São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004
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MULHER NORMAL

Pesquisa feita por psicólogas mostra que 83% de alunos de cursinho apresentam sintomas

90% das candidatas têm estresse

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
A candidata Carolina Guerino Pedral, que afirma que as conversas durante as aulas a deixam irritada


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Você chega cansado do cursinho após estudar o dia inteiro. Sua mãe tenta puxar papo, mas você, impaciente, é agressivo com ela. Sua mãe responde e você explode em choro. A probabilidade dessa cena típica de vestibulando estressado ocorrer entre as mulheres é maior do que entre os homens, segundo uma pesquisa feita por três psicólogas da PUC de Campinas e da Unesp de Bauru.
O estudo, com 295 alunos, comprovou a suspeita de que o ano de cursinho é o mais estressante desde o primeiro ano do ensino médio até o final da faculdade. Dos estudantes de cursinho, 83% estavam estressados (em relação ao total de vestibulandos, 45% de mulheres estressadas e 38% de homens), contra 57% no primeiro ano da faculdade (35% de mulheres e 22% de homens).
Esse estresse, entretanto, não é dividido igualmente entre os sexos. Das vestibulandas estudadas, 90% apresentavam sintomas de estresse, contra 76% dos candidatos homens.
As causas da maior propensão das mulheres ao estresse, segundo as autoras do estudo, são tanto biológicas quanto sociais.
Biologicamente, um fator que aumenta a chance de estresse entre as mulheres é a variação hormonal durante o mês. "Os homens têm uma mudança hormonal grande na puberdade, mas, depois disso, ficam estáveis. As mulheres, entretanto, têm variações grandes no mesmo mês", explica o endocrinologista da Unifesp Antonio Roberto Chacra. No período pré-menstrual, por exemplo, a mulher fica mais sensível, o que pode acentuar alguns sintomas de estresse, como irritabilidade e emotividade.
Além de aumentar o estresse, os hormônios também sofrem mudanças com ele. As glândulas supra-renais liberam mais substâncias que podem causar, por exemplo, uma diminuição na imunidade e problemas como gastrite.
Sintoma de estresse que só as mulheres têm, a alteração hormonal pode causar também mudanças no fluxo menstrual. É comum, por exemplo, que o ciclo atrase ou haja um aumento do fluxo em momentos de grande tensão, como na hora da prova.
Ao lado do fator hormonal, há as influências da sociedade. "Se pegarmos crianças de sete, oito anos, quando ainda não há diferenças hormonais grandes, as meninas já apresentam mais estresse. Isso tem a ver com a forma como são ensinados a lidar com os problemas. Os homens canalizam suas energias para a solução do que está causando estresse. As mulheres, em geral, se desgastam mais, têm respostas mais emotivas", disse Marilda Lipp, professora da PUC de Campinas.
As formas de manifestar o estresse também foram diferentes de acordo com o sexo. Entre as mulheres, o sintoma mais comum foi a sensibilidade emotiva exagerada. Isso ocorre quando, por exemplo, a vestibulanda chora por motivos aos quais normalmente não daria importância.
A candidata de medicina Alina Simões, 19, diz que chegou a chorar ao ver uma propaganda em que aparecia um cachorro da mesma raça de seu animal de estimação, o que a fez lembrar da família que deixou no interior para fazer cursinho em São Paulo.
Sua amiga Alessandra Domingues, 19, afirma ter o segundo sintoma mais comum entre as garotas: a irritabilidade. "Já cheguei a sair da sala de aula de tanta raiva das piadinhas de um professor. Fui embora para casa e dormi a tarde inteira", disse ela.
Rebeka Franchini, 18, é outra que diz estar com menos paciência e mais sensibilidade neste ano. "Quando chego em casa, perco a paciência. Meus pais entendem a situação, mas meus irmãos já estão na faculdade e chegam dizendo "pode parar". Se algum deles responde, acabo chorando."
As brigas com a família, segundo a psicóloga e co-autora do estudo Lívia Márcia Batista de Andrade, são comuns. "A família é o primeiro núcleo de convívio, então acaba sendo o primeiro de conflito também. Os pais devem dar suporte, não acentuar o estresse do vestibulando."
Entre os homens, o sintoma mais comum é o pensamento recorrente, por exemplo, quando o vestibulando fica remoendo um problema o dia inteiro.


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