de tentativas da oposição de mudar isso, a diretoria da UNE foi mais uma vez eleita de maneira indireta, por delegados que, pelo menos na teoria, são escolhidos pelos estudantes nas faculdades.
Neste ano, como nos anteriores, foi submetida ao congresso proposta para que as eleições passem a ser diretas. Como era de esperar, a plenária, dominada pelo PC do B, rejeitou a proposta. A justificativa para a rejeição é que as eleições diretas partidarizariam o movimento. Só os partidos teriam estrutura para uma eleição nacional, enquanto que, no congresso, dizem, qualquer força pode se organizar e ganhar espaço.
O PC do B domina a maior entidade de representação estudantil do país desde 91 e não sofre contestações desde 93, ano seguinte ao impeachment de Fernando Collor, no qual a entidade teve papel de destaque. Até ali, desde o período do regime militar (1964-1985), a UNE era uma entidade clandestina.
Desde então, divisões internas entre as facções petistas e tentativas de organizar entidades paralelas enfraqueceram os esforços oposicionistas. Mas existem outras explicações para um domínio tão duradouro.

"Teses" e predomínio
Os partidos costumam se apresentar aos estudantes por meio de "teses". Ou seja, em tese, quem se elegeu em Goiânia não foi o PC do B, nem sua juventude, a UJS, e sim a tese "Para conquistar um novo tempo". Um dos problemas apontados pela oposição às gestões dos comunistas é que, para ter delegados no país todo, é necessária uma estrutura muito grande. O PC do B se utilizaria da estrutura da UNE, montada com o dinheiro das carteirinhas, para fazer isso.
"Todo mundo sabe que o PC do B é bancado pelas carteirinhas", afirma o presidente da juventude do PSDB de São Paulo, Leandro Benetti. "Na época dos congressos, aparecem dezenas de militantes percorrendo o país divulgando a tese deles. Esse pessoal tem carro, gasolina paga, hospedagem e ainda recebe uma ajuda de custo. Quem paga isso tudo? Se as contas da UNE fossem públicas, talvez pudéssemos responder", diz.
"O que se ouve contar é que tem gente que vai para o congresso com tudo pago pelo PC do B, transporte, inscrição, alimentação, hospedagem. Como as votações são abertas, se ele não votar como o partido espera, corre o risco de não voltar para casa", conta João Zanini, do centro acadêmico de administração da Fundação Getúlio Vargas.
O poder de dizer quem é ou não delegado também está nas mãos do PC do B. Em 2001, por exemplo, dos 700 delegados levados pelo PSB do Rio ao congresso, só 350 foram inscritos pela mesa credenciadora, controlada pelo PC do B, que alegou irregularidades.
Durante o congresso de 97, delegados ligados a PDT, PPS e PSB acusaram o PC do B de distribuir credenciais em branco a militantes antes das votações importantes.

"Trabalhamos mais"
O diretor de movimento estudantil da UJS (juventude do PC do B), George Braga, vê outros motivos para o domínio de seu partido: "Trabalhamos mais. Acordamos mais cedo e dormimos mais tarde. Se o problema fosse estrutura, o PT, que tem diretórios no Brasil todo, seria sempre vencedor", diz.
Para ele, o que leva o PC do B a essa dominância é o "esforço concentrado" que o partido faz no movimento estudantil. "Além disso, abrimos espaço para outras forças, o que o PT não faz. Em nossa chapa nunca há só gente da UJS." Neste ano estão na chapa o PPS (de Ciro Gomes), o PDT (de Leonel Brizola) e até o quercista MR-8.
Polêmicas à parte, Gustavo Petta, o novo presidente, fala sobre a gestão: "Nosso lema será independência com relação ao governo. A UNE tem de ter autonomia para criticar quando for preciso", diz, ressaltando que "o atual governo reabriu o debate com a UNE, o que é bom, mas é um governo dividido".
O novo vice-presidente da entidade, Rafael Pops, da esquerda do PT, acrescenta: "Lula foi eleito com o apoio do movimento estudantil, mas também com o apoio de outras forças, como ruralistas e empresários, que têm interesses diversos dos nossos. É um governo em disputa".
Governo em disputa. E a UNE, está em disputa? Pelo jeito, não.


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