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MÚSICA
Parada americana foi dominada por estrelas de gêneros como hip hop e country, no lugar de artistas "genéricos"
2002: ano em que o pop perdeu popularidade
NEIL STRAUSS
DO "NEW YORK TIMES"
Há não muito tempo,
"NSync, Britney Spears e
Backstreet Boys dominavam as
paradas. Mas, em 2002, o gosto
musical dos EUA parece ter mudado. Se definirmos pop como
música convencional cujo objetivo é atrair o maior número possível de ouvintes, ser genérico não
resulta necessariamente em vendas. A música pop não foi assim
tão popular no ano de 2002. Basta
ver a lista de CDs que chegaram
ao topo das paradas para perceber
que o que vendeu foram os extremos.
Dois gêneros de música dominaram as listas dos mais vendidos. Um, é claro, era o rap. Trata-se, afinal, do ano de Eminem, que
ficou oito semanas no topo graças
a "The Eminem Show" e à trilha
de "8 Mile - Rua das Ilusões".
Quanto ao segundo gênero, os
fãs de r'n'b, música latina e polca
talvez se surpreendam ao descobrir que estamos falando do
country. Quase um terço dos ocupantes do primeiro posto das paradas foram canções country,
proporção até superior à do rap.
Desde 1991, quando a revista
"Billboard" começou a usar os
serviços da Soundscan (empresa
de pesquisa que registra códigos
de barras) para compilar suas paradas de sucesso, em lugar de
confiar em informações verbais
de funcionários de lojas, as paradas pop vêm abrigando muito
mais títulos de country do que os
executivos das gravadoras esperavam anteriormente.
Em meio ao patriotismo cada
vez mais intenso e às vitórias eleitorais dos republicanos, a música
country parece mais próxima ao
ânimo nacional. Com cantoras
como Faith Hill e Shania Twain
adotando um som ainda mais enxuto em seus novos discos, pode-se defender a tese de que o
country é o novo pop.
Juntos, country e rap detiveram
30 das 50 primeiras posições registradas até agora no ano. O terceiro gênero mais importante foi
o rock, que ocupou o primeiro lugar 12 vezes, deixando apenas oito
para o r'n'b e o gênero oficialmente definido como pop.
O domínio do country e do rap
nas paradas pode ser visto em
parte como reação dos consumidores à manipulação que resultou
em tantas "boy bands" de sucesso
ao longo dos anos. Audiências um
pouco mais velhas estão reconquistando o controle das tendências musicais e gravitam para estilos onde artistas solo que demonstram ter algum ponto de
vista e conexão com a vida cotidiana parecem mais importantes.
Ainda que seja possível alegar
que boa parte do material classificado como country não passa de
pop genérico, a música country
ainda assim representa uma estética mais específica, uma identidade nacional e, pelo menos na
música atual, um estilo de vida
mais afluente do que outras formas de pop pré-fabricado.
Um estudo com alguns dos álbuns que chegaram ao topo das
paradas em 2002 revela surpresas.
"Weathered", Creed
Três semanas em primeiro. Gênero: grunge com tinturas cristãs.
Opinião dos críticos: o Creed audaciosamente vai onde o Candlebox não quis ir. Vantagem competitiva: parecem-se com e soam
como Pearl Jam, mas fazem
shows e dão entrevistas.
"Under Rug Swept", Alanis
Morissette
Uma semana em primeiro. Gênero: rock confessional. Opinião:
Morissette amadurece, assumindo as tarefas de produção de um
disco no qual ela ocasionalmente
atenua o peso de seus problemas e
dilemas sentimentais. Vantagem:
cerca de 130 mil meninas entram
na puberdade a cada dia.
"E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?", vários
Duas semanas em primeiro. Gênero: bluegrass e música de raiz.
Opinião: o milagre pop do ano
passado, uma trilha composta por
velhas gravações de bluegrass.
Vantagem: a trilha foi ajudada
por um filme com forte identidade musical, mas foi o Grammy
conquistado que o levou da 15ª
para a primeira posição.
"The Eminem Show", Eminem
Seis semanas em primeiro. Gênero: rap com complexo de perseguição. Opinião: sem se curvar
aos críticos, Eminem detona seus
inimigos com as rimas mais ágeis
da música, batidas limpas e uma
participação especial da filha.
Vantagem: odiado até pela mãe,
ninguém apareceu mais em 2002.
"Shaman", Santana
Uma semana em primeiro. Gênero: rock místico de retomada
de carreira. Opinião: Carlos Santana volta a gravar seu último disco, "Supernatural", com outros
vocalistas convidados. Vantagem:
o sucesso foi outro efeito colateral
de uma volta triunfal, com a conquista de um Grammy e o domínio das paradas três anos atrás.
"Juslisen", Musiq
Uma semana em primeiro. Gênero: fãs de Stevie Wonder. Opinião: em seu segundo disco, Musiq entra no clube dos cantores de
neo-soul. Vantagem: fazer sucesso envolve sacrifícios, de modo
que Musiq encurtou o nome (Musiq Souldchild), deixou de lado
canções politizadas e permitiu
que a gravadora o convencesse a
gravar um cover de uma canção
dos Beatles que ele nunca ouvira.
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