|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HISTÓRIA
O Estado, a cultura e a construção da nação
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A implantação do Segundo Reinado significou a formalização
de um novo acordo entre os grupos regionais que compunham a
elite brasileira. A polêmica em
torno da autonomia das províncias, marcante durante a Regência, foi superada e optou-se pela
implantação de uma monarquia
centralizada no país. As crescentes pressões inglesas pelo fim do
tráfico de escravos foram decisivas para a adoção desse modelo.
A união das elites em torno de
uma monarquia centralizada visava dotar o Estado do mais alto
grau de poder e de autoridade para negociar com a Inglaterra o fim
do tráfico nas condições mais
vantajosas possíveis. A obra de
consolidação do Estado nacional,
concretizada nessa fase, atendia
sobretudo à necessidade de preservar o tráfico de "carne humana" para as fazendas brasileiras.
A legitimação do Estado nacional no Brasil, entretanto, carecia
de um fundamento essencial: o
povo. Segundo a concepção de
nacionalismo do século 19, a cada
povo ou nação deveria corresponder um Estado. Ora, o Brasil
acabara de se organizar na forma
de um Estado independente, mas
não existia no seu território nada
parecido com um "povo" -a saber, uma comunidade com um
mínimo de identidade étnica, corpo de tradições, história e língua
comuns. Ele precisava ser criado.
Essa foi uma das missões mais
importantes a que se dedicaram o
Estado e as elites políticas e culturais do Segundo Reinado. O apoio
dado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Francisco
Adolfo de Varnhagen, autor da
monumental "História Geral do
Brasil", produziram uma interpretação do passado que poderia
ser ensinada nas escolas como a
história comum de um povo.
José de Alencar, em "O Guarani" e em "Iracema", resgatou valores e tradições dos povos indígenas, exaltando-os como bases
da nacionalidade. Na pintura, Pedro Américo e Vitor Meireles
enalteceram as vitórias brasileiras
na Guerra do Paraguai, valorizando atos de coragem e de heroísmo, importantes para a afirmação
do orgulho de uma nação e típicos
do modelo de herói romântico.
Nacionalismo e romantismo irradiavam suas influências sobre
políticos, intelectuais, artistas e
escritores brasileiros.
Paradoxalmente, a busca e a
afirmação da nacionalidade se
realizavam por meio de uma adesão acrítica aos modelos políticos
e culturais europeus aplicados a
um contexto e a uma realidade radicalmente diversos.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e de "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
Texto Anterior: Química: SO2 é o Homem-Aranha da química Próximo Texto: Biologia: A biogeografia e a distribuição dos seres vivos Índice
|