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HISTÓRIA
Economia colonial e ação predatória
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A conquista dos territórios do Novo Mundo pelas metrópoles européias deu origem a formas específicas de colonização. Os tipos principais foram as colônias
de povoamento e as de exploração. As de povoamento surgiram,
basicamente, por causa das perseguições religiosas ocorridas na Inglaterra durante o reinado de Carlos 1º (1625-1649).
Grupos puritanos (calvinistas)
fugiram em direção ao norte da
América para construir um lar e
viver em paz. Organizaram pequenas propriedades e trabalharam em grupos familiares. Sua
produção era voltada para suas
necessidades e, por isso, era diversificada. Já as colônias de exploração tinham de satisfazer as necessidades de acumulação de capitais
de suas respectivas metrópoles, o
que as tornava alvo de uma ação
essencialmente predatória.
No caso do Brasil, essa característica se manifestou desde os momentos iniciais da colonização. O
litoral foi devastado pela extração
das árvores das quais se obtinha
uma tinta vermelha usada na Europa para tingir tecidos.
Ainda no século 16, as características do solo, a experiência portuguesa na atividade, o interesse
de comerciantes e banqueiros flamengos e o grande mercado europeu levaram à implantação da
cultura da cana-de-açúcar no Brasil. A produção de açúcar, voltada
para o exterior, organizou-se em
imensos latifúndios, em Pernambuco e na Bahia, apoiada no trabalho de escravos africanos e com
ênfase numa só cultura.
Com a crise da cultura açucareira, na segunda metade do século
17, intensificou-se a procura por
ouro e pedras preciosas, encontrados no início do século 18 na
região de Ouro Preto. Ao longo de
quase um século, toneladas desses
minérios foram extraídas das minas brasileiras -graças ao trabalho escravo- e enviadas à Europa. Outras atividades, como a
agricultura de subsistência e a pecuária, foram desenvolvidas para
abastecer a população local. A pecuária, em especial, teve papel decisivo na ampliação das fronteiras, principalmente durante o período da Unidade Ibérica.
Entretanto, ao fim de três séculos de colonização, restavam florestas do litoral devastadas, terras
exauridas, milhões de vidas consumidas como carvão e cidades
como que varridas por uma tempestade. A ação predatória do
conquistador deitou fundas raízes
na nossa formação. Hoje, como
nação independente, até que ponto podemos afirmar que estamos
livres dessa prática e da mentalidade que lhe corresponde?
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. Email: roberson.co@uol.com.br
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