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HISTÓRIA
A Guerra do Paraguai e os seus efeitos no Brasil
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Guerra do Paraguai marcou
de maneira profunda a história do Paraguai e do Brasil.
A economia paraguaia, que vinha se desenvolvendo desde a Independência, recebeu um golpe
do qual não se recuperou nunca
mais. Suas Forças Armadas, das
mais bem organizadas e equipadas da América do Sul, foram destruídas. Estima-se que praticamente metade da população paraguaia pereceu nesse conflito.
A vitória brasileira consolidou o
país como potência regional, mas,
por outro lado, deixou evidente a
sua fragilidade. Um território
imenso, ocupado de forma rarefeita por uma população em grande parte constituída de escravos,
colocava em risco permanente as
nossas fronteiras terrestres. Desde então, as críticas ao sistema escravista começaram a intensificar-se, abrindo caminho para o
movimento abolicionista.
A vitória, de outro lado, contribuiu para que os militares se
conscientizassem da sua importância. Até então, o Exército era
colocado em segundo plano em
relação à Marinha, sempre apoiada pelo Império, dada a necessidade de defesa de um litoral de
mais de 8.000 quilômetros. A
Guerra do Paraguai demonstrou
que as fronteiras terrestres também precisavam ser guarnecidas
e que o Exército precisava de mais
apoio, maior efetivo e melhores
equipamentos. O fato de as reivindicações dos militares não serem atendidas pelo Império deslocou, progressivamente, parcela
da oficialidade para a oposição.
A animosidade dos militares
contra o Império foi catalisada
pela influência da corrente filosófica positivista entre alguns oficiais, entre os quais se destacava
Benjamin Constant. Para esse
grupo de militares, a monarquia
se constituía num regime retrógrado e contrário aos princípios
racionais de organização política.
Segundo eles, a modernização do
sistema político implicava a adoção do regime republicano. Entre
as principais tarefas do novo regime, estaria a universalização da
cidadania, com os direitos e deveres que lhe correspondem. Para
os militares positivistas, a cidadania seria o elo efetivo de unificação de todos os brasileiros e, portanto, o fundamento da nação. O
golpe desferido pelos militares em
15 de novembro foi bem-sucedido na intenção de implantar a República, mas a universalização da
cidadania permanece como o
maior desafio do regime até hoje.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC. Email: roberson.co@uol.com.br
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