São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2001

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Paraíba e Pernambuco investem em formar leitores

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

A criatividade é o principal instrumento utilizado por educadores para estimular o hábito da leitura em crianças e adolescentes na Paraíba e em Pernambuco.
Em Campina Grande (PB), eles contam e lêem histórias em livros de pano, ilustrados com pinturas, costuras, colagens com madeira, pedrinhas ou folhagens.
Esse projeto de formação de leitores é desenvolvido há dez anos por Albanita Guerra, coordenadora do Proler na Paraíba.
Este mês, a experiência estará ao alcance de um número maior de pessoas. A biblioteca municipal de Campina Grande ganhará 200 livros de pano, feitos pelos alunos da faculdade de pedagogia da Universidade Federal da Paraíba.
"O aluno escolhe um tema e, para criar a narrativa, tem de pesquisar muito antes, ler bastante. E dá certo porque ele se envolve com o projeto e fica familiarizado com o universo da leitura", disse a professora Albanita.
Além dos livros de pano, a biblioteca municipal também receberá 12 mil folhetos de cordel, literatura típica da cultura popular nordestina, adquiridos de um colecionador que morreu há dois anos.

Biblioteca ambulante
Desde outubro passado, a Secretaria Municipal de Educação desenvolve o projeto Cordel na Escola, em parceria com a Associação de Repentistas de Campina Grande. Seis artistas populares percorrem as escolas municipais, fazendo apresentações e incentivando os alunos a escreverem e apresentarem seus cordéis.
"Em quatro escolas já há "bibliotecas do cordel", com cerca de 50 folhetos. A proposta é expandir para outras unidades", disse o secretário de Educação, Harrison Targino.
Foi por falta de livros na cidade que duas professoras colocaram 80 livros em um Fiat Prêmio e começaram a percorrer as escolas do município de Conde, na zona rural da Paraíba, em 1997. Hoje, são cerca de 3.000 livros, numa caminhonete doada por uma organização de padres holandeses.
"Não fazemos atividades como interpretação de texto porque não queremos vincular a leitura à tarefinha, e sim despertar a leitura prazerosa. Então conversamos sobre os temas lidos, sobre os textos e chamamos a atenção para alguns autores e obras", afirmou uma das integrantes do projeto, a professora Anne Celeumans.
Já o educador Roberval Lima, de Pernambuco, utiliza as técnicas dos contadores de histórias para despertar o interesse.
Os alunos pegam livros da biblioteca e adaptam os textos para a linguagem oral. Segundo o educador, esse trabalho é feito geralmente com turmas de terceira e quarta séries, mas há escolas em que alunos até mais novos se interessaram pelas atividades.
"Peço para que eles não decorem as histórias, mas criem em cima delas, imitem vozes, para prender a atenção de quem está ouvindo", disse Lima.
Ele também orienta as crianças a adaptarem as histórias para a realidade delas. "Se há um rio, ele vira o São Francisco; as personagens passam a se chamar Severino ou Raimundo", disse o educador.
Lima desenvolve o trabalho em 15 escolas dos municípios de Bezerros, Gravatá e Chã Grande. Este ano, pretende expandir as atividades para Caruaru e Vitória de Santo Antão.
"Quero mostrar, e pelos resultados acho que tenho conseguido, que a leitura pode e deve ser agradável", afirmou.


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