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Campanha antibaixaria na televisão perde ibope
Estudiosos avaliam por que o debate sobre a TV tem hoje menos visibilidade
Especialistas acreditam que pressão de telespectadores deixou redes mais contidas e que o cinema e a internet mobilizam mais discussões
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A apresentadora Sônia
Abrão, da Rede TV!, que entrevistou ao vivo o sequestrador
da estudante Eloá Pimentel, ficou, em 2008, em quinto lugar
no ranking da baixaria na TV,
da Câmara dos Deputados. E
daí? Alguém ficou sabendo?
Lançada em 2002, a campanha "Quem Financia a Baixaria
É Contra a Cidadania" já fez
muito barulho ao divulgar listas de programas considerados
de baixo nível e pressionar seus
anunciantes. Hoje tem pouca
visibilidade e não causa mais a
mesma preocupação às TVs.
Acabou também a ONG
TVer, fundada em 1997 por
Marta Suplicy e outros profissionais de psicologia, comunicação e educação, que ganhou
holofotes ao bradar contra a
baixa qualidade televisiva. Será
que a TV brasileira passou a ser
inatacável ou as pessoas simplesmente não estão mais interessadas em discuti-la?
Nenhuma das hipóteses, para o sociólogo Laurindo Lalo
Leal, professor da USP e um
dos fundadores da TVer. Ele
apresenta na TV Brasil e TV
Câmara o programa "Ver TV",
que acaba de completar três
anos e trata de temas como "sexo na TV", "o negro é maltratado na TV?" e "o uso que os grupos fazem das concessões" .
"De fato, houve um certo refluxo na publicidade dos movimentos pela qualidade e controle da TV, mas eles continuam. Nesses três anos do programa "Ver TV", observei que a
sociedade segue crítica em relação à televisão e gosta de falar
sobre seu conteúdo", afirma.
Em sua opinião, o movimento, antes concentrado no barulho que as ONGs faziam, foi,
após essa pressão inicial, absorvido pelo governo, Congresso e
o Ministério Público (MP).
"Com isso, passamos a resultados práticos, como a nova classificação indicativa, que obriga
as TVs a colocar um selo com a
idade recomendada para os
programas, o projeto de lei que
restringe propaganda infantis e
ações do MP, como as que tiraram do ar Gugu e João Kléber."
Ele também acredita que a
programação da TV sofreu uma
"melhora sutil" em relação à
baixaria. "Mas ela é concentrada na programação nacional.
Nos Estados, especialmente os
do Nordeste, a TV é uma barbárie. E já existem movimentos
regionais importantes contra
essa baixaria", afirma Leal.
A antropóloga Esther Hamburger, chefe do Departamento
de Cinema, Rádio e Televisão
da ECA-USP, afirma que "a TV
perdeu espaço no debate público, com a queda de audiência e
o crescimento do acesso à internet, especialmente pelo público jovem". "A TV não traz
novidades e perdeu a capacidade de provocação. Isso não significa que a programação melhorou, mas que não tem tanta
repercussão", declara.
Para ela, "o cinema da retomada hoje tem mais visibilidade". "Filmes como "Tropa de
Elite" e "Ônibus 174" trouxeram à tona o tema da violência,
e a TV veio a reboque. Nos anos
80, era a televisão quem puxava
as discussões no país. Hoje ela
continua a ser muito consumida, mas não está mais ocupando esse espaço", avalia.
Em sua opinião, "a mobilização da sociedade contra a baixaria, alguns anos atrás, surtiu
efeito, e as TVs hoje têm mais
cuidado com o que exibem".
"Mas elas não precisam ficar
mornas por isso. Podem ser
provocativas sem baixaria."
Diante da queda "sutil" da
baixaria, a campanha antibaixaria da Câmara discute como
recuperar a visibilidade, conta
Ricardo Moretzsohn, representante do Conselho Federal
de Psicologia no movimento.
"O ranking da baixaria continua a ser o DNA da campanha,
mas ela hoje se insere em outros debates, por exemplo o da
publicidade para crianças, a de
bebidas alcoólicas e a Conferência Nacional de Comunicação, anunciada por Lula para
este ano, que discutirá a legislação da radiodifusão." São assuntos, diz Moretzsohn, com
"menos apelo direto". "Baixaria
todo mundo quer discutir".
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