São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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Prisa deve investir em rádio no país

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior grupo de comunicações da Espanha já escolheu seu próximo alvo no Brasil.
O Grupo Prisa, que no ano passado comprou por R$ 150 milhões a editora brasileira Moderna, vai investir em rádio assim que a emenda constitucional que permite a participação de capital estrangeiro em empresas de comunicação no país, já aprovada na Câmara dos Deputados, for votada no Senado, o que deve acontecer nas próximas semanas.
A afirmação é de Juan Luis Cebrián, principal executivo da empresa, que está em São Paulo para reuniões de empresários de comunicação ibero-americanos e para participar da Bienal do Livro.
"Estamos estudando a compra de algumas emissoras brasileiras. Queremos fazer uma rede panamericana de rádio e isso não é possível sem o Brasil", disse Cebrián, que é um dos fundadores do jornal "El País", do Prisa.
O eixo dessa cadeia continental de rádio, que já inclui centenas de emissoras por toda a América, é, e deve ser no Brasil, a música latina.
Cebrián qualificou o rádio brasileiro como um meio de "penetração enorme, mas muito fragmentado" e disse que a participação dessa mídia nos investimentos publicitários deve crescer muito além dos 5% a 6% atuais.
O investimento inicial do Prisa deve ser na ordem dos 30% do capital de emissoras brasileiras, teto permitido pela emenda.

Sociedade digital
O interesse dos espanhóis pelas rádios nacionais anda junto com a convicção de que o meio deve se transformar com grande rapidez.
Cebrián, que tem projeção internacional no estudo das novas mídias, tema de seu livro "A Rede" (publicado no Brasil em 99 pela editora Summus), fez previsões de mudanças radicais na comunicação mundial.
O executivo, que ontem faria a conferência "Informação, Educação e Sociedade" na Bienal do Livro, acredita que o papel deixará, com grande velocidade, de ser o suporte fundamental para as informações hoje reunidas em livros, revistas e jornais.
"Os jornais, tal como conhecemos hoje, não vão jogar mais o mesmo papel político fundamental em 20 a 30 anos", disse o originalmente jornalista para um pequeno grupo de repórteres, em um café da manhã ontem.
Antes disso, para ele, o papel deve ter sua importância muito diminuída na área editorial, sobretudo quanto a livros de referência, que já estariam adotando com força o suporte digital.
"Não há matéria-prima no mundo para que todos leiam em papel. Acabaria toda a Amazônia. O papel deve ficar restrito mais a livros de literatura e poesia", afirmou, salientando que o Prisa ainda não tem planos concretos de investimentos brasileiros nessas áreas, mas que estuda a opção.
Para fazer todas essas previsões, Cebrián diz que apenas espia pelo retrovisor. Ele exemplifica com o modo como o telefone celular ou o correio eletrônico explodiram na última década, saindo do zero.

Terror
O fato de o crescimento explosivo da internet ter sofrido breques abruptos nos últimos anos não influencia a crença do executivo de que viveremos muito rapidamente uma sociedade digital.
"Assim como na Revolução Francesa, a revolução tecnológica também tem a sua fase do terror, que é a que estamos vivendo agora. Também estão sendo cortadas cabeças, mas a revolução segue adiante", comentou.
"A mudança do sistema de conhecimento é irreversível. Em três anos, cinco no máximo, todo nosso conhecimento estará disponível em internet."
Ele afirmou que o Brasil participará desse processo com um papel privilegiado. "É um país relativamente avançado na rede. Comparativamente, é muito mais avançado que a Espanha", disse. "Basta citar a força do UOL, brasileiro, em um cenário no qual estão grandes grupos estrangeiros como o AOL e o Terra."
Cebrián disse acreditar no crescimento dos grupos de mídia hispano-americanos no cenário internacional, sobretudo por conta da explosão do espanhol como segunda língua em mercados como os Estados Unidos, mas lembrou que, ainda que somados, os cinco principais conglomerados de comunicação ibero-americanos ocupariam o 12º ou 13º posto no ranking mundial.
A crise na Argentina não diminui as esperanças do executivo. "Em chinês, o ideograma crise é o mesmo de oportunidade."



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