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QUÍMICA
Uma molécula com dupla personalidade
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Agradeça aos cidadãos da Roma antiga pela roupa limpa que você veste todo dia. Isso mesmo. Graças ao costume que os romanos tinham de sacrificar e de queimar animais como oferenda aos deuses é que o sabão foi inventado! Um dia, eles perceberam que, quando a gordura do animal escorria até as cinzas da madeira
queimada, se formava uma pasta ótima para lavar roupas. Era o sabão.
Para fazer sabão, precisamos de gordura e de uma substância alcalina. Como nas cinzas da madeira há carbonato de sódio -que tem características alcalinas-, por
mero acaso os romanos criaram o sabão. Mas por que ele limpa? Por
que um prato sujo de azeite depois de uma bela pizza só é limpo
com a ajuda do sabão?
A água, sem a ajuda do nosso
amigo, não dissolve o azeite. O segredo está na sua "esquizofrenia
química". Se, por um lado, a sua
longa cadeia de grupos CH2 (veja
quadro) lembra as moléculas de
óleos e gorduras e, portanto, tende a dissolver-se nelas (regra do
semelhante dissolve semelhante),
por outro lado, a parte iônica
(CO2-Na+) tende a dissolver-se na
água. Assim, sua dupla personalidade é que faz do sabão um limpador. Enquanto uma de suas faces se dissolve na água, a outra se
dissolve no azeite. Ele é, portanto,
um intermediário que ajuda a
água a dissolver os óleos e as gorduras.
Mas o sabão pode falhar. Isso
acontece nas regiões em que as
águas são ricas em íons Ca2+ e
Mg2+ (água dura). Nesse caso, a
sua parte negativa (ânion) se une
a esses íons positivos, produzindo
uma substância insolúvel (precipitado), o que "desativa" o sabão.
Nesses lugares, podemos até ver
um depósito cinza (o precipitado)
em pias e banheiras.
Melhor, então, usar um detergente (veja quadro), que tem a
mesma dupla personalidade do
sabão, mas não reage com os íons
da água dura nem polui mais como antigamente. Hoje, os detergentes são biodegradáveis, isto é,
são destruídos pelas bactérias, livrando os rios da espuma, que
impedia a oxigenação das águas, o
que causava a morte de peixes e
de plantas aquáticas.
Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br
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