São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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MÚSICA

Parada americana foi dominada por estrelas de gêneros como hip hop e country, no lugar de artistas "genéricos"

2002: ano em que o pop perdeu popularidade

NEIL STRAUSS
DO "NEW YORK TIMES"

Há não muito tempo, "NSync, Britney Spears e Backstreet Boys dominavam as paradas. Mas, em 2002, o gosto musical dos EUA parece ter mudado. Se definirmos pop como música convencional cujo objetivo é atrair o maior número possível de ouvintes, ser genérico não resulta necessariamente em vendas. A música pop não foi assim tão popular no ano de 2002. Basta ver a lista de CDs que chegaram ao topo das paradas para perceber que o que vendeu foram os extremos.
Dois gêneros de música dominaram as listas dos mais vendidos. Um, é claro, era o rap. Trata-se, afinal, do ano de Eminem, que ficou oito semanas no topo graças a "The Eminem Show" e à trilha de "8 Mile - Rua das Ilusões".
Quanto ao segundo gênero, os fãs de r'n'b, música latina e polca talvez se surpreendam ao descobrir que estamos falando do country. Quase um terço dos ocupantes do primeiro posto das paradas foram canções country, proporção até superior à do rap.
Desde 1991, quando a revista "Billboard" começou a usar os serviços da Soundscan (empresa de pesquisa que registra códigos de barras) para compilar suas paradas de sucesso, em lugar de confiar em informações verbais de funcionários de lojas, as paradas pop vêm abrigando muito mais títulos de country do que os executivos das gravadoras esperavam anteriormente.
Em meio ao patriotismo cada vez mais intenso e às vitórias eleitorais dos republicanos, a música country parece mais próxima ao ânimo nacional. Com cantoras como Faith Hill e Shania Twain adotando um som ainda mais enxuto em seus novos discos, pode-se defender a tese de que o country é o novo pop.
Juntos, country e rap detiveram 30 das 50 primeiras posições registradas até agora no ano. O terceiro gênero mais importante foi o rock, que ocupou o primeiro lugar 12 vezes, deixando apenas oito para o r'n'b e o gênero oficialmente definido como pop.
O domínio do country e do rap nas paradas pode ser visto em parte como reação dos consumidores à manipulação que resultou em tantas "boy bands" de sucesso ao longo dos anos. Audiências um pouco mais velhas estão reconquistando o controle das tendências musicais e gravitam para estilos onde artistas solo que demonstram ter algum ponto de vista e conexão com a vida cotidiana parecem mais importantes.
Ainda que seja possível alegar que boa parte do material classificado como country não passa de pop genérico, a música country ainda assim representa uma estética mais específica, uma identidade nacional e, pelo menos na música atual, um estilo de vida mais afluente do que outras formas de pop pré-fabricado.
Um estudo com alguns dos álbuns que chegaram ao topo das paradas em 2002 revela surpresas.

"Weathered", Creed
Três semanas em primeiro. Gênero: grunge com tinturas cristãs. Opinião dos críticos: o Creed audaciosamente vai onde o Candlebox não quis ir. Vantagem competitiva: parecem-se com e soam como Pearl Jam, mas fazem shows e dão entrevistas.

"Under Rug Swept", Alanis Morissette
Uma semana em primeiro. Gênero: rock confessional. Opinião: Morissette amadurece, assumindo as tarefas de produção de um disco no qual ela ocasionalmente atenua o peso de seus problemas e dilemas sentimentais. Vantagem: cerca de 130 mil meninas entram na puberdade a cada dia.

"E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?", vários
Duas semanas em primeiro. Gênero: bluegrass e música de raiz. Opinião: o milagre pop do ano passado, uma trilha composta por velhas gravações de bluegrass. Vantagem: a trilha foi ajudada por um filme com forte identidade musical, mas foi o Grammy conquistado que o levou da 15ª para a primeira posição.

"The Eminem Show", Eminem
Seis semanas em primeiro. Gênero: rap com complexo de perseguição. Opinião: sem se curvar aos críticos, Eminem detona seus inimigos com as rimas mais ágeis da música, batidas limpas e uma participação especial da filha. Vantagem: odiado até pela mãe, ninguém apareceu mais em 2002.

"Shaman", Santana
Uma semana em primeiro. Gênero: rock místico de retomada de carreira. Opinião: Carlos Santana volta a gravar seu último disco, "Supernatural", com outros vocalistas convidados. Vantagem: o sucesso foi outro efeito colateral de uma volta triunfal, com a conquista de um Grammy e o domínio das paradas três anos atrás.

"Juslisen", Musiq
Uma semana em primeiro. Gênero: fãs de Stevie Wonder. Opinião: em seu segundo disco, Musiq entra no clube dos cantores de neo-soul. Vantagem: fazer sucesso envolve sacrifícios, de modo que Musiq encurtou o nome (Musiq Souldchild), deixou de lado canções politizadas e permitiu que a gravadora o convencesse a gravar um cover de uma canção dos Beatles que ele nunca ouvira.


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