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      São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003
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QUÍMICA

Um certo cheirinho de ovo

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais um congestionamento. De repente, um forte cheiro de ovo invade o carro. Estranho... Não há nenhum restaurante por perto. Como pode?
Será que isso já aconteceu com você? Se aconteceu, não foi impressão sua. O "perfume" de ovo vem de um dos poluentes liberados pelos escapamentos dos automóveis: o gás sulfídrico (H2S).
Apesar de cheirar mal, o H2S tem lá a sua utilidade, principalmente nos laboratórios de química. Serve principalmente para identificar vários íons metálicos, como o chumbo (Pb2+), por exemplo. É que os sulfetos (S2-) reagem com muitos desses íons, formando substâncias insolúveis em água (o que os químicos chamam de precipitados).
No caso do Pb2+, forma-se um precipitado negro de PbS (sulfeto de chumbo). Essa substância, inclusive, causou o escurecimento gradual de pinturas feitas na Idade Média, época em que as tintas brancas continham o íon Pb2+. Como hoje existe muito H2S na atmosfera, muitos quadros antigos escureceram devido à reação: (a flecha apontando para baixo indica a formação de um precipitado).
O cheiro de ovo do H2S não é mera coincidência. É ele próprio o responsável pelo aroma de um ovo recém-cozido. Nesse caso, ele se forma à medida que se decompõem as moléculas de albumina, uma proteína presente nos ovos.
Sabe aquela cor verde-acinzentada que se forma na superfície da gema cozida? Ela vem de mais uma precipitação do sulfeto, dessa vez com o íon Fe2+, contido na gema.
E tem mais. Lembra aquele seu anel de prata que escureceu? A prata escurece por causa de mais um precipitado: o Ag2S, que é preto. A reação, um pouco mais complicada, é a seguinte: 4Ag+2H2S+O2-2Ag2S+2H2O. Agora, a boa notícia: esse escurecimento não é irreversível! Aqui vai uma receita para você clarear o seu anel: coloque de um a dois litros de água em uma panela. Adicione umas quatro colheres de chá de bicarbonato de sódio e aqueça a solução, sem deixar ferver. Coloque uma folha de alumínio no fundo da panela e, sobre ela, o anel. Mantenha o aquecimento por alguns minutos e... "voilà"! Seu anel estará novo em folha! Quer saber como isso acontece? Na próxima coluna, porque hoje o espaço acabou. Até lá.


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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