São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2004
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HISTÓRIA

Os impasses do desenvolvimentismo no Brasil

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A industrialização no Brasil deslanchou a partir de meados da década de 50, no governo de Juscelino Kubitschek. Foi nesse momento que se definiu um padrão de industrialização que, em linhas gerais, se mantém até hoje.
O modelo industrial implementado pelo Plano de Metas reservava ao Estado o papel de indutor do desenvolvimento e a responsabilidade pela realização das obras de infra-estrutura, tais como rodovias, produção e distribuição de energia e saneamento básico.
Ao capital estrangeiro foram reservados os papéis de investidor e provedor de tecnologia. O capital privado nacional entrava como sócio menor do negócio, produzindo tudo aquilo que não interessava ao capital estrangeiro e era caro demais para importar. Na verdade, eram os fornecedores dos componentes de baixa tecnologia para as grandes empresas internacionais. O setor de bens de consumo duráveis, em particular a indústria automobilística, foi definido como pólo dinâmico do ciclo de crescimento, e a indústria brasileira se instalou no setor de autopeças como fornecedora das grandes montadoras.
Apesar de o período JK ser muito valorizado pelo salto que promoveu no crescimento econômico do país, o sistema industrial implantado nessa fase e mantido nas décadas seguintes criou graves problemas sociais e precipitou várias crises.
Ao definir a indústria automobilística como carro-chefe do pólo industrial brasileiro, o governo JK optou por beneficiar um setor cujo produto era destinado a uma fatia restrita do mercado interno, vinculando o desempenho do setor mais dinâmico, poderoso e influente da economia à renda dos grupos sociais de maior poder aquisitivo. Nessas condições, a tendência crônica à concentração de renda que atingiu a economia brasileira nas décadas finais do século passado produziu uma crise social de grandes dimensões, mas não prejudicou os lucros da indústria automobilística.
Além de ser um modelo inadequado à realidade de um país pobre, o ciclo de crescimento foi sustentado pelo financiamento externo abundante. O problema é que, no final da década de 50, começaram a vencer os prazos de remuneração dos investimentos, e as exportações brasileiras não geraram os dólares necessários para os pagamentos. A saída foi o crescimento do endividamento externo, que em pouco tempo colocou o Brasil às portas do FMI.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br


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