São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002
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QUÍMICA

Chumbo: uma viagem no tempo - parte 1

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA


C humbo para todo o lado. Assim era o Império Romano. Não por causa das guerras, mas pelas construções e pelos vinhos. Os romanos adoçavam seus vinhos com o "açúcar do chumbo" (acetato de chumbo, substância doce que chegou a ser usada na Inglaterra como remédio (!) contra a diarréia no fim do século 19). Por isso, como vimos na coluna passada, adoeciam.
Mas o envenenamento coletivo por chumbo, causado pelo vinho, não afetou só os romanos. Na Idade Média, produtores de vinhos baratos melhoravam o sabor de sua bebida adicionando o tal "açúcar do chumbo". Isso gerou vários casos de cólicas estomacais e anemia. Na Grã-Bretanha, no século 18, houve um caso parecido, mas entre os fãs da sidra. Novamente, intoxicação por chumbo, que vinha das prensas que esmagavam as maçãs na produção da bebida. Foi também na Idade Média que o chumbo entrou para as artes. Nessa época, os pigmentos para as tintas brancas eram feitos com compostos desse metal. Produziram lindas pinturas, mas também envenenaram alguns artistas. Infelizmente, tintas com chumbo ainda hoje revestem as paredes de algumas casas antigas. Isso é um perigo para as crianças, que podem pôr na boca o farelo de tinta que sai das paredes que estão descascando.
Além das intoxicações, as tintas à base de chumbo começaram a apresentar outro problema a partir da Revolução Industrial. É que, nessa época, aumentou muito a queima de combustíveis fósseis. Como resultado, cresceu a concentração de H2S na atmosfera. Sabe o que aconteceu? Quadros e mais quadros começaram a escurecer por causa da formação do PbS, que é preto. Mas a química tem uma solução para tudo, até para pinturas escurecidas! É só usar água oxigenada (H2O2), que transforma o PbS no branco PbSO4 (PbS + 4H2O2000 PbSO4 + 4 H2O).
Mas o auge das intoxicações por chumbo aconteceu no século 20. É que, em 1921, Thomas Midgley descobriu que a adição de chumbo tetraetila (Pb(C2H5)4) à gasolina melhorava o desempenho do motor. A idéia pegou e, nos anos 60, carros do mundo todo rodavam com esse aditivo. Desempenho ótimo. Saúde do usuário nem tanto. Felizmente, hoje, o chumbo na gasolina está proibido em quase todos os países, inclusive no Brasil. De Cleópatra até os automóveis, o chumbo sempre esteve em todas!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna.
E-mail: lula5@ig.com.br



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