São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"ÁFRICO"

Violonista mineiro trabalha variantes rítmicas africanas em seu terceiro CD, o primeiro pelo selo Biscoito Fino

Sergio Santos explora raiz musical negra

EDSON FRANCO
EDITOR DE IMÓVEIS E CONSTRUÇÃO

Iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Especialistas na arte de decorar belas melodias com harmonias idem, os mineiros relutavam em explorar as variantes rítmicas mais negras, rústicas e seminais da música brasileira. Pois foi exatamente isso o que resolveu fazer o compositor, violonista e cantor Sergio Santos, 45.
Seu terceiro CD, "Áfrico" (primeiro pelo selo carioca Biscoito Fino), é uma riquíssima coleção de frações melódicas carregadas de sentido e embaladas por batidas que aportaram por aqui junto com os navios negreiros.
"Alguns podem até encontrar alguma similaridade com o disco "Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius" [lançado pelo violonista Baden Powell e pelo poeta Vinicius de Moraes em 1966], mas o meu trabalho é original, não se parece com nada que eu tenha ouvido antes", defendeu o músico, por telefone, à Folha.
Diferentemente do trabalho de Baden, o resultado sonoro de "Áfrico" não é fruto de pesquisa in loco, mas sim de alianças estratégicas, que começam com os parceiros compositores e vão até os percussionistas convidados para realçar a sugerida africanidade.
"Paulo César Pinheiro já foi meu parceiro em composições anteriores e foi fundamental para dar o toque afro nas músicas do disco. Ao mostrar as melodias desse disco para ele, pedi letras em que imperassem o ritmo e o swing da palavra. Mesmo que para isso fosse preciso sacrificar o sentido do texto", explica.
Mas, na opinião do próprio cantor, nada foi sacrificado, pois, além da divisão silábica percussiva, as letras contam alguma coisa.
A firmeza com que Santos descreve o trabalho hoje esconde um início titubeante. Ele lembra que, quando foi conversar com o pessoal do selo Biscoito Fino, a idéia era produzir um trabalho distante da sonoridade de "Áfrico".
Com toda a sua variação rítmica, o CD deixou Santos inseguro, pois imaginava algo estilisticamente mais restrito: "Se você quiser um disco de samba ou baião, consigo gravar amanhã. Algo tão amplo é bem mais complicado".
A insegurança desapareceu quando a pré-produção do álbum teve início, em setembro passado. Ao lado do contrabaixista Rodolfo Stroeter (também produtor do trabalho), do baterista Tutty Moreno, do pianista André Mehmani e do saxofonista Teco Cardoso, Santos trancafiou-se num estúdio e saiu com "Áfrico" em estado bruto, mas já formatado.
Depois, foi só acertar os detalhes. Alguns deles a cargo do percussionista Marcos Suzano, dos cantores Lenine, Joyce e Olivia Hime e do grupo mineiro Uakti.
Com tantos convidados, Santos terá o problema de levar a sonoridade do CD para o palco. O show de estréia, segundo ele, está agendado para março em local ainda indeterminado do Rio de Janeiro. Pelos planos do músico, em abril é a vez de São Paulo.
"Será impossível reproduzir o som do CD. Mas, com o quarteto que participou da pré-produção e mais um ou dois percussionistas convidados, será possível dar uma idéia fiel do trabalho."


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