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CRÍTICA
Filme exalta esporte e cria mantra
MARIO SERGIO CONTI
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil tem quase todos os
elementos para se tornar um
paraíso do surfe: um dos litorais
mais extensos do planeta, o grosso da população vivendo em cidades costeiras, mar quente o ano
todo e ondas a perder de vista. O
único problema é que, no mais
das vezes, as ondas são mirradas.
A modéstia das ondas não foi
obstáculo para que a subcultura
surfista prosperasse, sobretudo
nas duas últimas décadas. Afinal,
o esporte é relativamente barato.
Não requer infra-estrutura nem
treinamento especializado. O
equipamento necessário resume-se a uma prancha, uma bermuda
e meio neurônio, sendo que o último item não é obrigatório.
Avalia-se que existam hoje uns
2 milhões de surfistas ocasionais
no Brasil. É para eles (e suas sempre cordatas namoradas) que foi
feito "Surf Adventures - O Filme".
Dirigido pelo documentarista
Arthur Fontes, o longa-metragem
não se pretende mais que um
show de imagens, acompanhadas
do linguajar-dialeto característico
da tribo. "Maior adrenalina, bró"
é o máximo de complexidade que
um surfista consegue concatenar
verbalmente.
O filme, disciplinadamente colonizado, copia o título de um
programa de televisão. O roteiro
de "Surf Adventures", por sua
vez, é decalcado diretamente do
filme americano "Endless Summer": surfistas viajam a praias extraordinárias em busca de uma
mítica "onda perfeita".
E tome onda. O filme passa por
Fernando de Noronha, Indonésia, África do Sul, Havaí e Califórnia. Como não podia deixar de
ser, as menores ondas são as de
Fernando de Noronha, e as maiores, as americanas. As imagens
são deslumbrantes. As câmeras
levam os espectadores dentro das
ondas, ao frenesi dos tubos.
As imagens são deslumbrantes,
mas, desconfia-se, talvez não
mostrem o surfe real. O excesso
de cortes e de câmeras lentas borra duas características essenciais
do esporte: a espera pela onda e a
rapidez com que ela acaba.
É pena que o longa seja tão-somente um filme de surfistas para
surfistas. Não-surfistas gostariam
de saber, por exemplo, quais as
manobras fundamentais, como se
contam pontos num campeonato, quanto ganham e como vivem
os profissionais, por que o esporte
é machista e qual o papel da maconha na subcultura surfista.
Para saciar essas curiosidades,
seria preciso que "Surf Adventures" fosse um documentário. Ou
ao menos que o filme pensasse
um pouco e levasse o público a
pensar. Não é essa a intenção. O
propósito é exaltar o esporte e fazer com que a platéia murmure o
mantra "maior adrenalina, bró".
Surf Adventures - O Filme
Direção: Arthur Fontes
Produção: Brasil, 2002
Quando: a partir de hoje nos cines
Iguatemi, Lumière, Shopping D e circuito
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