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HISTÓRIA
Os impasses do desenvolvimentismo no Brasil
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A industrialização no Brasil deslanchou a partir de meados da
década de 50, no governo de Juscelino Kubitschek. Foi nesse momento que se definiu um padrão
de industrialização que, em linhas
gerais, se mantém até hoje.
O modelo industrial implementado pelo Plano de Metas reservava ao Estado o papel de indutor
do desenvolvimento e a responsabilidade pela realização das obras
de infra-estrutura, tais como rodovias, produção e distribuição
de energia e saneamento básico.
Ao capital estrangeiro foram reservados os papéis de investidor e
provedor de tecnologia. O capital
privado nacional entrava como
sócio menor do negócio, produzindo tudo aquilo que não interessava ao capital estrangeiro e
era caro demais para importar.
Na verdade, eram os fornecedores
dos componentes de baixa tecnologia para as grandes empresas
internacionais. O setor de bens de
consumo duráveis, em particular
a indústria automobilística, foi
definido como pólo dinâmico do
ciclo de crescimento, e a indústria
brasileira se instalou no setor de
autopeças como fornecedora das
grandes montadoras.
Apesar de o período JK ser muito valorizado pelo salto que promoveu no crescimento econômico do país, o sistema industrial
implantado nessa fase e mantido
nas décadas seguintes criou graves problemas sociais e precipitou
várias crises.
Ao definir a indústria automobilística como carro-chefe do pólo
industrial brasileiro, o governo JK
optou por beneficiar um setor cujo produto era destinado a uma
fatia restrita do mercado interno,
vinculando o desempenho do setor mais dinâmico, poderoso e influente da economia à renda dos
grupos sociais de maior poder
aquisitivo. Nessas condições, a
tendência crônica à concentração
de renda que atingiu a economia
brasileira nas décadas finais do século passado produziu uma crise
social de grandes dimensões, mas
não prejudicou os lucros da indústria automobilística.
Além de ser um modelo inadequado à realidade de um país pobre, o ciclo de crescimento foi sustentado pelo financiamento externo abundante. O problema é
que, no final da década de 50, começaram a vencer os prazos de
remuneração dos investimentos,
e as exportações brasileiras não
geraram os dólares necessários
para os pagamentos. A saída foi o
crescimento do endividamento
externo, que em pouco tempo colocou o Brasil às portas do FMI.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
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