São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002
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QUÍMICA

Uma molécula com dupla personalidade

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Agradeça aos cidadãos da Roma antiga pela roupa limpa que você veste todo dia. Isso mesmo. Graças ao costume que os romanos tinham de sacrificar e de queimar animais como oferenda aos deuses é que o sabão foi inventado! Um dia, eles perceberam que, quando a gordura do animal escorria até as cinzas da madeira queimada, se formava uma pasta ótima para lavar roupas. Era o sabão.
Para fazer sabão, precisamos de gordura e de uma substância alcalina. Como nas cinzas da madeira há carbonato de sódio -que tem características alcalinas-, por mero acaso os romanos criaram o sabão. Mas por que ele limpa? Por que um prato sujo de azeite depois de uma bela pizza só é limpo com a ajuda do sabão?
A água, sem a ajuda do nosso amigo, não dissolve o azeite. O segredo está na sua "esquizofrenia química". Se, por um lado, a sua longa cadeia de grupos CH2 (veja quadro) lembra as moléculas de óleos e gorduras e, portanto, tende a dissolver-se nelas (regra do semelhante dissolve semelhante), por outro lado, a parte iônica (CO2-Na+) tende a dissolver-se na água. Assim, sua dupla personalidade é que faz do sabão um limpador. Enquanto uma de suas faces se dissolve na água, a outra se dissolve no azeite. Ele é, portanto, um intermediário que ajuda a água a dissolver os óleos e as gorduras.
Mas o sabão pode falhar. Isso acontece nas regiões em que as águas são ricas em íons Ca2+ e Mg2+ (água dura). Nesse caso, a sua parte negativa (ânion) se une a esses íons positivos, produzindo uma substância insolúvel (precipitado), o que "desativa" o sabão. Nesses lugares, podemos até ver um depósito cinza (o precipitado) em pias e banheiras.
Melhor, então, usar um detergente (veja quadro), que tem a mesma dupla personalidade do sabão, mas não reage com os íons da água dura nem polui mais como antigamente. Hoje, os detergentes são biodegradáveis, isto é, são destruídos pelas bactérias, livrando os rios da espuma, que impedia a oxigenação das águas, o que causava a morte de peixes e de plantas aquáticas.


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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