São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004
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HISTÓRIA

Revolução e economia de mercado

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O esforço do Partido Comunista Chinês em conciliar uma economia planificada e não-capitalista com uma de mercado não é original. A primeira tentativa remete à fase inicial da Revolução Russa, quando Lênin buscava uma solução para os problemas do Comunismo de Guerra.
Com o fim da Primeira Guerra, as potências capitalistas voltaram a sua atenção aos acontecimentos na Rússia. França e Inglaterra puderam, então, apoiar grupos prejudicados pela revolta, que formaram o Exército Branco, cujo objetivo era derrotar a revolução. Para enfrentar os problemas da guerra civil, Lênin elaborou uma proposta econômica conhecida como Comunismo de Guerra.
Entre as medidas, destacava-se o confisco de grãos. Consistia na apreensão, pelo governo, de parte da produção excedente dos camponeses para abastecer cidades e tropas, que enfrentavam escassez de alimentos. A medida foi fundamental para garantir o abastecimento durante a guerra e para assegurar a vitória da revolução.
Só que, em 1921, depois de vários confiscos, a produção camponesa começou a diminuir. Eles não se sentiam motivados a produzir excedente, já que ele seria confiscado. Foi nesse contexto que Lênin elaborou a NEP (Nova Política Econômica).
A NEP previa, entre outras coisas, a criação de um imposto a ser pago em produto pelos camponeses e a liberdade de criar pequenos negócios e de vender o excedente pelo melhor preço. Assim, dentro da economia soviética, havia um setor que operava segundo o mercado. A NEP foi bem sucedida enquanto vigorou, mas, após a morte de Lênin, em 1924, intensificou-se a oposição contra ela, pois era considerada uma sobrevivência do capitalismo.
Stálin, depois que assumiu o poder, extinguiu-a, estendendo o planejamento centralizado a todos os setores da economia soviética, com os resultados que todos nós conhecemos. Ironicamente, a NEP talvez não representasse o passado, mas sim o futuro das economias planejadas.


Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD). E-mail: roberson.co@uol.com.br


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