São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002
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HISTÓRIA

A espada, a cruz e a construção do Novo Mundo

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para os homens da Antiguidade clássica, "civilizar" era construir cidades. Para os europeus da época moderna, "civilizar" implicava expandir a fé cristã. Para a igreja, a propagação do cristianismo no Novo Mundo era decisiva, pois, assim, ela esperava compensar a perda de influência na Europa em virtude da reforma religiosa do século 16. Atendia também aos interesses dos Estados nacionais, pois o ensinamento dos valores cristãos era uma forma eficaz de controle dos corações e das mentes das populações nativas.
A tarefa árdua e arriscada de divulgação da fé na América espanhola e portuguesa coube à Ordem dos Jesuítas, estes conhecidos como os "soldados de Cristo" devido à disciplina e à rígida hierarquia a que eram submetidos.
No Brasil, a ação missionária dos jesuítas teve início com os padres Anchieta e Manoel da Nóbrega, que chegaram a Salvador em 1549 junto com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza.
Os primeiros resultados da atuação da Ordem vieram no plano educacional, com a fundação dos seus colégios em Vitória, São Paulo, Salvador e São Vicente.
No plano religioso, a atuação dos jesuítas visava basicamente proporcionar serviços religiosos aos colonos (missas, confissões, casamentos) e catequizar os nativos. A catequese realizava-se por meio de ações isoladas dos padres nas aldeias, da educação dos meninos índios nos colégios ou, em grande escala, nas missões.
As missões eram comunidades indígenas reagrupadas pelos jesuítas, cuja organização se baseava no trabalho coletivo, na exploração agrícola e na pecuária. As mais importantes surgiram nas regiões do atual Estado do Mato Grosso do Sul e das atuais fronteiras do Brasil com o Paraguai, com a Argentina e com o Uruguai.
Além de catequizar os índios, as missões visavam gerar recursos para que a Ordem ampliasse seu poder e sua capacidade de evangelização. A exploração do trabalho dos nativos nas missões gerou conflitos violentos, pois os colonos mais pobres, sem recursos para comprar africanos, chegaram a invadi-las para escravizar os índios. Apesar disso, o poder da Ordem não parou de crescer na colônia, na estrutura da igreja e no Estado imperial português -a tal ponto que o marquês de Pombal, em 1759, expulsou os jesuítas do Brasil e de Portugal para retomar pleno poder sobre o Estado.
Ao fim, os jesuítas cumpriram o papel de lançar os alicerces da evangelização no Brasil, contribuindo para transformá-lo no maior país católico do mundo.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br


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