São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um território árido de letras

Flávio Florido/Folha Imagem
A professora Albanita Guerra desenvolve na Paraíba um projeto com livros de pano que estimula a leitura infantil




EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Livrarias são uma raridade no país. Existem 2.008 unidades espalhadas pelo território, o que dá uma média de um estabelecimento para cada 84,4 mil habitantes. Roraima, Amapá e Tocantins possuem, cada um, apenas duas livrarias. Os números -publicados recentemente no Anuário Editorial Brasileiro do Grupo Editorial Cone Sul- mostram que os habitantes da região Norte são os que menos têm oportunidade de acesso aos livros por meio das livrarias. Lá, existe uma para cada 215,3 mil pessoas.
As regiões Sul e Sudeste lideram o setor de livrarias do país. O Sudeste engloba 56% das lojas. A média é de uma para cada 64,2 mil pessoas. Já a região Sul é a que possui a menor média na relação do número de livrarias por habitante (uma para cada 56,7 mil).
Se somados livrarias, sebos, bancas de jornais, escolas, supermercados e faculdades, chega-se a cerca de 5.000 pontos de venda de livros em todo o país.
Enquanto a produção de livros se manteve estagnada entre 1991 e 2000 (numa média anual de cerca de 300 milhões de exemplares), a população brasileira cresceu 15% no mesmo período -avançando de 146,8 milhões para 169,5 milhões de habitantes.
A Argentina possui 6.000 livrarias (incluídos os sebos), segundo a Câmara de Papeleiros e Livreiros. Uma média de uma livraria para cada 6.000 habitantes, considerando-se a população de cerca de 37 milhões, segundo estimativa de junho de 2000.
De acordo com José de Mello Júnior, coordenador editorial do anuário que traz a estatística, o número de livrarias que há hoje no Brasil é o mesmo de dez anos atrás. "Por ano, cerca de 60 unidades são abertas, mas, devido à quebradeira de lojas que ocorreu entre 1994 e 1999, o número de unidade permaneceu no mesmo patamar, em lugar de crescer."
Para o baixo número de estabelecimentos, livreiros e autoridades apontam desde motivos econômicos (retorno financeiro a longo prazo e falta de financiamento para as pequenas livrarias) até o fato de o governo ter monopolizado a distribuição de livros às escolas públicas.
Mas o principal fator seria a falta de uma política de incentivo à leitura por meio de bibliotecas públicas e projetos sociais que estimulariam as crianças, criando potenciais compradores de livros. Há hoje no país cerca de 4.800 bibliotecas públicas, de acordo com o Ministério da Cultura.
A professora Albanita Guerra, coordenadora do Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura), na Paraíba, desenvolve um projeto com livros de pano que estimula a leitura em crianças (veja texto nesta página).
De acordo com a Associação Nacional das Livrarias, cada brasileiro lê, em média, 2,3 livros por ano. "Com a expansão da TV nos últimos 20 anos, a aventura da leitura ficou comprometida e a existência das livrarias também", afirmou o poeta Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras.
Para o presidente da União Brasileira dos Escritores, o poeta Cláudio Willer, as pequenas livrarias são as mais atingidas e devem inovar para conseguir sobreviver às exigências do mercado.
"Os livreiros, tanto os das livrarias convencionais como os das megastores, deveriam dar prioridade ao nível de conhecimento de seus funcionários como um atrativo extra. A má qualidade dos atendentes serve como desestímulo aos clientes", afirma Willer.
Para Eduardo Yasuda, presidente da Associação Nacional das Livrarias, "o fato positivo de o governo distribuir os livros didáticos a todas as escolas públicas do país fez com que o movimento nas livrarias diminuísse consideravelmente nos últimos anos".
Segundo Yasuda, o número de livrarias que fecham as portas hoje no país é o mesmo das que são inauguradas. "Acho que o governo está com uma iniciativa muito boa, mas deveria haver uma alternativa de as livrarias pelo menos distribuírem esses livros."
Para sair da crise, algumas livrarias passaram a apostar na segmentação, dando prioridade a apenas um tipo de livro. Elas podem ser didáticas, culturais, universitárias, religiosas ou jurídicas.

Colaborou José Alan Dias, de Buenos Aires


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Paraíba e Pernambuco investem em formar leitores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.