São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004
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CARREIRA/CINEMA

É comum tocar mais de um projeto ao mesmo tempo; mercado publicitário é opção de trabalho

Cineastas enfrentam jornada dupla

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
A aluna de cinema Natasja Derzoni, que diz ter ampliado sua visão em relação à produção cinematográfica


ALEXANDRE NOBESCHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Levada pelos pais, ainda na adolescência, para assistir a um filme do cineasta americano Stanley Kubrick, Natasja Derzoni, 22, guarda essa lembrança como o principal incentivo para ter ingressado na faculdade de cinema da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo.
Agora, no sétimo semestre, ela conta ter ampliado bastante a visão em relação à produção cinematográfica. "Sempre gostei de clássicos como [Jean-Luc] Godard e [Federico] Fellini, de cinema brasileiro e de latino-americano. Mas a gente começa a ter uma visão diferente, visualiza como o filme foi produzido."
A identificação com o cinema latino motivou a estudante a participar da organização do 1º Panorama de Cinema Latino-Americano. O festival, que reunirá produções de países como Brasil, Chile e Argentina, entre outros, será realizado entre os dias 22 e 27 de novembro na faculdade.
Dividida entre as aulas e a estruturação do evento, Natasja assiste, em média, a 50 filmes por mês. "Há muito trabalho porque temos a intenção de fazer um grande encontro de estudantes de cinema da América Latina", diz.
Tocar mais de um projeto ao mesmo tempo e ficar entulhado de trabalho é uma rotina a que ela vai ter de se acostumar, de acordo com profissionais da área.
"A atividade cinematográfica é muito excludente porque, para fazer um filme, sai muito caro. Sendo assim, muita gente vai buscar em outras áreas, como na publicidade, uma vaga no mercado de trabalho", explica André Gatti, professor de história do cinema brasileiro da Faap.
Há outras circunstâncias em que os profissionais conseguem repartir o tempo da produção cinematográfica com a publicidade. Esse é caso de Marcos Jorge, 39, que trabalha em uma agência de filmes publicitários, mas produz, simultaneamente, curtas-metragens e documentários.
Segundo ele, os pontos que mais evidenciam a diferença entre as criações são a duração dos vídeos e o produto gerado. "Em publicidade, trabalhamos com gravações de até 60 segundos, além de ser um trabalho que classifico como filme de segundo grau. Isso porque ele vende um produto. No cinema, que classifico como de primeiro grau, o vídeo é o produto."

Ilusão
De acordo com Luís Fernando Angerami, presidente da comissão de graduação do curso de audiovisual da USP, aproximadamente 60% dos alunos do primeiro ano chegam com a idéia de se tornarem diretores, o que, segundo ele, exige um caminho bastante extenso a ser percorrido.
"O [cargo de] diretor é muito valorizado no Brasil, tanto pela mídia quanto por quem é interessado no assunto. Mas há outras funções dentro da produção em cinema que são tão importantes quanto a de diretor", diz.
Segundo Gatti, da Faap, por conta desse imaginário dos alunos, às vezes, é mais difícil conseguir uma vaga no mercado de trabalho. "Quem se propõe a trabalhar como assistente e a fazer trabalhos pequenos no começo poderá chegar lá."
A opinião é compartilhada pelo diretor Marcos Jorge. De acordo com ele, que já foi assistente, não há maneira melhor de aprimorar as técnicas do que passar por isso.
Além do tão sonhado cargo de diretor, as faculdades preparam o aluno para exercer diversas funções, como produtor, diretor de fotografia, câmera e diretor de som, entre outras.
Tendo em vista essa diversidade da profissão, a USP decidiu, em 2000, aglutinar em um só curso algumas disciplinas de rádio e TV e de cinema, criando a graduação em audiovisual.
De acordo com Angerami, a junção proporcionou aos alunos uma visão mais ampla da produção do cinema, da TV, do rádio e das mídias digitais.
"O desafio tecnológico foi um fator que contribuiu para a criação do curso de audiovisual. Agora, com eles juntos, conseguimos aumentar a nossa produção. Desde o primeiro semestre, os alunos já realizam produções de cinco minutos e, no último, eles fazem um trabalho de conclusão de curso, que servirá como reflexão de tudo o que praticaram na graduação", afirma Angerami.
Na USP, além do vestibular, o candidato a uma das 35 vagas oferecidas terá de passar por um exame específico, em que será testada a sua capacidade de análise sobre o assunto que escolheu para estudar na universidade.


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