|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GRAVURA
Para pesquisador, gênero é erroneamente reconhecido como folclore
Exposição vê o cordel como design
DA AGÊNCIA FOLHA
O design popular e sertanejo
das xilogravuras de Juazeiro do
Norte (CE) pode ser visto, até o
começo de abril, no IEB (Instituto
de Estudos Brasileiros) da Universidade de São Paulo.
A exposição "Xilogravura: Os
Percursos da Criação Popular"
marca o lançamento do livro "Desenho Gráfico Popular: Catálogo
de Matrizes Xilográficas de Juazeiro do Norte", do professor Gilmar de Carvalho, da Universidade Federal do Ceará.
Carvalho doou para o IEB, no
ano passado, 295 matrizes de madeira e, ao longo dos últimos três
anos, 300 folhetos e 22 álbuns de
material impresso.
No livro estão reunidas e catalogadas 150 matrizes publicitárias,
que vão desde xilogravuras utilizadas como logotipo de lojas e
produtos até anúncios de festas
populares. Já o restante das matrizes, folhetos e álbuns são representações da fé, do trabalho e das
festas populares.
"Na exposição, passamos por
todos os temas. O efeito visual é o
mesmo, nós é que temos essa tendência de segmentar as obras.
Também é explicado o processo
de produção da xilogravura", disse Murillo Marx, diretor do IEB.
Carvalho começou a reunir esse
material em 1986 para sua dissertação de mestrado, que era sobre
a publicidade no cordel. Nessa
época, o professor começou a organizar exposições para estimular
a produção e valorizar o trabalho
dos gravadores.
"À medida que eu organizava
essas exposições, acumulava muitas matrizes. Além de minha casa
ser pequena, também faltavam
condições técnicas para armazenar o material", disse ele.
O contato de Carvalho com o
IEB teve início em 1995, quando
fazia doutorado na PUC de São
Paulo. Na época, ele consultava os
arquivos da instituição sobre literatura de cordel.
Sua tese de doutorado, "Madeira Matriz", publicada em 1998,
analisa xilogravuras que têm como tema o padre Cícero.
Segundo Carvalho, a xilogravura foi a maneira mais ágil e barata
encontrada para tornar os jornais
sedutores para a leitura.
"Ela chegou com a Impressão
Régia, em 1815, quando ainda não
existiam técnicas para ilustrar os
jornais", explicou o pesquisador.
O auge dessa técnica, porém, foi
como ilustração dos folhetos de
cordel, que começaram a ser produzidos na década de 20 do século
passado, em Juazeiro do Norte, de
forma precária.
Em 1949, segundo o professor, o
editor José Bernardo da Silva, que
estava sendo bem-sucedido vendendo cordéis em feiras e festas,
contratou artistas populares de
Juazeiro do Norte, como escultores e entalhadores, para fazer as
ilustrações. Quando a literatura
de cordel decaiu, os gravadores
procuraram outros nichos, como
a publicidade e os álbuns.
Além da parceria com o IEB,
Carvalho tem outros projetos envolvendo a xilogravura. Ele pretende publicar um álbum com sete vias-sacras de artistas de Juazeiro do Norte. São representações
em xilogravura das 14 estações
percorridas por Cristo com a
cruz.
"Alguns gravadores fazem essa
obra seguindo o modelo da igreja,
outros acrescentam diferentes
elementos", disse ele.
O professor disse que também
gostaria de recuperar o trabalho
do gravador Antônio Batista da
Silva, que morreu em 1995. Ele
pertenceu à geração pioneira da
xilogravura, que começou a trabalhar nas décadas de 50 e 60.
Silva fez, sob encomenda para
Carvalho, uma via-sacra do tamanho de uma caixa de fósforos e
um álbum representando os sete
pecados capitais.
(FERNANDA KRAKOVICS)
Exposição: Xilogravura: Os Percursos da
Criação Popular
Quando: de seg. a sex., das 9h às 17h
Onde: IEB - USP (av. Prof. Mello Moraes,
trav. 8, nš 140, Cidade Universitária, tel.
0/xx/11/3032-2429)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Festivais podem ser problema Próximo Texto: Professor defende criação de museu Índice
|