São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002
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QUÍMICA

Solteiros, assaltem o armário do pai dela!

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Atenção, leitor solteiro. Esqueça os sabonetes perfumados. Jogue fora aquela colônia francesa. De acordo com pesquisadores da Universidade de Chicago (EUA), as moças gostam mesmo é do cheirinho do papai! E o trabalho é de alto nível: foi publicado na "Nature", uma das principais revistas científicas do mundo.
Os cientistas pediram a um grupo de mulheres que cheirassem blusas usadas por homens para dormir. Depois, elas deveriam escolher o cheirinho que gostariam de ter sempre a seu lado. Resultado: elas preferiram os mais parecidos com o cheiro do próprio pai. Mas o que há de tão especial no aroma do "velho"?
O suor do papai ou de qualquer outra pessoa tem basicamente água (99%) com um pouco de sal, açúcar e mais algumas substâncias. É, portanto, praticamente sem cheiro. Ele só passa a ter o odor característico quando encontra as bactérias que vivem em nossa pele. As bactérias "comem" o suor -um banquete para elas!- e obtêm energia. Nesse processo, produzem ácidos carboxílicos, como o pentanóico, o hexanóico e o 3-metil-2-hexenóico. Esses ácidos são responsáveis pelo mau cheiro do suor, que, apesar de ruim, não chega a ser tão repugnante quanto o "cheirinho" das cabras, que vem dos ácidos hexanóico, octanóico e decanóico (quanto mais carbonos na molécula do ácido, pior o odor). É por isso que esses ácidos têm os apelidos de capróico, caprílico e cáprico, respectivamente.
Uma curiosidade: os cheiros de suor e os de alguns queijos são parecidos porque têm a mesma origem química: os ácidos carboxílicos. O ácido propanóico, por exemplo, é responsável pelo aroma do queijo suíço. O pentanóico, pelo do roquefort.
Portanto, se o cheiro desagradável do suor é causado por ácidos, justifica-se o antigo costume de usar leite de magnésia (suspensão de hidróxido de magnésio, uma base) como desodorante. É por isso que muitos talcos contêm o antiácido bicarbonato de sódio (o mesmo do sal de frutas).
Como o metabolismo de uma pessoa nunca é exatamente igual ao da outra, a "receita" de ácidos do suor também varia. Assim, duas pessoas nunca têm cheiros idênticos, mas, no máximo, semelhantes.
Por isso os cães, com seu superolfato, sempre conseguem encontrar seu dono. E as mulheres, pelo jeito, o futuro marido!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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