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Só as mulheres bonitas salvam a burguesia paulistana
Álvaro Pereira Júnior
COLUNISTA DA FOLHA
Independentemente da preferência musical, numa
coisa o público do Free Jazz, no fim-de-semana retrasado, concordou com unanimidade: poucas vezes se
viu tanta mulher bonita junta em um evento paulistano.
Como disse um amigo, também abismado pela fantástica variedade de seres atraentes, ali estava representada a burguesia paulista em seu ápice, na pele bronzeada e nas curvas de suas filhas mais diletas.
Parece legal, mas não é.
Acontece que, no Brasil, até o que deveria ser um simples festival de música se transforma em coisa de bacana, em mais um daqueles passatempos tão caros da
nossa classe média alta: o exercício de um privilégio.
A impressão era de que muito pouca gente estava ali
pela música. O Free Jazz era apenas mais uma daquelas
chances para "ver e ser visto", parafraseando a hedionda expressão sempre presente em colunas sociais.
Esse é um fenômeno tipicamente brasileiro -a substituição de essência pelo fetiche. Quer mais um exemplo? Veja toda a publicidade brasileira em torno da Internet.
O que se vende? A velocidade de acesso, o conteúdo
inteligente de um site? Nada disso. Como tudo por aqui,
a Internet, que nos EUA é acima de tudo uma ferramenta prática, no Brasil já virou símbolo de status. E tome
comerciais com madames, jovens "modernos", mascotes exóticos. A essência da Internet foi para o espaço.
Sobrou a carcaça, o fetiche. A rede mundial de computadores como mais um objeto de consumo.
Não sei se isso se deve a anos e anos de economia fechada (e consequente valorização descerebrada de tudo
o que vem de fora) ou se é coisa de uma sociedade até
hoje escravocrata (cheia de sinhozinhos querendo se
dar bem).
Talvez seja uma mistura perversa de tudo isso, capaz
de transformar um evento musical num desfile de beldades. Pode ser bom para os olhos, mas é péssimo para
quem sonha com um Brasil que funcione. Essas meninas lindas não estariam ali se não houvesse essa sensação de ir ao Free Jazz e se sentir "especial".
Festivais como esse existem às pencas nos EUA e na
Europa, e assistir a um deles é tão prosaico como tomar
um ônibus ou fazer compras no supermercado.
Mas, no Brasil a coisa muda de figura -ir a um festival de música vira coisa de "gente de bem". É muito
chato.
GRINGAS
Atenção no Brassy!
Já recomendei no CD Player, há algumas semanas, mas vale reforçar. Preste
muita atenção no CD da banda inglesa
Brassy, da irmã do maluco Jon Spencer. É o exato encontro do Elastica com
uma batida drum'n'bass. Já saiu na Europa, mas, nos EUA, só em janeiro. Procure nas importadoras.
O nome da coisa
O álbum do Brassy se chama "Got It
Made" (algo como "Finalmente Ficou
Pronto"), e é o primeiro do grupo, que
vinha soltando compactos desde
1996, sem muito alarde. Mais informações no site oficial: www.brassy.com.
Não revela muita coisa, mas é bem acabado e bonito.
Tortura do Radiohead
Para quem detestou "Kid A", o novo
disco do Radiohead, que é muito chato, o consolo é que deve sair já em
2001 um álbum só com as canções que
ficaram de fora de "Kid A", por serem
consideradas excessivamente comerciais. A gente espera até lá, então. Esse
"Kid A" não desce mesmo.
Rock inglês fracassa
Nunca as bandas inglesas venderam
tão pouco nos EUA. Há várias teorias.
Segundo uma delas, os britânicos, já
famosos e mimados em seu país, se recusam a ralar no mercado americano.
Mas parece que a verdade é outra: o
rock inglês nunca esteve tão ruim, e os
americanos sabem escolher.
(APJ)
CD PLAYER
EJECT
"Todo Mundo Doido", O
Surto Conte o número de vezes em que o
refrão é repetido no "Melô do Cabeção" e entenda por que Kurt Cobain preferiu o suicídio a ficar reproduzindo a mesma fórmula pop até gastar.
EJECT
"Enquanto o Mundo Gira", Cidade Negra Muito peso,
suingue e denúncia social no novo trabalho
dessa banda espetacular, só igualada aos conterrâneos do
Rappa em competência e relevância musical. Acreditou?
EJECT
"MTV ao Vivo", Raimundos Com muita justiça, a melhor banda do
mundo ganha um CD duplo ao vivo. Fica só faltando um acústico. Depois, um acústico ao vivo. E, depois,
um acústico duplo ao vivo. Duplo não, triplo.
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