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PORTUGUÊS
Correlação pode aumentar coesão do texto
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A organização dos períodos segue certas normas ou tendências inspiradas pela lógica do raciocínio. Uma dessas normas de
expressividade aconselha a colocação dos termos ou da oração a
que se pretenda conferir mais ênfase nas extremidades do período.
É interessante confrontar duas
versões de um mesmo período,
nas quais apenas se altere a ordem
das orações. Veja: "Embora ainda
estivesse magoado, aceitou seu
pedido de desculpas" e "Aceitou
seu pedido de desculpas, embora
ainda estivesse magoado". Quando a informação principal (aceitou seu pedido de desculpas) é
contada depois, o leitor é obrigado a passar pelo condicionante
(no caso, a subordinada adverbial
concessiva) antes de chegar a ela.
Por isso o período fica mais tenso.
Quando a oração principal está
no início do período, a subordinada tende a ser lida com menos
atenção. "Correu em busca de
ajuda quando percebeu o que tinha ocorrido" é menos enfático
que "Quando percebeu o que tinha ocorrido, correu em busca de
ajuda". O mesmo se dá com o par:
"Telefone-me se tiver tempo" e
"Se tiver tempo, telefone-me".
Esse tipo de construção sintática, em que a enunciação da primeira parte (prótase) prepara a
enunciação da segunda (apódose), é chamado correlação. A prótase (introdução) cria uma expectativa que só se resolve quando a
apódose (desfecho) é enunciada,
estabelecendo-se, assim, um forte
vínculo sintático entre ambas.
A anteposição da oração subordinada à principal reforça a coesão do período -este um circuito
de palavras encadeadas de tal modo que o sentido só se completa
quando ele se fecha.
Convém notar que as orações
subordinadas adverbiais consecutivas aparecem normalmente
em estruturas correlativas do tipo: "Insistiu tanto que acabou
conseguindo o que queria". A palavra "tanto" ou sua forma reduzida "tão" antecipam a conseqüência ("Estava tão cansado que
adormeceu no sofá da sala").
A correlação também aparece
no processo de coordenação.
Ocorre, por exemplo, quando se
diz: "Não só estuda mas também
trabalha" no lugar de "Estuda e
trabalha". A estrutura correlativa
proporciona um ganho em ênfase. Nos pares alternativos, isso é
bastante comum: "Ora ri, ora
chora", "Ou estuda, ou não passa
no vestibular". A correlação contribui para a coesão do período.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
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