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ATUALIDADES
O terrorismo e o monopólio do medo
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Antes, o perigo de um confronto
nuclear monopolizava nosso
pavor. Depois das imagens alucinantes de aeronaves mergulhando nas torres gêmeas nos EUA, o
terrorismo passou ao centro da
geopolítica mundial. As recentes
cenas do desastroso resgate na
Ossétia do Norte, na Rússia, comprovam que as armas do terror
não têm limites.
Neutralizar as investidas do terror passou a ser o grande tema de
reflexão. Para o presidente George W. Bush, a força é a única resposta. Por meio de sua doutrina
fundada na luta do bem contra o
mal e nas ações preventivas e unilaterais contra o inimigo, o falcão
da Casa Branca reafirma que "a
América está liderando o mundo
civilizado numa titânica luta contra o terror".
Na mesma trilha, após a tragédia de Beslan, surge o presidente
russo, Vladimir Putin, que, a pretexto de conter o perigo terrorista,
anuncia uma série de medidas autoritárias. Ao declarar que a Rússia não está preparada para combater o terror, Putin propôs um
sistema político mais centralizado
e decretou o fim das eleições diretas para governador. "Os que inspiram, organizam e executam
atos terroristas estão tentando desintegrar o país", observou.
Inspirado no mesmo estilo, o
premiê de Israel, Ariel Sharon,
apressou-se em prestar solidariedade ao líder russo. Autoridades
israelenses enfatizaram que, a
partir de agora, Moscou compreenderá que a tragédia de Beslan não se restringe a um terrorismo local, mas é parte da ameaça
global.
Instrumento de política interna
e externa, a manipulação do terror serve aos mais diversos interesses. Impulsiona o projeto de
reeleição de Bush, motiva a centralização do poder na Rússia e
justifica a construção do muro da
Cisjordânia. Uniformiza o "inimigo" e coloca no mesmo patamar
muçulmanos fanáticos, palestinos ou tchetchenos. E o mais terrível: silencia suas aspirações.
Roberto Candelori é professor do Colégio Móbile e do Objetivo. E-mail:
rcandelori@uol.com.br
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