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QUÍMICA
Chumbo: uma viagem no tempo - parte 1
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
C humbo para todo o lado. Assim era o Império Romano.
Não por causa das guerras, mas
pelas construções e pelos vinhos.
Os romanos adoçavam seus vinhos com o "açúcar do chumbo"
(acetato de chumbo, substância
doce que chegou a ser usada na
Inglaterra como remédio (!) contra a diarréia no fim do século 19).
Por isso, como vimos na coluna
passada, adoeciam.
Mas o envenenamento coletivo
por chumbo, causado pelo vinho,
não afetou só os romanos. Na Idade Média, produtores de vinhos
baratos melhoravam o sabor de
sua bebida adicionando o tal
"açúcar do chumbo". Isso gerou
vários casos de cólicas estomacais
e anemia. Na Grã-Bretanha, no
século 18, houve um caso parecido, mas entre os fãs da sidra. Novamente, intoxicação por chumbo, que vinha das prensas que esmagavam as maçãs na produção
da bebida. Foi também na Idade
Média que o chumbo entrou para
as artes. Nessa época, os pigmentos para as tintas brancas eram
feitos com compostos desse metal. Produziram lindas pinturas,
mas também envenenaram alguns artistas. Infelizmente, tintas
com chumbo ainda hoje revestem
as paredes de algumas casas antigas. Isso é um perigo para as
crianças, que podem pôr na boca
o farelo de tinta que sai das paredes que estão descascando.
Além das intoxicações, as tintas
à base de chumbo começaram a
apresentar outro problema a partir da Revolução Industrial. É que,
nessa época, aumentou muito a
queima de combustíveis fósseis.
Como resultado, cresceu a concentração de H2S na atmosfera.
Sabe o que aconteceu? Quadros e
mais quadros começaram a escurecer por causa da formação do
PbS, que é preto. Mas a química
tem uma solução para tudo, até
para pinturas escurecidas! É só
usar água oxigenada (H2O2), que
transforma o PbS no branco
PbSO4 (PbS + 4H2O2000 PbSO4 +
4 H2O).
Mas o auge das intoxicações por
chumbo aconteceu no século 20.
É que, em 1921, Thomas Midgley
descobriu que a adição de chumbo tetraetila (Pb(C2H5)4) à gasolina melhorava o desempenho do
motor. A idéia pegou e, nos anos
60, carros do mundo todo rodavam com esse aditivo. Desempenho ótimo. Saúde do usuário nem
tanto. Felizmente, hoje, o chumbo
na gasolina está proibido em quase todos os países, inclusive no
Brasil. De Cleópatra até os automóveis, o chumbo sempre esteve
em todas!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna.
E-mail:
lula5@ig.com.br
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