São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Filme exalta esporte e cria mantra

MARIO SERGIO CONTI
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil tem quase todos os elementos para se tornar um paraíso do surfe: um dos litorais mais extensos do planeta, o grosso da população vivendo em cidades costeiras, mar quente o ano todo e ondas a perder de vista. O único problema é que, no mais das vezes, as ondas são mirradas.
A modéstia das ondas não foi obstáculo para que a subcultura surfista prosperasse, sobretudo nas duas últimas décadas. Afinal, o esporte é relativamente barato. Não requer infra-estrutura nem treinamento especializado. O equipamento necessário resume-se a uma prancha, uma bermuda e meio neurônio, sendo que o último item não é obrigatório.
Avalia-se que existam hoje uns 2 milhões de surfistas ocasionais no Brasil. É para eles (e suas sempre cordatas namoradas) que foi feito "Surf Adventures - O Filme".
Dirigido pelo documentarista Arthur Fontes, o longa-metragem não se pretende mais que um show de imagens, acompanhadas do linguajar-dialeto característico da tribo. "Maior adrenalina, bró" é o máximo de complexidade que um surfista consegue concatenar verbalmente.
O filme, disciplinadamente colonizado, copia o título de um programa de televisão. O roteiro de "Surf Adventures", por sua vez, é decalcado diretamente do filme americano "Endless Summer": surfistas viajam a praias extraordinárias em busca de uma mítica "onda perfeita".
E tome onda. O filme passa por Fernando de Noronha, Indonésia, África do Sul, Havaí e Califórnia. Como não podia deixar de ser, as menores ondas são as de Fernando de Noronha, e as maiores, as americanas. As imagens são deslumbrantes. As câmeras levam os espectadores dentro das ondas, ao frenesi dos tubos.
As imagens são deslumbrantes, mas, desconfia-se, talvez não mostrem o surfe real. O excesso de cortes e de câmeras lentas borra duas características essenciais do esporte: a espera pela onda e a rapidez com que ela acaba.
É pena que o longa seja tão-somente um filme de surfistas para surfistas. Não-surfistas gostariam de saber, por exemplo, quais as manobras fundamentais, como se contam pontos num campeonato, quanto ganham e como vivem os profissionais, por que o esporte é machista e qual o papel da maconha na subcultura surfista.
Para saciar essas curiosidades, seria preciso que "Surf Adventures" fosse um documentário. Ou ao menos que o filme pensasse um pouco e levasse o público a pensar. Não é essa a intenção. O propósito é exaltar o esporte e fazer com que a platéia murmure o mantra "maior adrenalina, bró".


Surf Adventures - O Filme
  
Direção: Arthur Fontes
Produção: Brasil, 2002
Quando: a partir de hoje nos cines Iguatemi, Lumière, Shopping D e circuito




Texto Anterior: "Surfe Adventures - O Filme": Documentário desvencilha surfe da praia
Próximo Texto: "Fantasmas de Marte" atacam
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.