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POLÍTICA
PC do B mantém comando da maior entidade estudantil do país
Eleições sem oposição
CAIO MAIA
DA REDAÇÃO
E o vencedor é... o PC do B. Mais
uma vez e sem suspense, o partido
que comanda a UNE (União Nacional dos Estudantes) desde 91, quando reconquistou o poder, então em
mãos do PT, foi o vitorioso no 48º
congresso da entidade, que aconteceu de 18/6 a 22/6 em Goiânia. Foi a
sétima vitória consecutiva dos comunistas. O novo presidente é Gustavo Petta, aluno de jornalismo da
PUC de Campinas.
Apesar dos protestos e de tentativas da oposição de mudar isso, a diretoria da UNE foi mais uma vez
eleita de maneira indireta, por delegados que, pelo menos na teoria, são
escolhidos pelos estudantes nas faculdades.
Neste ano, como nos anteriores,
foi submetida ao congresso proposta para que as eleições passem a ser
diretas. Como era de esperar, a plenária, dominada pelo PC do B, rejeitou a proposta. A justificativa para a
rejeição é que as eleições diretas partidarizariam o movimento. Só os
partidos teriam estrutura para uma
eleição nacional, enquanto que, no
congresso, dizem, qualquer força
pode se organizar e ganhar espaço.
O PC do B domina a maior entidade de representação estudantil do
país desde 91 e não sofre contestações desde 93, ano seguinte ao impeachment de Fernando Collor, no
qual a entidade teve papel de destaque. Até ali, desde o período do regime militar (1964-1985), a UNE era
uma entidade clandestina.
Desde então, divisões internas entre as facções petistas e tentativas de
organizar entidades paralelas enfraqueceram os esforços oposicionistas. Mas existem outras explicações
para um domínio tão duradouro.
"Teses" e predomínio
Os partidos costumam se apresentar aos estudantes por meio de "teses". Ou seja, em tese, quem se elegeu
em Goiânia não foi o PC do B, nem
sua juventude, a UJS, e sim a tese
"Para conquistar um novo tempo".
Um dos problemas apontados
pela oposição às
gestões dos comunistas é que,
para ter delegados no país todo,
é necessária uma
estrutura muito
grande. O PC do
B se utilizaria da
estrutura da
UNE, montada
com o dinheiro
das carteirinhas,
para fazer isso.
"Todo mundo
sabe que o PC do
B é bancado pelas carteirinhas", afirma o presidente
da juventude do PSDB de São Paulo,
Leandro Benetti. "Na época dos congressos, aparecem dezenas de militantes percorrendo o país divulgando a tese deles. Esse pessoal tem carro, gasolina paga, hospedagem e ainda recebe uma ajuda de custo. Quem
paga isso tudo? Se as contas da UNE
fossem públicas, talvez pudéssemos
responder", diz.
"O que se ouve contar é que tem
gente que vai para o congresso com
tudo pago pelo PC do B, transporte,
inscrição, alimentação, hospedagem. Como as votações são abertas,
se ele não votar como o partido espera, corre o risco de não voltar para
casa", conta João Zanini, do centro
acadêmico de administração da
Fundação Getúlio Vargas.
O poder de dizer quem é ou não
delegado também está nas mãos do
PC do B. Em 2001, por exemplo, dos
700 delegados levados pelo PSB do
Rio ao congresso, só 350 foram inscritos pela mesa credenciadora, controlada pelo PC do B, que alegou irregularidades.
Durante o congresso de 97, delegados ligados a PDT, PPS e PSB acusaram o PC do B de distribuir credenciais em branco a militantes antes
das votações importantes.
"Trabalhamos mais"
O diretor de movimento estudantil
da UJS (juventude do PC do B),
George Braga, vê outros motivos para o domínio de seu partido: "Trabalhamos mais. Acordamos mais cedo
e dormimos mais tarde. Se o problema fosse estrutura, o PT, que tem diretórios no Brasil todo, seria sempre
vencedor", diz.
Para ele, o que leva o PC do B a essa
dominância é o "esforço concentrado" que o partido faz no movimento
estudantil. "Além disso, abrimos espaço para outras forças, o que o PT
não faz. Em nossa chapa nunca há só
gente da UJS." Neste ano estão na
chapa o PPS (de Ciro Gomes), o PDT
(de Leonel Brizola) e até o quercista
MR-8.
Polêmicas à parte, Gustavo Petta, o
novo presidente, fala sobre a gestão:
"Nosso lema será independência
com relação ao governo. A UNE tem
de ter autonomia para criticar quando for preciso", diz, ressaltando que
"o atual governo reabriu o debate
com a UNE, o que é bom, mas é um
governo dividido".
O novo vice-presidente da entidade, Rafael Pops, da esquerda do PT,
acrescenta: "Lula foi eleito com o
apoio do movimento estudantil, mas
também com o apoio de outras forças, como ruralistas e empresários,
que têm interesses diversos dos nossos. É um governo em disputa".
Governo em disputa. E a UNE, está
em disputa? Pelo jeito, não.
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