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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"ÁFRICO"
Violonista mineiro trabalha variantes rítmicas africanas em seu terceiro CD, o primeiro pelo selo Biscoito Fino
Sergio Santos explora raiz musical negra
EDSON FRANCO
EDITOR DE IMÓVEIS E CONSTRUÇÃO
Iria acontecer mais cedo ou
mais tarde. Especialistas na arte
de decorar belas melodias com
harmonias idem, os mineiros relutavam em explorar as variantes
rítmicas mais negras, rústicas e
seminais da música brasileira.
Pois foi exatamente isso o que resolveu fazer o compositor, violonista e cantor Sergio Santos, 45.
Seu terceiro CD, "Áfrico" (primeiro pelo selo carioca Biscoito
Fino), é uma riquíssima coleção
de frações melódicas carregadas
de sentido e embaladas por batidas que aportaram por aqui junto
com os navios negreiros.
"Alguns podem até encontrar
alguma similaridade com o disco
"Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius" [lançado pelo violonista Baden Powell e pelo poeta Vinicius
de Moraes em 1966], mas o meu
trabalho é original, não se parece
com nada que eu tenha ouvido
antes", defendeu o músico, por telefone, à Folha.
Diferentemente do trabalho de
Baden, o resultado sonoro de
"Áfrico" não é fruto de pesquisa
in loco, mas sim de alianças estratégicas, que começam com os
parceiros compositores e vão até
os percussionistas convidados para realçar a sugerida africanidade.
"Paulo César Pinheiro já foi
meu parceiro em composições
anteriores e foi fundamental para
dar o toque afro nas músicas do
disco. Ao mostrar as melodias
desse disco para ele, pedi letras
em que imperassem o ritmo e o
swing da palavra. Mesmo que para isso fosse preciso sacrificar o
sentido do texto", explica.
Mas, na opinião do próprio cantor, nada foi sacrificado, pois,
além da divisão silábica percussiva, as letras contam alguma coisa.
A firmeza com que Santos descreve o trabalho hoje esconde um
início titubeante. Ele lembra que,
quando foi conversar com o pessoal do selo Biscoito Fino, a idéia
era produzir um trabalho distante
da sonoridade de "Áfrico".
Com toda a sua variação rítmica, o CD deixou Santos inseguro,
pois imaginava algo estilisticamente mais restrito: "Se você quiser um disco de samba ou baião,
consigo gravar amanhã. Algo tão
amplo é bem mais complicado".
A insegurança desapareceu
quando a pré-produção do álbum
teve início, em setembro passado.
Ao lado do contrabaixista Rodolfo Stroeter (também produtor do
trabalho), do baterista Tutty Moreno, do pianista André Mehmani
e do saxofonista Teco Cardoso,
Santos trancafiou-se num estúdio
e saiu com "Áfrico" em estado
bruto, mas já formatado.
Depois, foi só acertar os detalhes. Alguns deles a cargo do percussionista Marcos Suzano, dos
cantores Lenine, Joyce e Olivia
Hime e do grupo mineiro Uakti.
Com tantos convidados, Santos
terá o problema de levar a sonoridade do CD para o palco. O show
de estréia, segundo ele, está agendado para março em local ainda
indeterminado do Rio de Janeiro.
Pelos planos do músico, em abril
é a vez de São Paulo.
"Será impossível reproduzir o
som do CD. Mas, com o quarteto
que participou da pré-produção e
mais um ou dois percussionistas
convidados, será possível dar
uma idéia fiel do trabalho."
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