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      São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003
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FÍSICA

Hollywood e a física - 1

TARSO PAULO RODRIGUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

As grandes produções cinematográficas de Hollywood nos impressionam pela atuação dos super-heróis, dos espetaculares efeitos visuais e sonoros, da eficiência das espadas a laser, da fascinante possibilidade de viajar para o futuro ou de voltar para o passado. Porém, às vezes, esses incríveis efeitos e fatos contrariam princípios físicos básicos.
Algumas criaturas, por exemplo, não poderiam viver fora de seu habitat, como é o caso de monstros gigantescos que têm seus corpos adaptados à vida aquática, isto é, sujeitos ao empuxo. Ao saírem desse meio, eles simplesmente seriam esmagados pelo próprio peso. Em outros filmes de ficção científica, como "Guerra nas Estrelas", várias cenas de combates espaciais apresentam explosões com estrondos impressionantes, tudo isso no vácuo do espaço sideral. O erro científico cometido nessas cenas decorre do fato de que o som, sendo uma onda que se transmite através das vibrações mecânicas de um determinado meio, não poderia propagar-se no vácuo. É claro que os erros científicos cometidos pelos filmes desse gênero são quase sempre aceitos pelos telespectadores ou passam despercebidos.
Entretanto uma das questões do vestibular da UFSCar/2003 solicitava aos alunos que verificassem uma violação ao princípio da conservação da energia no filme "Armageddon". Na película, o corajoso personagem interpretado pelo ator Bruce Willis e um grupo de perfuradores de petróleo deveriam colocar em um asteróide que se encontrava em rota de colisão com a Terra um artefato nuclear capaz de liberar uma energia de nove megatons (cerca de 4x1014 joules), suficiente para explodir e dividir o enorme bólido.
Segundo informações fornecidas no filme, o gigantesco asteróide era esférico, com uma massa de 1022kg e deveria ser dividido em duas metades de igual massa. Para não se chocarem com a Terra, os fragmentos deveriam adquirir uma velocidade mínima de 2 km/s cada um em relação ao centro de massa do asteróide. Ora, se calcularmos a energia cinética adquirida por esses fragmentos após a explosão usando a expressão: ECINÉTICA=M .V2/2, encontraremos o valor de 2x1028 joules. Como essa quantidade de energia é 50T (tera=1012) vezes maior do que a fornecida pelo artefato nuclear, confirmamos uma flagrante violação do princípio de conservação da energia. Dessa forma, o asteróide não conseguiria ser dividido, e a Terra não teria sido salva! Voltaremos ao assunto na próxima coluna. Até lá!


Tarso Paulo Rodrigues é professor e coordenador de física do Colégio Augusto Laranja


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